Saturday, March 11, 2006

08/03 e o Malleus Maleficarum


Dia das Mulheres. Não deveria ser dia das mulheres todos os dias? Ou serão os outros 364 dias do ano propriedade exclusiva dos homens?
Alguém me telefonou outro dia. Eu estava cozinhando, minha esposa instalando um aparelho de DVD. Sinal dos tempos. Não me importo, sou feminista assumido. Se pudesse seria eu o dono de casa. Acredito que um dia mulheres e homens serão plenamente iguais. Não só em condições sociais, mas a evolução fará com que também nossos corpos se pareçam mais. O futuro é andrógino. Chegará o dia em que esportes serão disputados nas Olimpíadas com homens e mulheres ao mesmo tempo. Com cérebros cada vez maiores, a gestação e o parto natural serão impossibilitados, e chegará o dia em que teremos criado úteros artificiais, e a mulher se libertará finalmente da responsabilidade biológica da maternidade, a barreira última da desigualdade. Mas divago.
Enquanto o futuro não chega, mulheres continuam a ser compradas e vendidas. Violentadas, traficadas, exploradas, espancadas, isoladas, ignoradas.
Na Índia, na China, no Afeganistão, no Irã, em todo o mundo muçulmano e em toda a América Latina.
Me lembro dessas pobres estudantes na Arábia Saudita, presas em uma escola por um incêndio. Queimaram vivas pois aos bombeiros, homens, não era permitido vê-las sem o véu e por isso não puderam entrar na escola.
Me lembro das indianas, um fardo para as famílias que têm que arranjar bons casamentos e ainda pagarem um dote para se verem livres das filhas o quanto antes.
Me lembro das chinesas com os pés deformados para que permaneçam tão pequenos quanto os homens apreciam. Das birmanesas e seus pescoços de girafa, esticados por anéis de metais. Quando cometem adultério os anéis são retirados, e essas mulheres morrem por asfixia já que não têem músculos que sustentem seus pescoços.
Me lembro das africanas mutiladas, e de outras apedrejadas.
Me lembro das escravas brancas do leste europeu, nas vitrines do Red Light District de Amsterdam. Me lembro de todas as latinas que apanham dos maridos em casa.
Me lembro das marroquinas forçadas a casar aos 12 anos com homens que nunca viram.
Me lembro de todas as bruxas queimadas pela Inquisição, sob a guarda do Malleus.
Mas me lembro também de Ayaan Hirsi Ali, uma somali que fugiu de seu país aos 22 anos para escapar de um casamento forçado. Refugiada na Holanda, renunciou ao islã e tornou-se deputada. Escreveu com Theo Van Gogh o filme Submissão. Por causa desse filme Theo van Gogh foi assassinado e Ayaan está ameaçada de morte, o que a torna ainda mais insolente, mais irônica e mais livre.
Talvez o que tenha mais feito sucesso no Livro The Da Vinci Code de Dan Brown tenha sido exatamente a sugestão de que devessemos voltar a adorar o sagrado feminino.
Eu já adorava antes e adoro ainda mais depois de conhecer Ayaan Hirsi Ali. Antes o Da Vinci Code do que o Martelo das Feiticeiras.

1 comment:

Anonymous said...

Alma, espero que o futuro andrógeno nunca chegue. Homens e mulheres são diferentes mesmo, e isso é muito bom. Não acha?
Beijos
Teresa