Saturday, March 11, 2006

Velas

Tenho jazz, velas e vodka. Esta é mais uma dessas noites solitárias onde meu pensamento voa longe. Não sei porque mas meu coração está gelado como o vento e o gelo lá fora.
Gosto de olhar as velas, como Rubem Alves. Não sei o que têm mas me atraem, convidam à reflexão. Com a vodka e jazz tento aquecer meu coração mas não há maneira.
Algo mais me falta. Materialmente me falta muito pouco, talvez alguns livros, um home theater e quem sabe uma ferrari. Intelectualmente me falta muito. Há tanta coisa que ainda não sei, tantos livros a ler, tantos quadros a admirar, tantas músicas a ouvir. Espiritualmente me falta um universo inteiro. Penso no texto de Peter Russell e tento ser otimista. Mas leio sobre as guerras, leio sobre Bush e seus acordos nucleares com a Índia, leio sobre corruptos sendo absolvidos no Brasil, leio sobre um homem que dá a volta ao mundo para visitar todas as lojas do Ikea (me lembro da regra do minuto, de que a cada minuto nasce um otário no mundo), leio sobre os 10.000 imigrantes africanos que aguardam uma travessia incerta entre a Mauritânia e as Canárias e volto ao pessimismo que me gela.
Não acredito em Deus. Não acredito por ser contra sua política. Como disse Calvin (o de Calvin e Hobbes), esse sofrimento todo é cruel ou arbitrário, e em todo caso angustiante.
Nunca pedi nada a Deus, ao menos nunca pedi nada para mim, talvez tenha pedido para outros. Imagino que ele tenha coisas mais importantes a fazer. Me lebro de uma frase de uma personagem de Steve Buscemi em The Island: “Quem é Deus? Sabe quando você pede muito para que uma coisa aconteça? Então, Deus é o cara que te ignora”.
Não acredito Nele mas faço o melhor para conseguir viver num mundo com menos sofrimento. Se Ele existe entenderá. Se não existe espero que meus filhos vivam em um mundo melhor que o meu.
Volto a olhar as velas queimando lentamente.

1 comment:

Anonymous said...

Já que você citou Rubem alves, te deixo um trecho do livro Coisas da alma,do citado autor:
Houve uma coisa dentro do meu bolso(o bolso seria o "eu") que não mudou. Não é uma idéia é uma aflição, uma pergunta....(). Percebi que a vida esá cheia de perdas....()...Tudo o que a gente ama vai escorrer pelo buraco do bolso...()...Acontece que nesse bolso mora uma outra coisa, uma chama que queima sem parar. O nome dessa chama é o "amor"....E a gente quer, entãoacreditar que de alguma forma as coisas amadas não estão perdidas. Estão só guardadas. Até Nietzsche, que disse que o velho Deus tinha morrido, tinha a louca idéia de que a vida é uma ciranda, e que tudo o que se perdeuhaverá de voltar. "Com Deus existindo tudo dá esperança... Deus é a esperança que o amor inventa para não perder a alegria...
é isso aí...