Tuesday, March 21, 2006

Meu chão e a economia da social democracia


Essa foto é do chão da minha cozinha. Eu que pus sozinho (mentira, tive ajuda da minha esposa e de amigos). Mas não tivemos coragem de chamar algum pedreiro holandês. Por 3 metros quadrados a fatura certamente seria acima do aceitável. Esse tipo de coisa se faz sozinho por aqui. Ou no máximo usando alguma mão de obra clandestina, e por isso sujeita a multa ou processo. A economia nos países desenvolvidos normalmente usa a receita inventada por Henry Ford no início do século passado: produto barato, serviço caro. O chão novo foi provavelmente mais barato do que me cobrariam para colocá-lo. Se eu não quero pagar eu mesmo devo fazer. Mas pelo menos, os pedreiros que trabalham na Holanda (ou na Alemanha, ou nos Estados Unidos) podem viver decentemente com o salário que ganham, assim como faxineiras, encanadores, pintores e outros prestadores de serviço, ao contrário do Brasil onde nossa mentalidade casa grande & senzala nos faz olhar nossas empregadas domésticas não como funcionárias ou trabalhadoras mas como algo mais do que uma escrava alforriada.
Já entre USA e Europa, a diferença está na visão que se tem da economia. Embora a receita de Henry Ford seja aplicada cá e lá, nos USA o trabalho é para ganhar dinheiro.
Na Europa, o trabalho serve para se viver. Um limpador de janelas, serviço comum na Holanda já que os holandeses adoram vidraças, já se recusou a limpar a minha. Da mesma forma, o dono de uma gráfica recusou à minha esposa encadernar um livro. A razão para ambas as recusas foram as mesmas: afinal eles já tinham clientes suficientes para garantir sua renda sem precisar trabalhar mais tempo. Esses são dois exemplos, mas na verdade os holandeses são péssimos em serviço de modo geral.
Todas as conquistas da social democracia e dos direitos trabalhistas são consideradas sagradas por aqui. Dominique de Villepin meteu a mão no vespeiro ao cometer o sacrilégio de propor a lei do Primeiro Emprego na França. Tentando fazer diminuir a alta taxa de desemprego entre os jovens, a lei propunha flexibilizar o processo de contratação de jovens por parte do empresariado, inclusive dando-lhes o direito de demitir sem justificativa que tivesse no contrato de primeiro emprego. O erro de Villepin foi ter tentado fazer a lei passar na marra. Sindicatos e estudantes agora promovem a baderna que se vê no jornal. O importante para eles não é baixar o desemprego, (como seria a idéia americana), mas garantir o direito de não ser despedido.
Quem estaria certo, USA ou Europa? Não sei, mas sei que enquanto a economia européia patina a americana decola.

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