Thursday, April 13, 2006
Guernica
Vi esse quadro de Picasso estampado hoje em uma página do El País. Guernica como o próprio Pablo Picasso o definiu é un “cuadro herido”. O quadro em si tornou-se uma obra-prima cubista, um ícone do século XX. Foi inspirado no bombardeio da cidade basca de Guernica por esquadrões nazi-fascistas durante a Guerra Civil Espanhola em 1937.
Foi a primeira ação militar conjunta de alemães e italianos, e foi a primeira vez em um bombardeio teve por objetivo a destruição e morte de civis inocentes. Ver essa pintura é escutar os fantasmas de Guernica gritando dentro de nossas mentes.
Vejo outra notícia no jornal Le Monde. Traz a transcrição da conversa que aconteceu no vôo 93 da United Airlines, aquele que se espatifou na Pensilvânia no 11/09/2001. Trecho:
- We just, we didn’t get it clear. Is that United 93 calling?
- Jassim
- In the name of Allah, the most Merciful, the most Compassionate
- Finish, no more, no more
- No, no, no, no. No
- No, no, no, no...
- Go ahead, lie down. Lie down. Down, down, down...
- There is someone? Huh?
- Down, down, down... Come on, sit down. No, no, no, no...
- Down, down, down...
- Down
- No more
- No more, down
- Please,please, please...
- Down
- Please, please, don’t hurt me
Horror em forma de áudio.
Leio no Globo a notícia sobre a entrevista de Suzane Richtofen. Por coincidência vejo que quem comandou o bombardeio a Guernica foi Wolfran von Richtofen, parente distante da assassina brasileira.
Existem feras em todos nós. Uma besta aprisionada por séculos de civilização mas que volta e meia ainda se liberta e volta a nos assombrar.
Às vezes essa besta quer se disfarçar, usar a fé como desculpa como no vôo da United, ou uma ideologia como em Guernica, ou simplesmente quer se desculpar usando psicologia barata de revistas femininas, como no caso de Suzane Richtofen ou daquela mãe que atirou o filho na lagoa da Pampulha. Querer tirar de si a culpa dos respectivos crimes e dizer que fizeram o que fizeram por outros motivos, sejam eles o imperialismo americano, a droga, a política ou o que for.
Um crime é um crime, e atentar contra a vida de inocentes é o pior deles.
Civilização existe para que possamos domar essa fera primordial que existe em nós, e acredito que somos muito melhores hoje com civilização e vida em sociedade do que sem ela.
De qualquer maneira ainda vivemos em um mar de sofrimento que todos os dias testemunho nos jornais. Definitivamente ainda há um longo caminho a ser percorrido, e confesso que perco minha fé às vezes se um dia chegaremos lá.
Minha mãe outro dia puxou-me as orelhas justamente por ter deixado de acreditar em Deus. Contou-me uma história contada a ela por um padre jesuíta.
A história é sobre uma formiga minúscula que caminha sobre uma imensa toalha de renda. A formiga só enxerga buracos e nós pelo caminho, e por isso reclama sem parar da feiúra e da dificuldade de se caminhar por ali. Por ser minúscula não consegue ver a beleza do desenho formado pela renda. A metáfora serve para explicar que nós não conseguimos enxergar a complexidade da obra de Deus dada a nossa ínfima visão de conjunto.
O dia em que domarmos a besta será provavelmente o dia em que conseguiremos finalmente enxergar direito, e os fantasmas de Guernica ficarão presos só a um quadro.
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1 comment:
Sensacional!!!
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