Wednesday, April 19, 2006

Normandia


Minha viagem pela Normandia começou em Honfleur.
Esse antigo porto Normando é de onde saíam a maioria dos corsários franceses que saqueavam a costa brasileira em busca de pau-brasil. A madeira, usada como corante era levada de Honfleur para Rouen, tradicionalmente o berço da indústria têxtil francesa. A cor púrpura do tecido tingido com pau Brasil aparentemente estava na moda naquela época. O próprio nome do pau-brasil, ou Brésil viria do termo francês braise (brasa), para designar a cor da madeira. Houve ainda a história de um chefe indígena brasileiro, aliado dos franceses, que impressionado pelo poderio das armas de fogo decidiu enviar seu filho à França para aprender a fazer canhões. Depois de naufragarem e serem resgatados, o índio e seu protetor francês finalmente chegaram a Honfleur. O índio nunca mais voltou ao Brasil, casou-se e viveu o resto da vida como um respeitado cidadão da cidade. Estas histórias estão no excelente livro ‘‘Náufragos, Traficantes e Degredados’’ de Eduardo Bueno.
Honfleur é hoje uma cidadezinha frequentada por muitos turistas, na maioria ingleses, cheia de ateliês de arte e restaurantes e com um belo casario antigo.
De lá segui pela chamada Côte Fleurie, beirando o canal da Mancha. A paisagem é muito bonita, marcada pelas fazendas de maçãs e pelos pastos ocupados pelas vacas normandas, pintadas de marrom e branco.
Por essa estrada chega-se às praias do desembarque do Dia D, Sword, Juno, Gold, Omaha e Utah Beach. As lembranças da guerra estão em todos os lugares. Tanques, casamatas alemãs, cemitérios…O cemitério americano em Omaha Beach é a visão mais impressionante do lugar.
De lá pode se ir até o Monte Saint Michel, ponto final da minha viagem e fronteira entre a Normandia e a Bretanha.
O mosteiro erguido sobre o Monte Saint Michel, ‘‘La Merveille’’ é um dos cartões postais mais conhecidos da França e ponto de peregrinação para católicos. Segundo a lenda foi o próprio arcanjo São Miguel que convenceu o bispo Aubert de Avranches a erguer uma igreja sobre o rochedo, consagrada ao santo no ano 709. Situado na baía onde desaguam o Sena e outros rios, o monte antigamente só era ligado ao continente por uma ponte natural durante a maré baixa.
A maré chega a subir 12 metros na ‘‘velocidade de um cavalo a galope’’. Vários peregrinos e turistas já perderem a vida surpreendidos pela maré ou presos nas areias movediças que circundam o monte.
Na maré baixa são os carneiros que ocupam o pré-salé, os campos ao redor da baía.
Quem for tem que experimentar os pratos com frutos do mar, as galettes ou crêpes salgados e é claro um sauté d’agneau feito com o carneiro criado ali ao pé do monte e tudo acompanhado de uma cidra das fazendas de maçã da Normandia, e um trago de Calvados para finalizar !

1 comment:

rendadebilros said...

bem pensado...bem escrito!