Friday, August 11, 2006

Iberia


Deve ser o sangue latino, mas depois de viver no norte da Europa tanto tempo, qualquer lugar mais ao sul de Paris nos traz de volta algum calor humano. Por isso gosto tanto de passear por Portugal, Espanha, Itália e até a Grécia.
Você pode visitar a Holanda ou a Suécia e achar a paisagem linda, visitar Londres ou Bruxelas mas apesar da beleza das cidades e campos falta alguma coisa.
Faltam aquele tumulto na padaria, aquela buzinada na esquina, aquela gritaria na rua à noite, as risadas nos bares, os velhos na praça. Latinidades enfim.
Mas desses países pelos quais já passei, tenho alguma especial predileção pela Espanha. Não sei se o caso é só comigo, mas há algo de mais no reino da península ibérica. Ainda tenho que ler o belo livro de James Albert Michener, Iberia, para redescobrir nas letras o que vi em minhas viagens.
Estive na Plaza Mayor em Madri, visitei os túmulos dos reis no Escorial, entrei na Basílica de Los Caídos enterrada na montanha, tomei café em Segóvia ao lado da Igreja onde Isabel, a Católica foi coroada Rainha de Castela, vi as muralhas de Ávila e o convento de Santa Teresa, conheci o tesouro da Catedral de Toledo. Em outras viagens estive na Catedral de Santiago de Compostela, fui ao Alcazar de Granada, vi as antigas mesquitas de Sevilla e finalmente a Catalunha, tão modernista e tão diferente do resto. Vi a Sagrada Família eternamente em construção,andei pelas ramblas, visitei o mercado da Boquería, a casa Batló e o Palau de la Musica de Catalunya. Ir de Castela à Catalunha é como ver Goya, Velazquez e El Greco no Prado e depois ir ver Picasso, Miró e Gaudí em Barcelona. Em Barcelona, um planfeto separatista no metrô dizia “Catalunya no es España” pedindo a separação. Embora não veja nenhum sentido na separação, concordo em aceitar a diferença. Enquanto tudo em Castela nos remete ao seu tremendo passado, Barcelona faz olhar para o futuro, e basta uma fachada de Gaudí para perceber isto.
Mas Espanha como um todo é diferente. Diferente porque nos dá vontade de deixar essa miserável condição de turista para sermos parte daquilo. Quero a vida com siesta depois do almoço, quero os bares de tapas e vinho de rioja. Quero aplaudir o balé da morte nas touradas, ver o sangue na areia, o sol escaldante e a capa e a espada. Quero ouvir o violão flamenco e o sapatear da dança. Quero sentir enfim o peso dessa cultura imensa de arte, música, guerra, catolicismo, boa mesa, hombres de honra e mujeres orgulhosas. Pero como dizia uma camiseta em Madri: “Joé, que caló! (expressión utilizada por los madrileños cuando les apreta el calor)”.
Viva España!

1 comment:

Laura_Diz said...

que lindo post. Pena que vc só tem 31 anos... hihihi