Monday, August 21, 2006

O Dilema Tostines da Imigração


Os imigrantes muçulmanos (e em geral) na Europa não se integram porque não são aceitos ou não são aceitos porque eles mesmo se isolam em guetos?
Ou uma pergunta mais importante ainda, porque a Europa está produzindo terroristas em seu próprio solo, filhos ou netos de imigrantes enquanto isso não acontece por exemplo nos Estados Unidos ou no Brasil?
De fato, os presos suspeitos de envolvimento no complô para explodir aviões na semana passada eram todos britânicos de ascendência paquistanesa.
Bem, o que sabemos é que o isolamento dessas comunidades em guetos é o que provoca sua radicalização, pelo menos na Europa.
Há um ou dois anos um programa de TV holandês gravou com uma câmera escondida alguns Imans pregando em mesquitas nas periferias das grandes cidades holandesas. As imagens provocaram escândalo ao mostrar pregações que incitavam os muçulmanos a não aceitarem trabalhar para holandeses, ou a aconselhar os homens a baterem de vez em quando nas mulheres como forma de aprendizado.
As revoltas das cités parisienses em finais de 2005 mostraram algo parecido. Há alguns anos atrás motins parecidos aconteceram em Almeria na Espanha e em cidades inglesas.
Há uma primeira diferença entre Europa e os EUA. Os muçulmanos na Holanda representam 5.6% da população, na França são entre 8 e 9% e na Alemanha e Inglaterra em torno de 3%. E toda essa porcentagem está frequentemente isolada em guetos nas grandes cidades como Haia, Bruxelas, Londres, Paris e Marselha. Nos EUA, os muçulmanos são menos de 1% da população, e isso em um país enorme.
Essa diferença é apontada por Peter Skerry que escreve um artigo na Time intitulado “The American Exception”.
Mas para Skerry, a diferença principal reside no fato que a liberdade religiosa é mais respeitada nos EUA. Os muçulmanos além de terem mais liberdade têm também a possibilidade e os meios de se organizarem em grupos para defenderem seus direitos e para tocarem seus próprios institutos de ensino e estudo da religião.
Eu me permito discordar de Skerry. Vivendo na Holanda, vizinho de uma mesquita e rodeado de marroquinos sei do que estou falando. Liberdade religiosa nunca foi o problema por aqui, apesar do Papa querer enfiar lá na Constituição Européia uma cláusula qualquer mencionando uma tradição cristã. O problema ao meu ver é outro, ligado ao modus operandi da economia européia.
Não importa o quanto um imigrante se esforce, ele nunca vai passar do ranking de operário ou no máximo dono de uma vendinha no gueto. Não existe um European Dream como existe um American Dream.
O Google foi fundado por russos, E-bay por um iraniano, Juniper Networks por um indiano. São todos milionários. Uma mulher indiana recentemente naturalizada americana foi nomeada presidente da Pepsico. Na Europa isso seria impensável, o que até os intelectuais europeus como Jacques Attali reconhecem.
Os americanos tem isso de bom. Não importa o quão racistas sejam os legítimos WASPS, na economia racismo não funciona. Aliás, até na zootecnia o exemplo dá certo (estudei isso na faculdade de agronomia, acreditem). Um fazendeiro americano não liga se uma vaca for roxa de bolinhas amarelas desde que produza cinquenta litros de leite por dia. Para um inglês ou um francês, se uma vaca não se encaixar no padrão da raça e tiver uma orelha um centímetro maior do que a outra ela é descartada, não importa o quanto produza, só para se manter a classe.
Os imigrantes se isolam porque foram barrados no baile da economia. Não existe American Dream na Europa. Eles sempre serão cidadãos de segunda classe, e por isso se recusam a deixar o isolamento.
O European Dream dos imigrantes que chegam aqui é fugir da miséria na África para viver no gueto como se ainda estivessem em casa e recebendo subsídios do governo. Um imigrante nunca será milionário ou dono de empresa na Europa. E isso, na cabeça da molecada que nasceu em uma sociedade de consumo dá tilt.
E no Brasil? Bem, o Brasil foi o único lugar em que vi um árabe casado com uma judia, isso já diz quase tudo.

4 comments:

Anonymous said...

Imigrantes se isolam - e são isolados - desde que o mundo é mundo. Temos estrangeiros em várias cidades brasileiras que só falam a própria língua e interagem com o próprio grupo onde encontram elementos de sua cultura de origem, apesar de toda a cordialidade dos brasileiros para com os estrangeiros.
O mesmo acontece com estrangeiros nos Estados Unidos, vide o caso de colônias judaicas, italianas e latino americanas. Na Arábia Saudita, estrangeiros vivem em condomínios cercados por seguranças e muros de prisão.
Isso é comum. Preconceito existe por parte do estrangeiro e por parte do cidadão do país. Confesse: quantas vezes vc não aponta os erros dos holandeses apesar de viver aqui, ter uma vida boa e se beneficiar do sistema?
Não é preciso ser de outro país. Nordestinos foram relegados aos guetos no sudeste e sofreram isolamento e discriminação. Na minha opinião o que gera a violência é o "background" da pessoa. Quando ela aprende que só através da violência é que problemas serão resolvidos.
O preconceito sempre vai existir, no mundo todo. Quando pessoas sofrem invasão de seu território a ponto de colocar seus direitos em risco dentro da própria casa, a reação é mais que natural. De certa forma cabe a quem chega tentar não se impor sobre o que já lá vive e se tornar um pouco mais maleável.
São, indubitavelmente, questões sem solução. Mas confesso que particularmente não gostaria que ninguém - e eu quero dizer NINGUÉM - invada a minha casa porque é considerada melhor que as outras e venha me dizer o que fazer e ainda protestar do meu descontentamento.
Paula

Anonymous said...

Bom é estranho ler tudo isso o que o fernando escreve e o que o comentarista escreve, me faz pensar, que no fundo, no fundo, nós somos extremamente egoístas, porque é difícil, aceitar aquele que difere de mim, ah, a superfície as vezes esconde o que tem de mais profundo... não acredito que é preciso sermilionário, não gostaria que existissem guetos, nem favelas, no entanto, o que vemos...

Anonymous said...

Cara Cristiane,

Eu também não gostaria de nada disso. Mas é mais fácil dizer do que fazer.
Eu reconheço o valor da ideologia - ela é de fato importante para o mundo. Mas falando de realidade, e não do que seria ideal não só para vc, mas para todos, é importante que quem chega se adapte às regras da casa. Não falo de conversão de valores. Quanto à isso sou contra. Falo de tolerância e respeito por quem construiu tudo o que agora os imigrantes desfrutam nos países que eles escolheram (observe que não foi imposição, mas ESCOLHA)viver.
Paula

Anonymous said...

Cara Paula, (muito formal), confesso que não gosto não (rs)
Olha só, não julgo,nem quero,(concordo plenamente que é muito mais fácil dizer do que fazer (eu me enquadro nisso) mas quem era o "dono", do antes, do antes, antes, antes...antes, do sem fim, meio que a história o que vem primeiro o ovo ou a galinha, cada um tem sua cultura, todas as mudanças são "traumáicas", para quem recebe, para quem vai, me faz pensar até no próprio casamento, aquela coisa mínima, que nos primeiros meses é um desastre, conheer o outro, estabelecer regras, num país a coisa se amplia né, bem mais, bem mais complicado, mas também passa pelo ego, eu também sou assim..
Mas quem vem tem escolha? Não é de se pensar?