Tuesday, November 06, 2007

Uruguay


O Uruguai é verde. Entrei no país pelo norte, voando até Rivera e Tacuarembó, que descobri ser a terra natal de Carlos Gardel. Logicamente todo mundo pensa que o rei do tango é argentino mas não é, é uruguaio. Por ali viaja-se entre campos e colinas todas verdes, aqui e ali algum bosque de eucaliptos, lagoas e arroios, casinhas brancas com telhado de zinco ou palha, roupa no varal, e muitas vezes um calhambeque velho estacionado ao lado de um cavalo pastando. Há uma pobreza sim, mas não uma pobreza agressiva como vemos no Brasil com suas favelas e esgotos a céu aberto. A sensação de espaço, o verde e a tranquilidade fazem pensar que alguém ali pode levar uma vida melhor do que muita gente na periferia de Amsterdam ou Londres.
Dos 3.5 milhões de habitantes do Uruguai, metade está em Montevideo e no departamento de Canelones que cerca a capital. O resto do país parece uma imensa fazenda, com algumas vilas espalhadas que me lembram de certo modo o interior de São Paulo da minha infância. A Holanda é quatro vezes menor e tem 16 milhões de habitantes para se ter uma idéia. Mesmo em Montevideo a gente é tranquila, o transito flui sem buzinas e xingamentos, o povo passeia pela rambla à beira do Plata tomando chimarrão, pescando, passeando ou namorando. É praticamente impossível encontrar um uruguaio nervoso ou irritado, exceção feita aos jogadores da seleção em tempos de Copa.
Montevideo é uma cidade simpática, mas os turistas na verdade preferem o glamour de Punta del Este. O centro da cidade tem ainda alguns edifícios antigos que lembram Madri e Paris. Ali, perto da Plaza de la Independencia com a majestosa estátua de Artigas, estão o Palácio do Governo, o Teatro Solis, e a Porta da Cidade que separa o centro velho da parte nova. Ali na parte velha estão os bares e restaurantes que fazem a vida noturna de Montevideo nos fins de semana. Passando pela Matriz chega-se ao Mercado, onde come-se muito bem, e aos velhos prédios da Alfândega, da Estação Ferroviária. Finalmente chega-se ao Porto de onde se vêem ainda as pontas dos mastros do Graaf Spee sobre o Plata, um navio de guerra alemão afundado pelo próprio comandante no fim da Segunda Guerra. Cercado pela marinha inglesa e impedido de aportar em Montevideo e Buenos Aires, o comandante preferiu abrir um rombo no próprio casco a entregar o navio aos inimigos.
No lado novo da cidade, em direção ao leste, estão os prédios modernos, shoppings e os edifícios à beira do Plata que lembram a orla do Rio de Janeiro, e mais além as mansões em estilo inglês do bairro de Carrasco.
De Montevideo passeei pelo interior do país, chegando até Colonia, onde desde os princípios do século passado instalou-se uma importante comunidade de suíços. Almocei em um hotel suíço, kassler (lombo de porco defumado) com molho de geléia de laranja e batata suíça, e um excelente vinho uruguaio Carta Mayor. Esta foi a única exceção na minha dieta de churrasco da semana passada. Na verdade acho que comi mais carne em uma semana do que um holandês como no ano. Comi tanta carne que quando voltei fiquei dois dias inteiros sem comer carne...o que para mim, carnívoro convicto, é praticamente um jejum. É impossível imaginar a vida no Uruguai sem carne, e sei que vou apanhar por isso mas brasileiros, à exceção dos gaúchos, não sabem fazer churrasco como eles fazem.
Os cortes que eles preferem são a ponta do contra-filé, a maminha da alcatra e o assado, uma tira cortada da costela, acompanhadas de molho chimichurri feito à base de azeite, alho e salsinha. Suculento, macio saboroso, muito melhor do que aquelas tirinhas de carne finas, secas e salgadas que temos que encarar muitas vezes no Brasil. A carne é assada em brasa de lenha, que é queimada à parte e transferida para baixo da grelha. E comi muita costelinha de carneiro assada. Fora a carne, os uruguaios sabem aproveitar algumas coisas bem estranhas no churrasco. Eu experimentei por exemplo os rins assados, as molejas (gânglios linfáticos dos bezerros), o choto (intestino grosso do carneiro enrolado com tripa) e o chinchulín (intestino grosso do boi assado). E comi morcela feita de sangue, a salgada e a doce, que tem açúcar e pedaços de doce de laranja no meio. Quer saber? O pior é que é tudo muito bom…Para mim não há nada melhor do que céu azul, campo verde, ver os bois ao longe passeando nos pastos, carne boa, vinhos bons, gente simpática e tranquilidade. Sinceramente uma terra encantadora, espero voltar logo.

5 comments:

Miguel Cavalcanti said...

Muito bom Alma, bem legal o artigo.

Abraços, Ribamar

PS: dica para ficar mais facil ler: coloque 2 ENTERs entre os paragrafos, para facilitar pular de um paragrafo para o outro.

Lelec said...

Olá Fernando,

Parabéns pelo belo texto sobre esse país que ainda não conheço, mas pelo qual tenho um apreço carinhoso.

Só não gostei de ler sobre as carnes... É covardia! Aqui em Paris, nada me faz tanta falta quanto a carne sulamericana. Não se come carne boa na Europa. Assim como você, sou um carnívoro "invertebrado" (como ouvi certa vez).

Quanto à pobreza que você viu no Uruguai, fez-me lembrar do que vi em certas cidades do interior de MG: há pobreza, não há miséria. Há pessoas com vidas humildes, mas não vidas indigentes. A miséria da cidade grande é mais cruel.

Abraço e, mais uma vez, parabéns pelo texto.

Lelec

Anonymous said...

Hoi Fernando,

Leuk je artikel, ook de foto's heb ik bekeken van de reis. Mooi dat ik nu wat weet of Uruguay dan kunnen we ook een keer daar gaan kijken.

Ciao, abraço.

Rogier

Alvaro Ferreyra Mendez said...

Felicitaciones, sabes escribir muy bien. Soy Uruguayo, vivo en Brasil y me gustó mucho la descripción que hicistes sobre mi "paisito" como le decimos cariñosamente. Me gustó tanto que tomé prestado tu texto junto con la dirección de tu blog y se lo envie a muchos amigos y conocidos brasileiros que aún no se animaron a conocer Uruguay, o se piensan que Uruguay y Paraguay son la misma cosa. Muchas Gracias

Alma said...

Gracias Alvaro! Me encantó el paisito!
Viste las fotos?
Un abrazo,
Fernando