Monday, January 28, 2008

Banned Frank


Arte em si não precisa ter uma razão para existir. Nietzsche desconfiava que os gregos antigos tinha criado uma arte maravilhosa como uma espécie de camuflagem para os horrores da existência, o que é exatamente o que penso ser o objetivo da arte e da cultura em geral. Por isso acho que arte engajada é completamente desprovida de senso. Os artistas modernos e suas "instalações" produzem em grande parte uma pseudo-arte cuja única causa é o egocentrismo do autor, e cujo valor é dado pelo o grau de atenção que atrai.
Estes dias um desses artistas modernos e engajados, um holandês metido a Bansky, anda divulgando um print de uma imagem de Anne Frank com uma keffiah palestina enrolada no pescoço. O "artista" conseguiu seus quinze minutos de fama, ainda mais porque a galeria on-line que vende suas obras é de Birgit Schuurman, atriz/cantora/bisca holandesa, irmã de Katia Schuurman, outra famosa com os mesmos predicados. Todos fazem parte daquele mundinho pop-cult-jet-set tipo propaganda de Free.
É óbvio que associar um ícone do Holocausto como a imagem de Anne Frank com o símbolo da intifada palestina embrulharia o estômago de qualquer um com cérebro. Trata-se de associar o genocídio de um povo com um conflito atual completamente diferente relembrou um irado embaixador israelense na Holanda falando na televisão.
Mas Birgit diz que a obra é para ''fazer refletir''. Não importa que ofenda a memória de Anne Frank e de outros seis milhões de vítimas judias do nazismo.Não é arte, é provocação de uma cabeça oca e vontade de chamar a atenção em um mundo onde atenção é tudo o que conta.
Estes dias, a prefeitura de Amsterdam, a Fundação Anne Frank, a Fundação pelas Árvores e vizinhos da casa de Anne Frank entraram em acordo para salvar a castanheira de 150 anos mencionada tantas vezes em seu diário. A árvore, já não se aguenta em pé mas será preservada pelo menos pelos próximos dez anos.Como se vê, há quem preserve memórias, e há quem as ofendam. Artistas deveriam estar no primeiro time.
A 27 de janeiro de 1945, tropas soviéticas liberaram o campo de extermínio de Auschwitz. Este foi o dia escolhido pela ONU como dia da Memória pelo Holocausto.

4 comments:

deboraHLee said...

Puxa, Fernando, apesar de eu não ser judia, tenho uma ligação fortíssima com o holocausto, por razões que, neste momento, não vem ao caso explicitar e, mesmo me sentindo muito concernida por este tema, não vi, sinceramente, nenhum tipo de ofensa ou de desrespeito às vítimas do holocausto na "obra".

Primeiro, porque não foram os palestinos ou aparentados que foram os responsáveis pelo Holocausto e, conseqüentemente, pelo martírio de Anne Frank. Logo...

Depois, que, se houve provocação, ela não se dirige, certamente, ao povo judeu, mas ao Estado israelense e/ou a líderes radicais israelitas que, convenhamos, vira e mexe, têm atitudes tão cruéis e racistas quanto os nazistas - vide o episódio envolvendo os judeus etíopes que tiveram seu sangue recusado para doação por não serem judeus 'A.O.C.'... Isso, sem falar na própria discriminação que existe entre muitos que acreditam que os judeus ashkenazi seriam mais 'puros e inteligentes' que os sefaradi. Criticar o governo israelense ou radicais israelitas não é criticar os judeus - e tanto isso é verdade que existe oposião em Israel. Amém!

E em relação à Palestina, negar que o Estado de Israel também martiriza inocentes, assim como foi martirizada Anne Frank pelos nazistas, seria hipocrisia.

Eles podem justificar como queiram alguns atos vis e cruéis que cometem contra civis e crianças, mas isso não muda a natureza da crueldade. Até porque, justificativa por justificativa, os nazistas tbém tinham as deles, os terroristas islâmicos têm as deles, o Zé Dirceu tem as dele...


beijo.

Alma said...

Déborah,
Obiviamente o artista queria dizer que o que os israelenses fazem na Palestina é igual o que eles sofreram, o que é uma grande mentira, uma ofensa e uma provocação sim.
Eles podem ter lá suas idiossincrassias culturais mas na verdade Israel é a única democracia naquelas bandas, onde todos os cidadãos tem seus direitos inclusive etíopes, árabes, mulheres, homossexuais. Os palestinos estão sofrendo pela própria estupidez de seus líderes. Veja Gaza, de onde os israelenses tiraram à força seus colonos. Está na mão dos palestinos e o que eles fazem? Despejam uma chuva de foguetes em Israel...Sinto muito mas não estou com você nessa.

deboraHLee said...

Acho que já divergimos algumas vezes, né, Fernando? Acho isso natural e muito bem-vindo. E o que realmente conta é a convivência pacífica nas divergências. Agradeço a vc. por me deixar me manisfestar por aqui, mesmo quando minhas idéias não vão ao encontro das suas.

No que se refere a esta temática em especial, eu busco ver, acima das 'nações', Fernando, os seres humanos - e crianças mortas sempre me incomodarão, estejam elas do lado que estiverem. Não defendo os palestinos, muito menos os israelenses. Defendo o direito à vida, à brincadeira, à educação, aos sonhos. E ver vidas tão novas serem ceifadas pela ignorância teimosa e mútua de dois povos que jamais se entenderão me tira do sério.

Em relação a Israel ser a única democracia por aquelas bandas, concordo, mas com resalvas. De fato, é uma democracia, mas isso não pode justificar certas atrocidades. Assim como o holocausto não deve justificar a continuidade do terror, mas no lado oposto. Senão, fica parecendo aqueles psicopatas que, abusados na infância, decidem fazer o mesmo quando adultos, com outros inocentes.

Deveria haver algum tipo de 'tearpia das nações', não?
;o)

beijo, Fernando.

Lelec said...

Bem, não vou entrar na discussão árabe-palestina... Mas concordo com o Fernando: os herdeiros do dadaísmo são uns chatos de galocha. Desde que Duschamps pôs o bigode na Mona Lisa, um monte de pseudo-artistas repete o mesmo gesto iconoclástico, mas em diferentes personalidades. Agora foi a Anne Frank. Não há nada novo nessa arte, nada de original.

Abração,

Lelec