Monday, January 14, 2008

Elizabeth, the Golden Age


Em um grande momento do filme Elizabeth, the Golden Age, Felipe II, o imperador espanhol aparece refletindo consigo mesmo “Eu sou a luz, Isabel é a obscuridade”. Enquanto isso, a fotografia deixa ver exatamente o contrário. Felipe tem uma figura sinistra, sempre vestido de negro e andando encoberto nas sombras do Escorial acompanhado de sua esposa criança e do seu séquito de bispos, enquanto Elizabeth aparece como um sol fulgurante na Inglaterra com sua aura de deusa virginal, maquiagem, jóias, cabelos e vestidos.
O filme começa em 1585, 26 anos após sua coroação como Rainha da Inglaterra. O Império Espanhol era então a maior potência econômica e militar do planeta. Felipe II, tendo herdado e ampliado o império de seu pai, Carlos V, reinava sobre a Espanha, Áustria, Nápoles, os Países Baixos e sobre Portugal onde nasceu e foi criado. O futuro imperador usava o português como língua materna, e só se mudou para Madrid dois anos após a morte de seu pai. Seus domínios se estendiam ainda sobre grande parte do Novo Mundo incluindo o Brasil, o Reino de Jerusalém e ainda territórios na África e Ásia (as Filipinas chamam-se assim em sua homenagem).
Tendo derrotado os turcos otomanos no mar e ganhado o domínio do Mediterrâneo, a Espanha e os estados Papais formam uma aliança para declarar uma Guerra Santa contra o protestantismo que se espalhava pelo norte da Europa.
Enquanto isso Elizabeth se encanta com o pirata Walter Raleigh, inventor do famoso e cavalheiresco gesto de jogar a capa sobre uma poça de lama para a rainha passar. Nisso o filme pode ter exagerado, já que Elizabeth nessa época teria mais de 50 anos e fosse improvável que Walter se encantasse por ela.
Elizabeth enfrenta ainda dentro da própria Inglaterra uma rede de complôs católicos que querem levar ao trono Mary Stuart, a católica rainha da Escócia, mantida em prisão domiciliar por suas ordens. Mary Stuart é filha de Mary de Guise, que no primeiro filme morre envenenada também por ordem de Elizabeth, hipótese historicamente não confirmada.
No filme, são jesuítas espanhóis que desempenham o papel de agentes infiltrados da Espanha para armarem os complôs contra Elizabeth, complôs prontamente desbaratados com métodos pouco cristãos por Sir Walsingham, o famoso spymaster da rainha, visto hoje como o maior e melhor ancestral dos modernos serviços de inteligência e espionagem.
Mary Stuart termina seus dias decapitada por ordem de Elizabeth, elegante até o fim e vestida de vermelho, a cor do martírio para os católicos. A morte da rainha escocesa é o motivo que Felipe II esperava para poder lançar ao mar sua Invencível Armada, esperando conquistar a Inglaterra pela força.
Historiadores acreditam que o motivo mesmo da invasão foi a ajuda que a Inglaterra dava aos rebeldes holandeses que lutavam contra os espanhóis. Aliás, William de Oranje (Vader der Vaderland, ou o pai da pátria para os holandeses) foi assassinado por um fanático católico, talvez quem sabe, a mando de Felipe II.
O fato é que quando os ingleses se preparavam para o pior, a Invencível Armada, cujos navios eram grandes demais para fazerem porto, foi detida por uma tempestade na costa inglesa e massacrada pelos menores e mais ágeis navios ingleses, um episódio visto pelos ingleses como justiça divina, e pelos espanhós como punição pelo pecado da soberba.
Elizabeth, The Golden Age pode repetir a fórmula do primeiro filme trocando o episódio da coroação pela derrota da armada, Robert Dudley por Walter Raleigh e Mary de Guise por Mary Stuart, mas o resultado é tão bom quanto foi o primeiro filme. Este vale ainda mais a pena só pelas interpretações remarcáveis de Jordi Mollà como Felipe II, Cate Blanchet como Elizabeth, Clive Owen como Walter Raleigh, Geoffrey Rush como Walsinghan e Samantha Morton como Mary Stuart.

2 comments:

i said...

Estou louco pra ver esse filme. Dizem que a cena da batalha naval é inesquecível.

deboraHLee said...

Valeu a dica, Fê.
Gracias.