Saturday, January 26, 2008

A insana política européia


Geralmente não falo do meu trabalho neste blog, já que um dos seus objetivos é justamente me fazer esquecer do trabalho. No entanto, quero refletir sobre uma certa mentalidade que vem dominando de forma nefasta a burocracia européia.
Vamos ver, a Europa desde a Segunda Guerra Mundial desenvolveu uma Política Agrícola Comum a fim de garantir alimento a todos os seus habitantes, algo muito louvável. Com o passar dos anos, a agricultura européia passou a produzir excedentes, e a PAC se tornou uma máquina de subsidiar uma agricultura que não tinha mais como competir no mercado internacional com países como Brasil, Austrália, Canadá, Argentina etc, o que vale para commodities agrícolas como grãos, carnes e etc. A Europa defende seus agricultores então de dois jeitos: se um produto agrícola europeu é vendido para fora da União, com um preço mais baixo, Bruxelas restitui a diferença. Se um produto agrícola de fora da União é importado aqui, Bruxelas taxa a importação.
Assim, resguardados da competição, agricultores europeus se tornaram viciados em subsídios, e embora representem 6% da população consomem um terço do orçamento europeu. O que força o resto do mundo, como o Brasil, a ser mais eficiente na produção de commodities. Quando a barreira comercial não é suficiente, inventam-se motivos relacionados a área da saúde e de proteção ao consumidor. A recente disputa entre Brasil e Europa na importação de carnes é que vem perturbando meu trabalho.
Por outro lado, a Comissão Européia virou uma máquina burocrática que quer regular a vida de seus cidadãos nos mínimos detalhas com a desculpa que é para seu próprio bem. A cada dia saem novos regulamentos sobre cigarro, bebidas, teor de gordura de alimentos, como se cada cidadão fosse absolutamente incapaz de decidir o que quer ou não consumir, algo descrito com humor por João Pereira Coutinho em uma coluna na Folha de S.Paulo em novembro passado. Dizia o articulista português que no curto prazo, metade da sua dieta estaria proibida por um burocrata qualquer: “Já imagino esse dia bem triste, e bem civilizado, em que sairei de casa com gabardine e óculos escuros, disposto a comer, numa catacumba qualquer, os pratos que a minha avó fazia na maior das inocências.”
A Europa está infantilizando seus produtores agrícolas, incapazes de sobreviverem sem a “mãe” Bruxelas e está infantilizando seus próprios consumidores, que não sabem mais decidir o que podem ou querem comer sem a ajuda de um regulamento novo da “mãe” bruxelas.
É um suicídio sócio-econômico no longo prazo.

4 comments:

Leila Silva said...

Tanto assim? Cruzes, a proibição dos cigarros eu estava achando até legal (desculpe se você for fumante), quando saía na Europa os fumantes acabavam com minhas noites...e dias também.

Alma said...

O problema é que começa com o cigarro, passa para a bebida, depois para o bacon, e a lista vai aumentando. Até chegar a hora em que não vai poder comer nada sem pedir permissão antes para o governo...E daqui a pouco vão te obrigar a fazer ginástica de manhã tipo 1984... É uma idéia cretina e perigosa.

clabrazil said...

Cê conhece a holandesa Neelie Kroes? Ela é European Commissioner for Competition e deu uma palestra interessante numa conferência que assisti no Deutsche Bank aqui em Frankfurt. Ela falava da posicao feminina nos negócios, o que nao vem muito ao caso aqui, mas um de seus exemplos ficou marcado em minha memória. Era um fabricante de jeans de médio porte português que estava super feliz com a enxurrada de calcas jeans chinesas a preco de banana na EU. O motivo sendo que um novo mercado, o chinês, havia se aberto pra ele e com isso poderia vender seus jeans por 500 reais aos chineses emergentes que buscavam produtos "europeus".

Beijim,
Cla
PS: Cadê meu comment sobre o Wilders? Se achou ofensivo?!

clabrazil said...

Ah, quis dizer 500 EUROS acima...