Wednesday, August 20, 2008

Bian


Eu já comi coisas esquisitas, confesso. Estou falando do ponto de vista culinário antes que alguém se meta a engraçadinho. A verdade é que viajando como eu gosto de viajar, e gosto de experimentar especialidades locais, mesmo se algumas delas fariam o Shrek vomitar.
A haute cuisine française por exemplo, referência mundial de chiquê e frescurê. O que ajuda a comida na verdade é o nome. Afinal é muito melhor engolir um escargot do que um caramujo esquistossomoso. Cuisse de grenouille soa bem mais apetitoso do que perna de perereca. E ris de veau então, chique no último. Na verdade são os gânglios linfáticos de bezerros. A haute cuisine é um primor de porcaries.
E alguém aí já foi a um churrasco uruguaio? Os aperitivos são pedaços de intestino grosso de boi e de carneiro assados na churrasqueira. Não gostou? Tem rim também, e testículos. Na Escócia comi haggis, que não passa de uma buchada de bode misturada com mingau de aveia.
Sim, eu experimento de tudo, mas isso porque sou um gentleman e um diplomata que sabe que pega mal cuspir de volta na cara do anfitrião o prato que acabou de lhe ser oferecido. Mas tenho certeza de que tudo o que já comi na vida (de novo, em culinária), nada possa ser comparado ao que oferecem em países asiáticos, destino onde infelizmente nunca fui.
A culinária asiática de modo geral não me convence muito. Sou mais a cozinha mediterrânea mesmo. Sou daqueles que gostam de poder identificar e classificar os tipos de seres vivos estão no meu prato. Bos taurus, ok. Gallus gallus, ok. Lactuca sativa, ok. Mancha amarelo-alaranjada disforme com molho colorido com presença de grânulos verdes não indentificáveis, opa, not ok.
Que eles comiam coisas esquisitas feito rato, cachorro, gato, cobra, barbatana de tubarão, gafanhoto (é cozinha ou bruxaria?) a gente já sabia.
Mas o Lelec, colega blogueiro da Terceira Margem do Sena me manda uma notícia escrita por um desses jornalistas engraçadinhos que estava sem o que fazer em Beijing sobre um restaurante chinês especializado em genitálias.
Manda um bilau (bian em chinês) de urso no capricho. Tem de urso, de foca, de cavalo, búfalo, cachorro. Opa, a família é grande, tem de baleia? ... Em vez de bem passado ou mal passado o garçom pergunta duro ou mole? Meia bomba? Me lembrei da piada do torturador solícito que sempre pergunta como vai querer os ovos. Aliás, era bom olhar nas imediações do restaurante para saber se há uma clínica de vasectomia estatal ou um centro de detenção de prisioneiros políticos, vai saber se você não está levando gato por lebre e o urso era na verdade algum tibetano.
O gerente diz que não há público homossexual, mas decerto ele pensa que o pessoal que pede pra embrulhar ou que passa no drive thru vai realmente jantar aquilo. Ainda mais os que pedem para não fatiar. Como diria a bicha, tá pensando que eu sou cofrinho bofe?
O restaurante parece que está sempre cheio porque os bians segundo a tradição chinesa são afrodisíacos. Agora quem precisa de afrodisíacos no país onde ter mais de um filho é crime? Parece meio perigoso. E o marido traído que pergunta para a mulher, nossa querida, que bafo de bian, você foi no restaurante? E ela, aaaahhhh, ééé, ah si, ah eu fui sim, jantei lá.
E o cliente que encontra um cabelo no prato? O garçom tem sempre a desculpa de que faz parte da receita.
Não dá, mesmo a diplomacia tem limites. O bian, eu passo.

5 comments:

Marie Tourvel said...

Fernando, querido, vim aqui ler este seu espaço lindo e agradecer suas palavras lá no Letras. Foi muito importante ler neste momento que você se importa comigo e que gosta do meu bloguinho. ;) Um grande beijo

Anonymous said...

Quando li a primeira frase já pensei em Herô, Bazuca, Bolacha...:-)

Lelec said...

Olá Fernando!

Muito obrigado por ter atendido ao meu pedido e ter escrito sobre essa iguaria! Valeu pelo senso de humor nas muitas referências: a esposa que vai ao restaurante, o cliente homossexual, a procedência da carne... Tudo muito divertido!

Valeu!

Lelec

Ingrid said...

Gente, bian é quase meu sobrenome. hahaha que coincidência infeliz.
Quanto à comida do exterior, medo, muito medo. Estou começando a achar que depois de arroz e feijão, fast food é a salvação.

Anonymous said...

Chorei de rir com a ultima parte. So' vc mesmo. Vc gosta de carpaccio?