Saturday, August 16, 2008

Outra guerra e um novo czar


Quem gosta de viajar tem diferentes razões para isso. Há lugares no mundo em que a natureza é uma atração em si, lagos e montanhas. Há outros onde o que nos impressiona são as obras feitas pelo homem como nas grandes cidades européias e nas ruínas históricas de gregos, romanos e egípcios. Em outros lugares, o que nos marca são as próprias pessoas, seus hábitos e costumes. Um desses lugares, onde eu nunca fui mas gostaria de ir é o Cáucaso. Não pelas montanhas, não pelas cidades, mas pelas pessoas que vivem ali. Eu queria ver de perto como é esse lugar, que algum literato já chamou de vagina dos povos.
Acho que nenhum outro lugar do mundo concentra tantas etnias e línguas como o Cáucaso. Para uma nação jovem e miscigenada como o Brasil, é praticamente impossível entender as relações tribais milenares entre os povos daquelas bandas. É um mundo distante, incógnito, com nomes como Abkhásia, Ossétia, Tchetchênia e Nagorno Karabach que parecem terras perdidas dos gibis de Conan, o Bárbaro.
O fato é que enquanto o mundo celebrava em paz a união dos povos pelo esporte, nesse canto misterioso do planeta uma outra guerra começava, o neo-czar Vladimir Putin mostrava de novo suas garras.
O mundo inteiro sabe que a Rússia se tornou uma ditadura, que as eleições que puseram Medvedev como presidente e Putin como primeiro-ministro não mudaram em absolutamente nada a situação política do país.
O mundo inteiro sabe como Putin esmagou as oposições, silenciou a imprensa e restringiu liberdades fundamentais em seu país.
O mundo inteiro sabe como a KGB, agora como FSB continua na ativa, e como Anna Politkovskaya e Alexander Litvinenko foram assassinados por ela.
O mundo inteiro sabe que a Rússia não admite que os antigos países soviéticos adotem medidas democráticas pró-ocidente.
O mundo inteiro sabe que foi o Kremlin que mandou envenenar o então candidato a presidente ucraniano Viktor Youshenko.
Agora a Rússia se volta contra a Geórgia, fomentando guerrilhas separatistas na Ossétia e na Abkhásia, ignorando acordos de cessar-fogo negociados por georgianos e europeus e avança com suas tropas às portas de Tbilisi.
A única voz que se eleva contra o neo-czar é a de George W. Bush. Aí a mídia internacional esquece Putin e se volta contra ele, seu alvo preferido.
Enquanto isso, Vladimir Putin toma cada vez mais o poder em suas mãos, e transforma a Rússia em uma ditadura tão ameaçadora quanto a União Soviética em seus piores dias.
Alexander Lomaia, do Conselho Nacional de Segurança da Geórgia e um dos membros mais influentes do governo de Mikhail Saakachvili se diz decepcionado com o comportamento do Ocidente, especialmente os europeus e avisa "um dia, eles (os russos) baterão à sua porta".

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