Tuesday, March 17, 2009

O Leitor


Certa cena deste filme mostra a personagem Michael Berg em uma aula de literatura em sua escola. O professor diz que a história da literatura ocidental é a história do segredo. Toda personagem tem um segredo guardado e luta para não o revelar.
Hanna Schimtz, a fantástica Kate Winslet, é nesse aspecto uma personagem fascinante na trama.
Michael conhece Hanna quando jovem, e é esta mulher mais velha quem o apresenta ao amor. E qual adolescente não sonhou em ter uma "professora" como Hanna? Em troca, Hanna pede que Michael leia para ela. Poesias, romances, épicos, tudo o que ele puder ler.
Anos mais tarde, já estudante de Direito, Michael encontra Hanna no banco dos réus de um tribunal e descobre que sua antiga amante era uma guarda das SS nazistas, e que havia cometido um crime terrível.
É aí que o segredo de Hanna torna-se o ponto central da história. Hanna é acusada por outras acusadas de ter dado a ordem para que prisioneiros judeus fossem trancados em uma igreja que pegava fogo. O relatório das SS sobre o caso teria sido escrito por ela.
Michael entra em dilema porque sabe que Hanna é na verdade analfabeta.
E Hanna admite a culpa, por vergonha de dizer ao tribunal que ela nunca poderia ter escrito aquele relatório por ser analfabeta.
Hanna parece ser indiferente ao crime que cometeu. Ela de fato sente mais vergonha de admitir ser analfabeta diante de um tribunal do que de ter assassinado trezentas pessoas.
A filha de uma sobrevivente pergunta no final do filme: "isso por acaso a exime de culpa?". É óbvio que não. Muitos intelectuais alemães e outros não alemães também venderam a consciência ao nazismo. Assim como a maior parte do povo alemão, o que é o grande motivo do sentimento de culpa coletivo nesse país no pós-guerra.
Como Hanna Harendt descreve em Eichman em Jerusalém, os nazistas não sentiam a culpa individual, por acharem que estavam apenas cumprindo seu dever, obedecendo a uma máquina tão maior que transcendia suas consciências.
Hanna só se sentirá culpada ao ver que aquela única pessoa que foi capaz de amá-la um dia, e que deu a ela o maravilhoso presente da literatura não a pode perdoar.

4 comments:

Marie Tourvel said...

Eu amei este filme, Fernando, querido. Saí chorando do cinema. Belo seu texto.

Beijos!

bete p.silva said...

E eu não assisti, mas você me fez VER.

Lelec said...

Olá Fernando,

Ainda não assisti a esse filme, mas, motivado pelos elogios e críticas, estou com muita vontade de vê-lo. E seu belo texto aumentou esse desejo.

Abraço,

Lelec

Roberta said...

Eu assisti esse filme hoje e nossa muito bom mesmo
Kate estava impecável na atuação mereceu realmente o Oscar!

e a Narrativa do filme interessantíssima, prefere ser culpada dos crimes a falar que era anafalbeta