Monday, March 16, 2009

Revoltado


Lendo o desabafo de Robert A. Hall, fiquei pensando nas coisas que me cansam aqui neste país. Há um ano que voltei a viver no Brasil, e embora tenha ficado tanto tempo fora a verdade é que nunca me desliguei do que estava acontecendo por aqui, mesmo porque sempre tive a intenção de voltar.
Me lembrei do movimento Cansei, ensaiado por certos setores da sociedade brasileira descontentes com a corrupção. Por ser uma iniciativa das odiadas elites, o movimento foi prontamente ridicularizado pela imprensa.
Ao contrário de Hall, não tenho 63 anos, e sim 33, o que não me dá o direito de estar cansado de nada. Mas eu tenho o direito de me indignar com o que vejo. De me revoltar. De me sentir ultrajado, roubado, traído.
Revolta-me ver como aqueles que se diziam incorruptíveis andam em negociatas junto com aqueles que juravam combater. Vejo antigos grevistas e revolucionários abraçados a gente como Jader Barbalho, Renan Calheiros, José Sarney e Fernando Collor. Vejo grandes bravateiros de outrora a cuspirem na própria biografia, a venderem a intelectuais e jornalistas capachos a idéia que os fins justificam os meios.
Revolta-me ver o Congresso Nacional, onde os representantes do povo brasileiro deveriam zelar pelo bem da nação, transformado em um templo profano onde vendilhões enriquecem às custas do dinheiro que extorquem ao povo. Revolta-me ver impunes mensaleiros, autores de dossiers e quebradores de sigilo, e não só impunes como candidatando-se a novos cargos.
Revolta-me saber que trabalho para o governo 4 meses e meio do ano, e que o dinheiro dos meus impostos ao invés de fazer o país crescer é usado para comprar votos aos miseráveis que vivem nos grotões deste país, e que não sabem que as bolsas que recebem são algemas que perpetuam sua miséria. Que embora eu pague para ter educação, segurança, estradas, que eu terei que pagar tudo novamente à iniciativa privada, já que o que é público não funciona.
Revolta-me ver o analfabetismo funcional de grande parte da população, de ver alunos passarem de série em série sem aprenderem absolutamente nada, de ver fábricas de diplomas surgirem em todas as cidades.
Revolta-me ver que nossos jovens acreditam cada vez mais que o único valor prezado pela nossa sociedade é a celebridade, e que ter uma bunda grande é a única chance de uma mulher ter algum tipo de sucesso neste país.
Revolta-me ver o racismo institucionalizado em um país que um dia se orgulhava de sua miscigenação. De ver que cada vez mais indivíduos deixam de ser indivíduos para serem partes de coletividades militantes.
Revolta-me ver gente recebendo indenizações do governo porque lutavam contra uma ditadura para implantar outra pior.
Revolta-me saber que nossos diplomatas cortejam ditadores e tiranos, na Venezuela, na Bolívia, no Sudão, na China, em Cuba, para se oporem às democracias dos Estados Unidos e Israel.
Revolta-me saber que nosso Ministro da Justiça deportando de volta para Fidel dois pobres coitados fugindo de uma ditadura enquanto acolhe um terrorista assassino como refugiado político.
Revolta-me ver o país retalhado em territórios onde o Estado não entra, terras indígenas, acampamentos de sem terra, favelas de traficantes.
Revolta-me ver nossos direitos relativizados, de saber que aqui a vítima é o assaltante e não o assaltado, o traficante e não o assassinado.
Revolta-me ver maconheiros em passeatas pela paz.
Revolta-me saber que gente que tem um prato de comida todo dia a mesa possa falar mal de produtores rurais, enquanto estes vêem suas terras usurpadas por bandoleiros sem que o Estado mova um dedo para impedir.
Revolta-me saber que certas categorias são favorecidas pela lei, enquanto nossa Constituição diz que todos deveriam ser iguais perante ela.
Revolta-me gente que acha um horror que bebês tartarugas sejam mortas, mas que acham perfeitamente normal que mulheres possam abortar seus filhos.
Revolta-me ver toda a incompetência e toda a burocracia de uma máquina estatal que incha sem parar para acomodar os companheiros.
Revolta-me ver que cada vez mais o Estado quer interferir no que eu vejo, no que eu leio, no que eu como, no que eu bebo.
Revolta-me a canalhice dos esquerdistas e a covardia das oposições.
Poderiam perguntar porque voltei. Porque infelizmente ou felizmente aqui é minha terra. E porque acredito que possa mudar. E não é preciso fazer muito para mudar. Eu pago meus impostos, leio jornais, voto em gente direita. E tenho esperança. Hoje sou revoltado. Em 30 anos provavelmente estarei só cansado.

5 comments:

Thales said...

Bicho, acho que só entro aqui no seu blog para discutir com vc e ler as piadas, que são o que tem de bom aqui...
De resto, tudo sem conteúdo...
Fernando, tá certo que vc acha o Protógenes um louco, bandido... mas por ter prendido o banqueiro Dantas???
Então o santo e honesto é o Daniel Dantas??? O Gilmar???
Depois disso, desisto de vc... é de chorar que existam brasileiros assim... vai ver é por isso que o país tem todos esses problemas sociais...
Passar bem...

Alma said...

Por acaso falei que o Daniel Dantas é santo, mané? Estou falando que ele não tem direito que cometer todas as ilegalidades que cometeu para investigar quem quer que seja.
É de chorar que existam brasileiros que acreditam que os fins justificam os meios, todos os meios...

Marie Tourvel said...

Tô dizendo, Fernando, que existe babaca pra tudo. Não tenho a menor paciência com isso. Deleta! :)

Beijos!

Lelec said...

Oi Fernando,

Entendo seu desabafo. Fico pensando no nosso país e minhas opiniões se convergem com as suas em muitos pontos.

Penso que tenho diante de mim a mesma dúvida que você teve: voltar ou não para o Brasil.

Minha resposta hoje é de voltar. Mas sei que, como você, terei muitos motivos para revolta e, depois, para cansaço.

Grande abraço,

Lelec

bete p.silva said...

Fernando, eu demoro a passar aqui por isso mesmo: o teu blogue é para ser lido com calma. Aqui eu sempre aprendo, e dou uma bela oxigenada nas idéias. Brigadão mesmo.