Frost/Nixon, Lula/?

Em 1974 Richard Nixon se tornou o primeiro presidente americano a renunciar ao cargo, nos dias que se seguiram ao escândalo de Watergate.
Embora tenha sido competente em várias questões domésticas e internacionais, Nixon acabou execrado pelo aprofundamento da Guerra do Vietnam e por seus abusos na condução do Watergate.
Nixon mentiu, obstruiu a justiça, enganou o povo americano. E como em qualquer democracia decente, sofreria um impeachment se não tivesse renunciado antes.
O problema para os americanos é que ele renunciou sem admitir culpa nenhuma, o que indignou muita gente na época. A confissão de seus erros e de seu abuso de poder só seria dada nas entrevistas que concedeu a um improvável adversário, o jornalista inglês David Frost em 1977.
As entrevistas foram o programa político de maior audiência na história da TV americana, e viraram peça de teatro e mais recentemente um filme premiado com notáveis atuações de Frank Lagella como Nixon e Michael Sheen como Frost.
Eu gostaria de ver daqui a uns anos, Lula sendo entrevistado por algum David Frost corajoso. Eu gostaria de vê-lo dizer: sim, eu sabia do mensalão. Sim, eu mandei fazer um dossiê sobre o Serra. Sim, eu mandei quebrarem o sigilo do Francenildo. Eu frequentava a Jeane Mary Corner. Eu mandei investigar os gastos de cartão do FHC. Eu sei quem matou Celso Daniel. Eu abusei do poder. Eu menti.
Claro que é só um sonho. Nixon queria redimir-se. Lula, segundo a opinião pública brasileira é inatacável. Não precisa se redimir de nada.
As entrevistas de Frost foram consideradas uma imensa prova do poder da imprensa. Pena que a imprensa brasileira não seja poderosa assim.
Eu queria ver Lula dizer só uma vez, como Nixon disse, crendo agir no melhor interesse da nação: se é o presidente que faz, então não é ilegal.