Saturday, October 24, 2009
Avaritia
A crise financeira mundial mostrou o lado negro do mercado de capitais. Ainda acredito que a imoralidade do mercado hoje é fruto das revoluções liberais dos anos 60, que lutaram e ainda lutam para destruir valores como a família, a religião e as tradições. Mas á fácil culpar os tubarões de Wall Street como os grandes culpados da bolha. É como os ingleses culpando os tablóides que eles mesmos compram pela morte da princesa Diana ou a classe média carioca consumidora de drogas protestando contra a violência dos traficantes do morro. A história começa bem mais embaixo, com os subprimes concedidos aos ninjas (no income, no jobs, no assets) do mercado. Com dinheiro sobrando na mão, os bancos concederam empréstimos a quem não podia pagar. Com os preços imobiliários em alta, os americanos endividados iam de hipoteca em hipoteca usando a diferença como crédito para consumir ainda mais. Como a gula, a cobiça é um pecado de excesso. É querer sempre mais, mais, mais.
E o marketing é a ferramenta do pecado. O marketing diz que precisamos consumir para ser felizes. O marketing cria necessidades que nunca tivemos antes.
Um rápido zapping pelos canais de televendas nos dão uma idéia precisa dos horrores a que estamos nos submetendo. Quando você acha mesmo que precisa urgentemente comprar aquele kit tabajara de massagear o dedão do pé ou um utensílio de cozinha que deixa seu ovo cozido quadrado, realmente está faltando sentido na sua vida.
A classe média especialmente tem obsessão em acumular bens de consumo sem perceber, como diz Robert Kiyosaki, autor de Pai Rico, Pai Pobre, que acumular bens de consumo não deixa ninguém rico. Rico investe em ativos, coisas que lhe rendem dinheiro. Pobre compra carro, casa, chácara, moto, cavalos, coisas que lhes tiram dinheiro.
Essa obsessão por consumir a longo prazo também será a causa da nossa ruína. Imaginem Brasil, Índia e China consumindo como americanos. Ou nos matamos todos ou matamos o planeta antes. Um ocidental médio consome hoje 350 vezes mais energia do que há 200 anos atrás. Sem necessariamente viver melhor por causa disso, ou alguém acha que temos mais tempo livre hoje do que nossos avós tinham?
João Pereira Coutinho uma vez escreveu que seria possível viver com 100 objetos essenciais. Um artista japonês que esculpia móveis em toras de madeira disse uma vez que só compensava derrubar uma árvore para fazer um móvel se este durasse tanto tempo quanto a árvore duraria. Minha ambição maior é a de poder viver mais, consumindo menos porém melhor.
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