Wednesday, September 06, 2006

Equador


Continuando minhas novas descobertas na literatura portuguesa, acabei de ler agora Equador de Miguel Sousa Tavares.
O belíssimo romance descreve como um certo Luís Bernardo Valença, um dândi lisboeta é enviado como governador às ilhas de São Tomé e Príncipe, então colônia portuguesa, no início do século passado.
A economia das ilhas, naquele tempo (e até hoje), baseava-se principalmente na exportação de café e cacau, cujo principal mercado era a Inglaterra. O trabalho duro das roças dos colonos era feito principalmente por negros vindos de Angola, inicialmente como escravos e depois da abolição por “contratos” de trabalho temporários.
O pano de fundo do romance está na grande polêmica da época, a existência ou não de trabalho escravo nas colônias portuguesas. O desafio de Luís Bernardo é o de provar que não existe escravatura ao cônsul inglês enviado especialmente à São Tomé para investigar as condições de trabalho nas ilhas.
Do bom desempenho de sua missão, que lhe foi confiada pelo rei de Portugal em pessoa, dependem as exportações e por consequência toda a economia da colônia. Isso levando em conta que os maiores concorrentes de São Tomé na produção de café são justamentes as colônias inglesas na África continental, e baseados no relatório do cônsul inglês é que a Inglaterra decretará um embargo ou não às exportações tomenses.
No ambiente inóspito de São Tomé e Príncipe, em plena linha do Equador, Luís Bernardo enfrentará uma natureza luxuriante, a mentalidade atrasada dos colonos, revoltas de negros, malária e o pior, seu ponto mais fraco, mulheres.
Um livro espetacular, com uma prosa excepcional e um quadro vívido do crepúsculo da monarquia e do Império colonial português.

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