Em napolitano, dialeto de meus ancestrais maternos, não existe uma palavra para se dizer trabalhar. Diz-se “fatigare”.
Ainda tenho sorte, tive uma semana de cão mas gosto do meu trabalho. Meu cansaço não é físico, já que não faço muito além de sentar no computador e passar o dia ao telefone. Em semanas como essas o cansaço é moral, e na maioria das vezes causado por gente grossa, arrogante e/ou ignorante com as quais sou obrigado a me relacionar profissionalmente. Como disse ainda tenho sorte, mas me pergunto quantas pessoas no planeta realmente estão satisfeitas com o trabalho que têm. Nada a ver com o gosto pela profissão que escolheram, mas sim com o posto de trabalho em que se encontram hoje. Quem tem prazer no trabalho? Porn stars talvez?
Na Europa e nos EUA fazem sucesso séries de TV, livros e quadrinhos sobre a vida no escritório de grandes corporações. Dilbert sem dúvida é um excelente exemplo. O chefe cretino com metas irrealizáveis, reuniões sem nexo, colegas imbecis, o universo empresarial é uma festa. Li no jornal esta notícia de que um chefe de empresa fazia os empregados que não alcançassem metas dançarem na boquinha da garrafa. Uma outra empresa fazia os empregados irem fantasiados toda sexta feira ao trabalho. Fui em uma entrevista de emprego onde cada grupo de candidatos tinha que fabricar um dispositivo capaz de segurar um ovo em queda livre com uma folha de papel, dois lápis, alguns elásticos, um copo descartável e durex. Tudo em nome da integração, da produtividade, do bom trabalho de equipe. Ainda bem que não tenho que esperar esse tipo de embromação corporativa na minha empresa, mas mesmo assim tenho que aturar comportamentos que normalmente não suporto.
Nosso mundo urbano vive apressado, irritado, consumindo cada vez mais, mais rápido, querendo cada vez pagar menos. Comemos lixo, consumimos lixo, assistimos lixo, obviamente vamos acabar tratando gente como lixo. Seremos todos descartáveis. Um número no computador da empresa.
Aliás, a coisa mais difícil em uma corporações é saber exatamente o que faz cada um.
Ouvi dizer que Daniel Day Lewis deixou a vida de ator em Hollywood para ser sapateiro no interior da Inglaterra. Quem sabe um dia voltaremos todos a ser agricultores, sapateiros, padeiros, marceneiros, pedreiros, açougueiros, ferreiros, pintores. Algo com sentido.
Saturday, September 02, 2006
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