Friday, September 22, 2006

Grizzly Man and Crocodile Hunter


Existe uma fronteira entre homens e animais que não se deve transpor. Uma linha invisível que surgiu desde que começamos a andar sobre duas pernas, a falar e a enterrar nossos mortos, há alguns milhares de anos atrás.
Assisti ao filme de Werner Herzog, The Grizzly Man, sobre o ambientalista Timothy Treadwell. Este ex-ator frustrado e alcóolico encontrou nos ursos do Alasca uma razão para viver. Passou os últimos treze anos de sua vida fazendo visitas anuais à uma reserva ambiental na península onde acampava todos os verões e registrava a vida dos ursos com suas câmeras. Em Outubro de 2003 foi atacado e devorado por um urso. O piloto que o vinha buscar ao final de suas temporadas na reserva encontrou apenas partes de seu corpo e do de sua namorada espalhados no local do acampamento. O resto foi encontrado dentro da barriga do urso, morto por caçadores dias depois.
Herzog peneirou horas e horas de documentários de Treadwell para fazer um filme surpreendente. Pelas suas próprias confissões, descobrimos que a vontade de Timothy Treadwell é de renunciar à civilização. Ele quer cruzar a fronteira de volta à Natureza que ele tanto ama e que tanto quer proteger. O filme surpreende porque em vez de assistirmos um documentário sobre ursos, assistimos ao drama de um homem, um excluído da sociedade que quis voltar a ser bicho para escapar de uma vida medíocre, e que acaba morrendo como um.
Impossível assistir o filme e não se lembrar do Crocodile Hunter Steve Irwin, embora este não partilhe com aquele a raiva do mundo civilizado. Irwin dizia que era fácil proteger cangurus e coalas, que todo mundo acha fofinhos. O grande trabalho dele era o de convencer as pessoas a admirarem e protegerem bichos como cobras, crocodilos e aranhas. Quando vi Steve pela primeira vez na National Geographic sacudindo najas venenosas pelo rabo e gritando “crikey, he almost got me!”, eu pensei que um dia ele se daria mal. O Crocodile Hunter morreu de uma ferroada de arraia há duas semanas atrás.
Lembrei me também de um outro casal de vulcanólogos franceses, que estavam sempre presentes para filmarem e estudarem todas as erupções de vulcões no planeta. Desapareceram no Japão durante a erupção do monte Uzen há alguns anos.
Muitos ambientalistas e ecologistas fanáticos acreditam por princípio que a Mãe Natureza é sempre boa, e nós é que não sabemos lidar com ela. Mentira.
A Natureza não é boa nem má, mas tem suas regras e se as violamos não perdoa nunca. Um urso com fome é capaz de devorar seus filhotes. Uma arraia acuada vai lançar seu ferrão, mesmo contra um ambientalista. Uma cobra ameaçada vai picar, nem que seja uma criança. Um terremoto no mar provoca um tsunami, mesmo que milhares de miseráveis percam a vida nele. O que nos parece cruel e impiedoso na verdade é a Natureza agindo dentro de suas leis. Quando cruzamos a fronteira, como Irwin e Treadwell estamos expostos à essa crueldade. E é justamente o fato de acharmos estas leis da Natureza cruéis é que o homem começou a inventar as suas próprias leis. É a aversão a esta crueldade que nos faz humanos,e o motivo pelo qual não se deve cruzar esta fronteira.

2 comments:

Laura_Diz said...

Dia 25/09
http://thumbsnap.com/v/BinsGOms.jpg
abs laura

Santos Passos said...

Por essas e por outras é que me contento com a Boneca e com a Doga.

Abração.