Wednesday, November 29, 2006

3 bons filmes


Babel

O filme é de Alejandro Gonzalez Iñarritu, o mexicano diretor de Amores Perros e 21 Gramas e que recebeu a Palma de Melhor Direção em Cannes por este filme. Babel relata um acontecimento cujas consequências aproximam no filme três mundos diferentes: Tóquio, México e o Marrocos.
Um casal americano em crise, Brad Pitt e Cate Blanchett, ótimos, está fazendo turismo pelo Marrocos. A mulher é baleada por dois garotos que brincavam com uma arma comprada pelo pai, criador de cabras, para matar chacais. A arma foi comprada de outro marroquino que a ganhou de presente de um caçador japonês. A filha surda-muda do caçador japonês está em plena crise de adolescência em meio a uma metrópole. Enquanto isso a babá mexicana do casal americano resolve ir no casamento do filho no interior do México levando os filhos do casal.
O modo como as histórias se entrelaçam no entanto não é o mais importante do filme. O grande e emocionante feito deste filme é mostrar como a dor pode nascer da falta de comunicação, ou da dificuldade das pessoas em se fazer entender.
E esta dificuldade não nasce, como poderíamos imaginar, do fato de que normalmente são pessoas de mundos diferentes que não se entendem.
O personagem de Brad Pitt, americano, consegue mais compreensão para a sua tragédia do guia marroquino do que dos próprios colegas americanos de excursão. Nem mesmo com sua esposa ele consegue se fazer entender.
Assim como a japonesa surda e muda não consegue se fazer entender pelo pai (não por ser surda e muda), e não consegue entender o que o mundo quer dela.
Os dois irmãos marroquinos também não se entendem e não conseguem se fazer entender pela polícia e nem pelo pai.
As crianças americanas que viajam para o México visitam um mundo completamente diferente do seu se sentem em casa apesar disso. O único problema que terão será com os guardas americanos para atravessar a fronteira de volta.
Nós somos na maioria das vezes capazes de entender palavras, mas incapazes de decifrar seu significado, de perceber o sentimento por trás daquilo que o outro está dizendo. Quanta dor no mundo não nasce assim? Quanta gente ferimos sem saber com palavras?
E o pior é que só percebemos mesmo o que é importante quando a dor aparece, como Susan e Richard perceberam quando ela leva o tiro.


The Wind That Shakes the Barley

O título do filme vem de uma antiga balada irlandesa, cantada durante o enterro de um garoto assassinado por tropas inglesas.
A Irlanda tem uma das culturas mais ricas e uma das histórias mais trágicas da Europa, o que faz deste país um destino dos que mais gostei de visitar. Andei por Dublin, vi Trinity College e andei pelas margens do Liffey. Visitei os pubs de Limerick e cantei Dirty Old Town com os bêbados do bar. Conheci as fazendas de West Cork e do Donegal. Vi em Belfast os muros pintados, as casas de membros do IRA fechadas, os blindados britânicos patrulhando as ruas. Assisti In the Name of the Father e The Boxer, ambos excelentes filmes com Daniel Day Lewis.
Mas minha vontade de conhecer a Irlanda começou com o belíssimo livro Trinity, de Leon Uris, que conta a história da Irlanda desde a Grande Fome dos anos 1840 até o Levante da Páscoa de 1916 através da história de três famílias de grupos diferentes: uma de católicos do Donegal, outra de protestantes da classe industrial de Belfast e a terceira de nobres ingleses.
O filme de Ken Loach, The Wind that Shakes the Barley, começa durante a guerra Anglo-Irlandesa entre 1916 e 1920.
Depois da derrota no Levante da Páscoa, os irlandeses começam uma guerra de guerrilha inspirada dos boeres na África do Sul contra os soldados ingleses.
Dois irmãos, revoltados pelas humilhações impostas pelos ingleses se engajam na luta republicana e na formação do Exército Republicano Irlandês.
A luta culmina no Tratado de 1920 que cria o Irish Free State e deixa a Irlanda do Norte subordinada à coroa britânica. Enquanto uma parte dos republicanos acreditam, e o futuro lhes daria razão, que o tratado é um passo importante conquistado no caminho de uma República independente, a outra acredita que é mais uma artimanha inglesa e recusa-se a aceitá-lo. A Guerra Civil irlandesa começa opondo os dois irmãos que até então lutavam juntos. O filme é a tragédia do nascimento da República irlandesa. Mereceu a Palma de Ouro em Cannes este ano.


Darwin’s Nightmare

Nos anos 50, um peixe conhecido como perca do nilo foi introduzida no Lago Victoria, África Central. O peixe predador multiplicou-se e devastou as espécies nativas do lago. Deste desastre ecológico nasceu na Tanzânia uma florescente indústria de pesca às margens do lago.
Este documentário de Hubert Sauper sobre esta indústria foi indicado ao Oscar no ano passado (perdeu para a Marcha dos Pinguins). A história é contada através das observações de pilotos russos que estão ali para fazerem o frete aéreo dos filés frescos da perca para a Europa, onde são vendidos em supermercados.
Enquanto esperam a carga, os pilotos divertem-se com as prostitutas tanzanianas. Uma delas conta seus sonhos de educação e uma vida melhor a Sauper, que está sempre atrás das câmeras. Ela seria assassinada dias depois por um piloto australiano.
Sauper produz ainda imagens desesperadoras do dia a dia do lugar. Mostra os meninos de rua brigando por comida e queimando isopor para cheirar. Mostra um vigia de fábrica armado de arco e flecha desejando que alguma guerra chegue logo por ali. Mostra os donos das fábricas de filés de peixe queixando-se do negócio. Mostra os mortos pela Aids e o padre recomendando a não usar camisinha porque é pecado. Mostra governantes locais ignorando a ameaça ecológica que paira sobre o lago Victória, onde as percas por falta de opção passaram a devorar os próprios filhotes.
Pior do que tudo isso, mostra como as espinhas e cabeças de peixes são jogadas no lixão e recolhidas pela população local, desesperada com a fome enquanto comissários europeus se reúnem com os produtores de peixe para discutirem como o comércio pode aumentar.
E mostra os pilotos russos contando como eles levam peixe fresco e frutas para a Europa e como voltam carregando armas e foguetes para Angola, Serra Leoa e outros lugares.
Hubert Sauper não fala nada no documentário, deixa as pessoas e as imagens falarem por si. E são imagens e pessoas que nos deixam sem fala, vazios, tristes.
Pode se trocar os peixes por bananas e a Tanzania pelo Equador, ou diamantes em Serra Leoa ou petróleo em Angola. A história se repete.
Eu sempre acreditei que o comércio fosse o meio mais eficiente de acabar com a pobreza. Ainda acredito que a globalização seja um bem mais do que um mal. Acho ainda que a vida dos que estão ali seria ainda pior sem a renda da pesca. Mas quando vejo que os frutos da pesca são supermercados europeus, enquanto eles ganham doenças, armas e lixo, começo a ter minhas dúvidas.

1 comment:

Lisavieta said...

Estou louca para conferir os três filmes, principalmente depois do q acabei de ler!