Saturday, March 31, 2007

A ditadura das minorias organizadas


O Brasil tem uma Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A Secretária com status de Ministra, Matilde Ribeiro, disse que não é racismo um negro se insurgir contra um branco. Essa é a igualdade racial que a Matilde quer promover? Em um país civilizado ela estaria no olho da rua, no Brasil o PT lhe passa a mão na cabeça. Mais uma menina aloprada.
Esse tipo de pensamento, especialmente grave quando saído da boca de uma Ministra, encontra paralelos nas orientações ideológicas de toda minoria organizada, seja essa minoria negra, homossexual, indígena ou feminista.
Um negro pode sair na rua com uma camiseta que diz “100% Negro”. Imaginem um branco sair na rua com uma camiseta “100% branco”. Um gay pode mostrar repulsa quando se refere a uma relação heterossexual. Um hetero que exprime repulsa ao relacionamento homossexual é opressor.
Tão ridículo quanto, foi o pedido de desculpas apresentado por Lula aos povos africanos pela escravidão. Algum povo africano também pediu desculpas por ter escravizado durante séculos os próprios vizinhos? Eu deveria pedir desculpas aos marroquinos que encontro na rua porque no século XV meus antepassados estavam a decapitar mouros no Península Ibérica? Ou os marroquinos deveriam se desculpar por terem invadido a Europa no século VIII?
Contardo Calligaris escreveu que foi nos primeiros séculos da Cristandade que começou a idéia de que o limite da humanidade não é a tribo, a raça, ou a fé. Se somos humanos, somos irmãos. Foi a evolução da civilização ocidental baseada nessa idéia que fez com que as minorias oprimidas de sempre dispusessem hoje de uma segurança e de um respeito de que nunca dispuseram antes na nossa história.
Ainda há que evoluir, sem dúvida nenhuma. Mas que as minorias usem sua condição de históricos oprimidos para conseguirem direitos superiores ao dos outros, isso não é lutar pela igualdade, é lutar para impor sua ditadura. Martin Luther King sim, Black Panthers não.

Julia Fullerton-Batten


Free Hugs


O You Tube criou um Awards para seus vídeos mais visitados em 2006. O vídeo criado pelo malucão australiano Juan Mann foi visto mais de 12 milhões de vezes e se tornou rapidamente o sucesso do site.
No filme, com uma bela música dos Sick Puppies ao fundo, Juan passeia pelas ruas de Sidney segurando um cartaz onde se lê “free hugs”, ou seja, oferecendo seus abraços aos carentes de passagem.Apesar do estranhamento inicial, há quem embarque na brincadeira e vá lá abraçar o cabeludo.
A idéia original pegou e o filme de Juan Mann foi imitado em cidades como Amsterdam, Barcelona, Chicago e até na China...
Nesses dias tão apressados e nessas cidades tão lotadas, onde paradoxalmente somos tão solitários, nada melhor do que alguém a lembrar que há ternura no mundo.
Is the kindness we count upon, hidden in everyone?

http://www.youtube.com/watch?v=vr3x_RRJdd4

Wednesday, March 28, 2007

Boeuf Wellington


Por falar em banquete há tempos eu não fazia um post culinário.
Pois fim de semana passado fiz o prato mais sofisticado que já consegui nessa minha cozinha.
Boeuf Wellington, assim chamado em homenagem ao primeiro Duque de Wellington que adorava uma carne, é um prato feito com filé mignon envolvido em duxelles e massa folheada.
A peça de filé mignon deve ser bem frita para selar o seu exterior. Duxelles é uma mistura preparada com champignons frescos e cebolinhas échalottes picadas, ervas sal e pimenta, tudo frito junto com o champignon em azeite. Essa mistura deve ser seca em papel toalha, e a ela pode-se misturar patê de foie gras. A peça de carne é envolta dentro dessa mistura e colocada dentro da massa folheada. Pincele a massa com gema e leve ao forno, 45 minutos para 600g de carne a 200°C.
Para servir faça um molho com caldo de carne e vinho Madeira ou Porto.
Não ficou exatamente igual ao da foto mas a idéia é essa...
Chique no úrtimo.

O Banquete


A Editora Jorge Zahar lançou recentemente uma coleção de livros relacionados à história da gastronomia no mundo. E eu para minha alegria ganhei a coleção toda no Natal passado! Comer e beber bem é um prazer em si. Conversar ou ler sobre comida e bebida é um prazer complementar.
O que li agora foi “Banquete” de Roy Strong, historiador pela Universidade de Londres.
O objetivo do livro é mostrar a evolução das refeições em comum, principalmente da aristocracia desde a Grécia Antiga até o princípio do século XX.
Strong baseia-se nas descrições de livros e relatos antigos além de pinturas e gravuras para descrever em detalhes como os cardápios e as maneiras à mesa foram mudando ao longo dos séculos.
Os gregos tinha sua cozinha baseada em peixes e frutos do mar, com alguma carne de caça e de carneiros ou porco, e comiam frutas, nozes, mel, pão e outras massas. Nos banquetes havia vinho, sempre misturado com água, e música nos intervalos.
Os romanos comiam reclinados em divãs, na refeição conhecida como convivium. Mais ou menos como hoje em dia, comia-se um aperitivo, depois alguma carne de vaca ou porco na maioria das vezes, mas também peixes, faisões e gansos. Depois frutas como sobremesa.
Na Idade Média adotaram-se a mesa e as cadeiras, e apareceram os banquetes com vários pratos servidos em procissão por uma hierarquia de criados. Comia-se principalmente caça nas mesas nobres, cervos, javalis e coisas esquisitas como pavões e cisnes, cujas penas eram remontadas sobre os bichos depois de assados. Roy Strong fala ainda da importância das especiarias, especialmente o açafrão usado para colorir toda a comida de dourado, cor da riqueza. Nobres comiam observados pelos súditos que ganhava os restos. Os espetáculos de música e teatro, herança de gregos e romanos continuavam nos intervalos entre os serviços, e cada vez mais elaborados. Apareceram também os primeiros manuais de etiqueta.
Na Renascença italiana é que o banquete alcançou seu maior requinte, com pratos esculpidos em diferentes formas para agradar os olhos. As carnes exóticas desapareceram dando lugar ao boi, carneiro e vitela, e as especiarias foram trocadas pelos temperos europeus como manjericão, orégano e salsa. Os italianos desenvolveram as massas, e foram os primeiros a usarem o garfo. Apareceram também navidades das novas colônias como o tomate e a batata e o açúcar de cana.
Da Itália a arte culinária expandiu-se para a França graças aos casamentos dos Médicis com a família real francesa. A França desde então tornou-se a referência mundial em culinária. Os banquetes tiveram seu apogeu na corte de Luís XIV, e depois foram se tornando cada vez mais uma ocasião íntima até a Revolução Francesa onde só se banqueteava em público e junto ao povo.
A burguesia emergente da Revolução Industrial adotou novamente os jantares, especialmente na Inglaterra Vitoriana como forma de afirmar seu novo poder.
Ao longo de toda essa história, e até hoje, o Jantar é a forma da aristocracia afirmar seu poder, dizer quem é aceito ou não naquele círculo.
Roy Strong mostra que toda a culinária e a etiqueta foram desenvolvidas na verdade para separar quem pertence àquela classe da ralé.
Para quem gosta de comida este livro é um prato cheio.

Sunday, March 25, 2007

Europa


Fazem 50 anos que um punhado de nações, recém saídas de uma guerra fratricida assinaram o tratado que criava a Comunidade Econômica Européia, futura União Européia. Poderei contar aos meus netos que eu estava aqui quando as primeiras notas de euro saíram nos caixas eletrônicos.
Apesar do pessimismo geral que toma conta dos europeus, preocupados com a economia e a imigração, arrisco a dizer que uma marcha a ré seria hoje impensável.
Os europeus estão percebendo que o futuro deles está em uma União forte e estável. Umberto Eco em uma artigo seu compilado no livro A Passo de Caranguejo conta que mesmo entre cidadãos de culturas tão diferentes como italianos e ingleses, suecos e espanhóis existe hoje uma identidade comum. Todo país europeu viveu uma guerra perto de casa, passou por um governo autoritário, tiveram disputas religiosas. Toda essa história comum está hoje impregnada nesta identidade comum européia.
A recente invasão do Iraque mostrou o quão dividida a Europa ainda se encontra em relação a assuntos de interesse comum. Este ano, tanto Tony Blair como Jacques Chirac deixarão seus respectivos cargos de Primeiros Ministros e a vida política. Enquanto a reputação de Blair, um superstar da política manchou-se com as desculpas para invadir o Iraque e o irrestrito apoio aos EUA, o legado mais marcante de Jacques Chirac foi justamente o de ter antecipado o quanto essa invasão seria desastrosa.
Mas com o centro do mundo hoje deslocado para o Pacífico entre EUA e China, Umberto Eco diz que a Europa deve se unir em torno de uma política, de uma constituição e de uma defesa militar comunitária. Do contrário balcaniza-se, com cada país buscando apoio e fechando acordos independentemente da União.
A Europa poderá se expandir, mas não indefinidamente. O papa Bento XVI diz que a Europa é um “conceito”, mais do que uma demarcação geográfica, e está certo. A Turquia por exemplo não pode simplesmente querer entrar para a Europa, é preciso que a Turquia queira ser européia. Assim, uma União não se constrói simplesmente com pura vontade, mas com ideais comuns.
Seria possível por exemplo que a Europa fosse usada como modelo para uma futura integração mundial, e que no futuro estaríamos sob a égide de uma União Mundial, com um governo planetário? O filósofo Olavo de Carvalho em um artigo intitulado Estupidez Criminosa diz que esta perigosa idéia já está em andamento, em tratados, discursos e ações efetuadas por uma nova forma de “imperialismo” cujo objetivo seria destruir o poder e a soberania americana dissolvendo-a em um governo mundial a ser controlado pela ONU. Hugo Chávez por exemplo já disse querer fundir todos os países da América do Sul em uma espécie de União Bolivariana.
Eu acredito na Europa porque acredito que depois de toda sua história compartilhada, os europeus tenham encontrado ideais comuns pelos quais devem se guiar de agora em diante. Mas não acredito que os brasileiros tenham o mesmo ideal que Hugo Chavez e não acredito que o Brasil e a China possam ser governados pelos mesmos instrumentos. Daí eu compartilhar a opinião de Olavo de Carvalho de que a idéia de um governo mundial parece absurda. Precisaremos de alguns milênios a mais de globalização para que algo parecido possa se concretizar. Há que se tomar cuidado com quem sugere tais idéias hoje. São os que querem mandar.

Saturday, March 24, 2007

Porto


Há alguns lugares na Europa por onde já passei que ficarão para sempre impressos na memória como cartões postais. A praça de Bruxelas, o Gran Canale de Veneza, Paris à noite, e muitos mais. Meu cérebro tem essas imagens tão marcadas que posso fechar os olhos e viajar a esses lugares digamos, durante reuniões de trabalho...
Um deles é certamente este, o casario da cidade do Porto visto de Vila Nova de Gaia.
Ali na margens do rio Douro é cais da Ribeira. Foi o Douro a fronteira norte do sultanato árabe em Portugal durante a ocupação. Ali entre as ladeiras está todo o centro histórico da cidade, e ao lado está a Ponte D. Luís I, essa fantástica estrutura projetada por Gustave Eiffel.
Fui ao Porto a trabalho, infelizmente. E tive o prazer de ver minha mala ser extraviada pela TAP cuja sigla significa, segundo um amigo português, Take Another Plane. A mala em si não foi um problema já que me dispensou do uso do terno e ainda me rendeu algumas compras pagas pela companhia. Meu problema é estar em uma cidade como o Porto e ter que trabalhar ao invés de andar pela cidade, comendo e bebendo todas as delícias que Portugal oferece. O meu problema é que a modernidade inventou o celular, o lap-top e o blackberry para que a nossa jornada de trabalho pudesse passar de 8 para 24 horas como se fôssemos todos imbatíveis Jack Bauers sempre ao alcance do chefe.
Mas mesmo assim ainda pude desfrutar de um belo bacalhau e um bom vinho do Porto na companhia de amigos e com esta invejável vista. Ali mesmo em Gaia é que chegam os barcos trazendo os tonéis de vinho produzidos no vale do Douro. E ali estão as caves das grandes vinícolas do Porto, onde o vinho será misturado à aguardente vínica e envelhecido em garrafas ou barris de carvalho. Assim é produzida a mais famosa contribuição portuguesa aos amantes de vinho do mundo, e especialmente apreciada pelos ingleses. O vinho do Porto é tão “british” que é a única bebida com a qual se pode fazer um brinde à Rainha da Inglaterra.
Pois terei que voltar ao Porto ainda só passeando, experimentando um cabrito aqui, uma “francesinha” ali, um bacalhau acolá, degustando um Tawny ali no cais e aproveitando o fato de estar ali dentro desse cartão postal saboreando a vida.
Para todos os apreciadores da boa vida, aqui vai o melhor site para saber mais sobre vinho do Porto e onde pode-se comprar as melhores garrafas:

http://www.theportwine.com/

Extreme Home Makeover


Reality TV é provavelmente a pior invenção, holandesa diga-se de passagem, já criada pela indústria do entretenimento. Fora ter servido a colocar John de Mol como um dos dois holandeses na lista de bilionários da Forbes ( o outro é o herdeiro da Heineken), a reality tv transformou seres humanos em ratos de laboratório eletrônicos dispostos a enfrentar qualquer cretinice pelos seus Warholianos 15 minutos de fama.
Extreme Home Makeover é um programa que no entanto me emociona. Nada a ver com o fato de que essas pessoas conseguem construir uma casa em 7 dias. Para mim colocar azulejos na cozinha já foi um trabalho de Hércules. Mas ver as pessoas, normalmente de famílias passando por crises ou dificuldades dessas que a vida nos reserva, voltando a um novo lar e tendo uma perspectiva de recomeço é emocionante.
Esses dias uma mãe solteira tentava criar sua filha e outras quatro adotadas, todas excepcionais ou deficientes físicas.
É claro que a televisão quer audiência, que os empreiteiros querem propaganda. Mas entre as pessoas que têm sua casa reconstruída não há demonstrações de vaidade ou arrogância, não há o desejo pela fama. Há simplesmente a alegria pura de ter a dignidade, junto com sua casa, restaurada. A dignidade de um homem como dizia Abbé Pierre começa com um lar nesse mundo. Aos que tem a sorte de caírem nesse show, só sobra a humildade de agradecer o presente dizendo thank you ABC.

Angelina Jolie no Darfour


'If I can draw you in a little because I'm familiar, then that's great. As long as you end up looking at them, that's the point.'

Sunday, March 18, 2007

The Great Global Warming Swindle


O Channel 4 inglês produziu um excelente documentário demonstrando a grande mentira propagandística que se tornou a campanha sobre o aquecimento global.
O documentário bate de frente contra os argumentos do filme de Al Gore ganhador de um Oscar. A questão aqui não é discutir se a temperatura está aumentando ou não, mas se esse aumento de temperatura indiscutivelmente constatado nas últimas décadas é causado por atividade humana ou não.
Segundo Al Gore, o CO2 emitido pelas indústrias é o grande responsável pelo aumento do efeito estufa. Em seu filme, Gore mostra como as curvas do teor de CO2 na atmosfera e da temperatura estão correlacionadas.
Acontece que o CO2 é um componente irrisório da atmosfera, e a parte de CO2 criada por atividade humana ainda mais irrisória.
No documentário do Channel 4, cientistas comprovam que o aumento de CO2 na atmosfera, longe de ser a causa do aquecimento global, é mais uma consequência deste aquecimento. O aquecimento em si estaria muito mais ligado à atividade solar do que à poluição humana.
A coisa funciona assim, em períodos de maior atividade solar, a temperatura da Terra normalmente aumenta, como tem acontecido há bilhões de anos. As águas dos oceanos esquentam e diminuem a solubilidade de CO2 que passa em maior quantidade à atmosfera. Ao mesmo tempo o vapor de água na atmosfera aumenta, e vapor é de longe o mais importante dos gases de efeito estufa.
O documentário mostra como nasceram as pesquisas que relacionam a queima de combustíveis fósseis com o aquecimento global, quando Margareth Tatcher em queda de braço com os sindicatos de mineiros na Inglaterra decidiu investir na energia nuclear. O nascente movimento ecologista descobriu e abraçou a causa contra a indústria. Assim nasceu a máquina de propaganda de bilhões de dólares, estimulada pela mídia e por políticos espertos que faria do aquecimento global a maior ameaça já sofrida pela humanidade.
O aquecimento global na verdade pode ser a mais cruel mentira já propagandeada em tão larga escala na história da humanidade.
Cientistas com opiniões contrárias à da patrulha ideológica ecologista têm sofrido censura e discriminação. O aquecimento global, mais do que uma causa se tornou uma religião moderna. A crueldade dessa nova religião reside no fato de que as nações em desenvolvimento estarão sujeitas a abandonarem sua industrialização em nome de uma grande mentira.
O “humanismo” dos ecologistas de primeiro mundo que têm todo o conforto da civilização provavelmente será a causa do subdesenvolvimento de milhões que não têm acesso à eletricidade, refrigeradores, fogões, luz e outras tecnologias que trazem conforto e segurança todos os dias ao Primeiro Mundo.
O documentário está integralmente disponível no You Tube:

http://www.youtube.com/watch?v=XttV2C6B8pU

Saturday, March 17, 2007

Darfour


Uma região semi-desértica, ocre, árida, grande como a França, esquecida por Deus e pelos homens. É o mais novo cemitério a céu aberto do mundo. Um novo capítulo na imensa coleção de tragédias africanas.
Milhares de pessoas que aí vivem estão sendo massacradas todos os dias sem serem notadas pelo resto do planeta. Pais e mães sendo assassinados, crianças sendo estupradas em massa em suas escolas, bebês empalados vivos em baionetas, casas queimadas, seus bens roubados, seus animais mortos, suas culturas arrasadas.
Janjaweed, os cavaleiros da morte, a encarnação do Mal. O nome que soa como maldição é o apelido das milícias árabes patrocinadas pelo governo de Khartoum para livrar o Darfour dos negros, embora igualmente muçulmanos. Os Janjaweed agora avançam sobre o Chad e sobre a República Centro Africana, onde se concentram os campos de refugiados. O Chad por sua vez patrocina os rebeldes sudaneses que recrutam crianças entre os refugiados destes campos.
Em 4 anos, mais de dez resoluções foram votadas pelo Conselho de Segurança da ONU sem nenhum resultado concreto sobre o governo sudanês, que é obviamente contra uma intervenção em seu território. Assim como os chineses que compram seu petróleo. Enquanto as nações ocidentais discutem se há ou não um genocídio, mais de 200.000 pessoas já morreram. E os países árabes sempre prontos a denunciar a opressão dos palestinos se calam sobre o fato de que muçulmanos estão massacrando muçulmanos.
Khartoum hoje é governada por um bando de assassinos que já matou mais de um milhão de pessoas na última década no sul do país.
Jacques Julliar pergunta em sua crônica desta semana na Nouvel Observateur que homens de cera são esses emq ue nos transformamos? Em que sombra se transformaram nossos rostos, e que sepulcros frios são nossos lares hoje? Só uma força de intervenção internacional acabará com o calvário desse povo exangue. É preciso gritar e gritar ainda mais. Quebrar a lei do silêncio. Se nos calarmos as pedras acabarão por gritar por nós. Três vezes por dia, onde você estiver, grite pelo Darfour. Vamos acabar sendo ouvidos. Porque se há uma coisa que assassinos temem mais do que o castigo é o barulho, c’est la lumière...

http://www.urgencedarfour.com/
www.msf.fr/aider
www.unhcr.org/donate
http://www.pam-onu.org/

Matisse


La fille aux yeux verts

O grande Satã


Não existe nada mais boçal e simplista no pensamento esquerdista do que o anti-americanismo. Essa corrente pra frente que culpa George W. Bush e os americanos por todos os males do mundo, e que tem seus maiores expoentes nas figuras de gente fina como Hugo Chávez, Fidel Castro, Muamar Gadhafi e Kim Jong Il por exemplo. A visita de George W. Bush abriu ao Brasil uma oportunidade de ouro na questão do etanol. Hugo Chávez e Fidel Castro, o Chapolin Colorado, lastimaram a vontade brasileira de plantar cana. Dizem que a terra foi feita para as florestas e alimentos. Nada a ver como o fato de a Venezuela boiar em petróleo e os EUA serem seu maior cliente, ou com o fato de Cuba ter recentemente descoberto enormes reservas de gás na parte norte da ilha...Os dois subestimam a excelência da agronomia brasileira. Não sabem que somos capazes de multiplicar nossa produção sem precisarmos derrubar uma árvore sequer.
Lula deu ouvidos a Chávez e Kichner, outro candidato a ditador bananeiro que governa por decretos, e virou as costas à Alca. Deveria pensar melhor. Os países latino americanos mais espertos estão fechando acordos bilaterais com os EUA e ignorando a ideologia cretina dos três patetas. O México antes de entrar para o Nafta tinha um déficit com os EUA de 2.5 bilhões de dólares. Hoje exporta 64 bilhões. O Chile dobrou suas exportações aos EUA depois do acordo bilateral. Nicarágua, Colômbia, Peru e Uruguai estão negociando seus próprios acordos.
Por mais incompetente que seja seu governo, Bush foi eleito pela democracia mais sólida do planeta, ou seja, mais cedo ou mais tarde a justiça será feita nas urnas. É mais do que se pode dizer dos governos proto-ditatoriais da América Latina.
(Pintura: Flamboyant devil - Paul Klee)

Voltaire


Le diable est dans les détails...

O diabo está nos detalhes...
(lembrando Voltaire, confesso que copiado de um blog francês, mas mesmo assim muito bom)

O Nosso Guia Genial


A cada dia que passa a tentação autoritária do PT fica mais evidente. Só não vê quem não quer. Lula como se sabe foi eleito pelo povo. Mas o “povo” em inúmeras vezes na história da humanidade foi ludibriado por vigaristas, lobos em peles de cordeiro.
Lula formou nesta semana provavelmente o Ministério mais medíocre da história “deste país”. Um exemplo é o Ministro da Agricultura, um reconhecido picareta , que mesmo nomeado dificilmente tomará posse. O mais grave no entanto foi a nomeação de Tarso Genro para Ministro da Justiça. Agora um homem do Partido será o dirigente da Polícia Federal. Sob Márcio Thomaz Bastos, a PF mostrou muito mais empenho em prender donas de butiques do que em investigar os mensaleiros petistas. É inacreditável que até hoje não tenham descoberto de onde saiu o dinheiro que pagou o dossiê falso das ambulâncias contra José Serra. Agora sob o comando de Tarso, provavelmente a PF será ainda mais dependente das conveniências do PT. É a Gestapo brasileira nascendo como preconizou César Maia essa semana.
Depois vem a idéia de uma nova TV estatal, feita com nossos impostos, para transmitir as notícias “corretamente”, o que em português significa por um filtro ideológico marxista no que deve ser mostrado ao povo, e obviamente fazer propaganda do governo.
Em terceiro surgiu o projeto de Guido Mantega de dar aos fiscais dos Ministérios da Fazenda e do Trabalho o poder de multar empresas infratoras e executar penhoras, ambas competências do Ministério da Justiça. Ou seja, já que a Justiça é lenta, em vez de reformá-la, Lula dá o poder de juiz aos fiscais. E põe o empresariado debaixo da sua botina.
Trê degraus a mais na escada para a ditadura, polícia do partido, mídia para propaganda e pressão no setor privado. Esse é Nosso Guia Genial nos levando para o atraso.

Wednesday, March 14, 2007

Cinématographe Lumière


Garimpei no Youtube estas relíquias da pré-infância do cinema. Não as via desde que visitei a antiga casa dos irmãos Louis e Auguste Lumière, hoje o museu do cinema, em Lyon. Os dois fizeram a primeira exibição pública do cinematógrafo em 1895 com o filme “Sortie des Usines Lumières”.
O filme “Arrivé du Train en Gare de la Ciotat” marca o início da influência do cinema na cultura popular. Diz-se que durante a primeira exibição do filme os espectadores saíram correndo da sala esperando mesmo que o trem fosse entrar pela tela.
Já em “L’arroseur arrosé” ou o jardineiro molhado, Louis Lumière descobre que om filme para ser interessante precisaria de um enredo, uma trás por trás das imagens. É provavelmente a primeira comédia filmada da história e ao mesmo tempo a descoberta do cinema como entretenimento.

Saturday, March 10, 2007

L’Orgie et la Peste



Fuori controllo, tra edonismo e paura, il nuostro futuro brasiliano. Esse era o título original deste ensaio do sociólogo e jornalista italiano Giuliano da Empoli. Li a tradução francesa editada agora pela Grasset. Fiquei sabendo deste ensaio por uma notícia de jornal, mas a verdade é que ele me surpreendeu, e agora o considero uma leitura essencial nestes tempos em que vivemos.
Durante as epidemias de peste na Idade Média, frequentemente se viam casas onde as pessoas choravam os mortos e outras onde elas se entregavam a todo tipo de abusos e depravações.
Segundo Giuliano da Empoli, o Brasil foi indevidamente esquecido por filósofos e pensadores modernos que ao que parece preferem as cinzentas cidades do norte europeu. Ziraldo já dizia que se na Alemanha desse praia a história da filosofia seria outra. Neste ensaio o autor vê o Brasil, um dos países mais festeiros e inegalitários do mundo como uma espécie de espelho do mundo contemporâneo, com duas vertentes complementares, a carnavalesca ( a orgia) e a trágica (a peste).

A Orgia

O Brasil na visão do estrangeiro é o país do carnaval, do samba e futebol. Um país onde as elites tentaram de modo fracassado imitar as elites européias com seus boulevards e óperas mas que depois descobriu com Gilberto Freyre que sua força não estava em sua elite, mas na sensualidade e na miscigenação de seu povo. Depois de assumir essa identidade é que o Brasil descobriria sua imensa riqueza cultural, da qual o Carnaval é a expressão máxima. É no Carnaval que o Brasil une as influências de suas diferentes origens, e é no Carnaval que pobres e ricos se encontram. Ao contrário das ideologias racionais que sempre caracterizaram o progressismo Ocidental, o carnaval é verdadeiramente a única ideologia brasileira. A ideologia de aproveitar a vida e não se preocupar.
Da Empoli fala então da Carnavalização do mundo, da democratização da orgia. Das raves européias à Sex & The City americana, o mundo quer sexo, drogas e diversão. Somente a Califórnia produz mais de dez mil filmes pornôs por ano, todos os dias aviões lotados deixa cidades da Europa levando turistas sexuais à Tailândia, ao Leste Europeu e ao Brasil. A pornografia é o negócio número um da internet e aparece cada vez mais na TV. Tudo que se relaciona ao corpo, de dietas a cosméticos e cirurgias plásticas vendem como nunca. A indústria do jogo dobrou o faturamento nos últimos 10 anos. Da mesma forma, chefs de cozinha como Jamie Oliver e estilistas como Armani e Dolce & Gabbana tornam-se superstars porque a Carnavalização é também comer, beber e se vestir bem. Esse novo hedonismo de massa fez surgir também uma nova superclasse de cidadãos, as celebridades. No começo do século quando perguntados sobre seus ídolos, estudantes americanos citavam personagens da história e de letras. Nos dias de hoje 100% dão o nome de atores e celebridades. Se no passado nossos modelos de sociedade eram baseados em caráter, honestidade, realização, hoje a única característica que se precisa ter para entrar na superclasse é a capacidade de atrair atenção. Atenção hoje é uma commoditie rara, e por isso quem consegue atenção o faz frequentemente agindo fora do padrão histórico de comportamento (pense em Paris Hilton sem calcinha ou Britney Spears careca se dizendo o anticristo). Nada disso afeta o povo neo-carnavalizado, eles querem também ser famosos, daí as filas imensas nos programas de auditório e o sucesso dos mais estúpidos reality-shows. O que vale é ter fama e viver bem. Mesmo na política, Silvio Berlusconi, Arnold Schwarzenegger e Pim Fortuyn são exemplos do futuro político, cuja eleição depende mais da imagem do que de idéias. Da Empoli cita Seneca, dizendo que o epicurismo, a busca do prazer é feita geralmente por quem esqueceu o passado, não se preocupa com o presente e tem medo do futuro.

A Peste

O Brasil não vive um conflito bélico em seu território há mais de cem anos. No entanto são mais de 50.000 mortes violentas por ano, o dobro do que a ONU julga necessário para considerar um país em guerra. A violência brutal do tráfico está aí no cadáver na esquina e em parte nenhuma. Nas grandes cidades, os brasileiros se tornaram paranóicos esperando a próxima bala perdida, com cercas elétricas nos muros de seus condomínios fechados. O espaço público começa a ser privatizado, só vamos às compras nos shoppings fechados e seguros. Crianças brincando nas praças só dentro do condomínio.
Segundo Giuliano da Empoli o 11 de setembro e os conflitos que se seguiram depois (dos quais Sarajevo foi o terrível presságio) trouxe essa paranóia à la brasileira para o mundo inteiro. A próxima vítima do terrorismo não é um soldado no front, as vítimas podem ser turistas em Bali, executivos em Manhattan ou suburbanos em Madrid. Antigamente quando as notícias chegavam pelo jornal escrito, a impressão da violência era muito menor. A televisão trouxe os cadáveres da Palestina para a nossa sala. E como a imagem é muito mais acessível do que a escrita, nossas crianças estão perdendo a infância. Estamos voltando ao tempo em que adultos não se incomodavam em praticar atos violentos e obscenos diante de crianças.
A tudo isso soma-se o self-service da alma. Assim como na moda, emprestamos idéias e acessórios das religiões que conhecemos para formarmos nossas próprias crenças. Há católicos que acreditam em reencarnação e que praticam meditação budista. Em tempos obscuros, onde o futuro é incerto, renascem superstições e crenças outrora enterradas pelo racionalismo. O sucesso de Harry Potter e do Senhor dos Anéis, da astrologia e do New Age ajuda a provar a tese. É o fatalismo high-tech.

A luz no fim do túnel

Nietszche disse que o único modo de dar mais solidez aos fundamentos da sociedade é o de dar um papel ao lado escuro que sustenta tudo o que é humano, ao excesso de energia que todo organismo possui face à exigência pura e simples de sobreviver.
Joseph Conrad com seu Heart of Darkness e Euclides da Cunha com Os Sertões descreveram bem o que o homem é capaz de fazer em nome do progressismo. Foram junto com Nietszche, na visão de da Empoli, os profetas das desgraças do século XX.
Os intelectuais progressistas de hoje se calam perplexos diantes da carnavalização do mundo, que eles chamam de decadência, porque esta vai contra tudo o que eles pregam em racionalismo.
Giuliano da Empoli diz que essa força animal que o homem tem, essa sede de orgia, longe de ser reprimida deve ser controlada e usada contra o perigo do integrismo que vivemos hoje. O islamismo, assim como o nazismo, o fascismo e o comunismo antes dele, quer criar um homem novo e puro, e para isso considero todos os meios justificáveis. Uma espécie de nihilismo positivo pode evitar a contaminação do Ocidente por essa idéia, visto que quem gosta de aproveitar a vida tem uma grande dificuldade em sacrificá-la. Como o próprio Osama Bin Laden reconheceu, vocês tem milhares de jovens querendo viver e nós temos milhares prontos a morrer.
Usando-se a vertente carnavalesca para o lado positivo, resta-nos cuidar da vertente trágica da Brasilianização do mundo. E para isso o autor recomenda esquecer os preceitos esquerdistas de que o Ocidente é a causa do terrorismo islamita. Consideramos que atentados terroristas não são decisões de terroristas, mas consequências dos nossos atos. Segundo esses esquerdistas, o privilégio de um indivíduo adulto tomar uma decisão seria reservado aos Ocidentais. Da Empoli diz que essa é a maior prova de racismo que poderíamos dar em relação ao mundo islâmico.
Da mesma forma o esquerdista culpa “a sociedade” pelos crimes dos traficantes de drogas do Rio, isentando-os de responsabilidade. Giuliano da Empoli cita como exemplo Tony Blair, o primeiro esquerdista a tomar o lado das vítimas dizendo “Tought with crime, tough with the reasons of crime”. Atitude sendo felizmente seguida por outros.
Vencida a paranóia restará o amor à vida dos “carnavalescos” para vencer o integrismo.

Bansky – Guerrilla art


Poucos sabem quem ele é. Ele só concedeu algumas raras entrevistas, sem fotos.
Sua arte começou a ser feita nas ruas, em grafites. É provocadora, anarquista, revolucionária. Ele pintou a rainha Vitória como uma lésbica sado-masô, grafitou um muro com dois policiais da Scotland Yard se beijando, imitou os jardins de Monet com lixo jogado nos canais floridos de ninfeas, pintou animais vivos. Pichou as paredes da jaula do elefante no Zoológico de Bristol dizendo: “'I want out. This place is too cold. Keeper smells. Boring, boring, boring...” Pintou a barreira da vergonha que separa Gaza de Israel com grafites que mostram garotos quebrando o muro com um céu azul aparecendo.
Embora sendo uma celebridade anônima, seus quadros foram vendidos nas melhores casas de leilão de Londres atingindo preços astronômicos.
Ele é Bansky. Entre o vandalismo e a genialidade.

http://www.banksy.co.uk/

Friday, March 09, 2007

Dia das Mulheres 2 - The Good Wife's Guide


Uma revista especializada aconselha suas leitoras a estarem sempre frescas e sorridentes à espera do marido e não o perturbar com problemas. Lembre-se de que os tópicos de conversa dele são sempre mais importantes do que os seus. E você não tem o direito de questioná-lo, ele é o chefe da casa e ajudá-lo a se sentir confortável lhe dará grande satisfação pessoal. E o conselho final: uma boa mulher sempre conhece seu lugar.
Bem, o homem que hoje em dia sugerir à esposa (desde que ela não use burca) seguir os conselhos do Good Wife's Guide vai ter como resposta uma sonora risada ou a sugestão de enfiar o "guide" em algum orifício da própria anatomia.
Uma relíquia de 1955 para fazer as mulheres perceberem o quanto conquistaram nessas últimas décadas.

Thursday, March 08, 2007

Dia da mulher


Quer dizer que os outros 364 são de quem? Piada à parte, descobri que o dia da mulher comemora uma passeata feminista de 1908, ou seja, 99 anos atrás, quando 15.000 mulheres de Nova York saíram às ruas pedindo melhor salário, redução da jornada de trabalho e direito ao voto. Desde então muita água rolou e as mulheres conseguiram isso e muito mais. As mulheres conquistaram a indepêndencia sexual com a pílula, conseguiram cargos executivos em corporações e chegaram à política. Provavelmente veremos em um futuro próximo Hillary Clinton na Casa Branca. Enquanto isso os homens se ocupam mais dos filhos, cuidam mais da própria vaidade como atestam as vendas astronômicas de cosméticos masculinos, enfim, tomam espaço que antes era exclusivamente feminino. Aqui em casa eu cozinho e minha esposa instala o computador e faz a nossa declaração do imposto de renda. Eu acho é bom. Um futuro dominado por homens seria muito mais chato, bruto e burro do que um futuro mais feminino, ou mais equilibrado.
A verdade é que enquanto as mulheres conquistam seus espaços nas metrópoles, nos grotões do país (e do mundo) a realidade das mulheres tristemente ainda é outra.
Nosso pensamento machista primitivo dá risada quando olhamos essas fotos, mas atrás do cômico está a cruel realidade das mulheres ainda vistas e tratadas como mercadoria.
Para o condutor da carroça por exemplo a moça tem que ser “vige”, se não for não merece ser tratada como moça. Na distinta Boate Azul uma mulher vale 5 cervejas. Na Noite da Chupeta por uma cerveja e uma porção de batata frita você ganha uma masturbação grátis! No Planet Dance cada mulher que você levar dá um desconto na entrada. E se você levar 5 mulheres ganha até 2 reais de volta, já dá para uma pinga. Eles não especificam se as mulheres podem ser levadas vivas ou mortas. E a Noite da Xoxoteca? O traje é a rigor? Pobres homens, estão mesmo condenados à extinção. Por enquanto eles aproveitam, enquanto ainda há noites da xoxoteca.
O que eu queria mesmo saber é o que diabos é um “sabonetinho” que vale 40 reais ali no cartaz...

Gente hipócrita


A foto de cima é de Edna Ezequiel, mãe de Alana Ezequiel morta por uma bala perdida na última terça feira durante um tiroteio entre traficantes e policiais no morro dos Macacos em Vila Isabel. Uma repórter perguntou qual era o sonho da sua filha? Edna respondeu “Quem mora no morro não tem sonho não...”
A foto de baixo é a de Lula descalço batendo uma bola com o governador do Rio, Sérgio Cabral, e sendo observado pela corte dos puxa-sacos. Lula foi encontrar Cabral para liberar uma verba de R$ 100 milhões para as obras dos Jogos Pan Americanos que serão realizados na cidade.
Enquanto isso o tráfico reina, a polícia se ajoelha e Edna chora com a bandeira do Brasil no pulso.

Nos Barracos da Cidade
Composição: Liminha e Gilberto Gil

Nos barracos da cidade
Ninguém mais tem ilusão
No poder da autoridade
De tomar a decisão
E o poder da autoridade, se pode, não faz questão
Mas se faz questão, não consegue
Enfrentar o tubarão

Ôôô , ôô, Gente estúpida!
Ôôô , ôô, Gente hipócrita!

E o governador promete,
Mas o sistema diz não
Os lucros são muito grandes,
E ninguém quer abrir mão, não
Mesmo uma pequena parte
Já seria a solução
Mas a usura dessa gente
Já virou um aleijão

Ôôô , ôô, Gente estúpida!
Ôôô , ôô, Gente hipócrita!

Wednesday, March 07, 2007

O Haiti não é aqui


A primeira farmácia a vender maconha no mundo foi aberta aqui na Holanda há algumas semanas atrás. As vendas são feitas sob prescrição médica. É um passo a mais na legalização de drogas leves no país mais liberal do mundo. Maconha e haxixe são normalmente vendidos nos Cofee-shops, devidamente cadastrados pelo governo, e seu consumo é permitido em lugares públicos cadastrados ou em casa.
Nas caso de drogas pesadas como cocaína e heroína, o usuário é visto como um paciente, não como criminoso. Em centros de saúde do governo eles recebem gratuitamente doses de droga que vão sendo diminuídas com o tempo, acompanhamento piscológico e assistência social.
A Holanda age assim com outros dependentes, como jogadores compulsivos. Na Holanda os cassinos pertencem ao governo, viciados em jogo são filmados e sua entrada é barrada nos cassinos.
Em última instância, sou favorável à legalização de todos os tipos de drogas, tabaco, álcool e jogo. Sou a favor porque acredito que cada indivíduo tem que ser livre para tomar uma decisão que afete a ele e a ninguém mais. Mas é uma utopia achar que isso possa ser feito em um país como o Brasil. Mesmo na Holanda, cuja polícia e governo estão a anos-luz à frente do Brasil em termos de eficiência e honestidade, o sistema não é perfeito.
Drogados normalmente não afetam só as próprias vidas. Eles assaltam, dormem nas ruas, não produzem, causam problemas não só a si mesmo mas à família, ao bairro, a sociedade em geral. A violência no Brasil está intrinsecamente ligada ao tráfico.
O debate sobre a legalização das drogas no Brasil recomeçou em grande parte pelas declaraçãoes do novo governador do Rio, Sr. Sérgio Cabral. Mas a melhor resposta que Cabral teve foi dada pelo deputado Fernando Gabeira, histórico defensor da liberalização da maconha. Diz Gabeira: “quem conhece o processo de legalização fora daqui sabe que ele tem premissas que não foram cumpridas no Brasil. Uma delas é uma polícia mais ética e competente. Enquanto não se fizer uma reforma profunda nos organismos policiais, a mudança pode contribuir com a violência.”
Como o próprio Gabeira lembrou, o exército brasileiro entrou e ocupou essa semana na Cité Soleil, a favela mais violenta do Haiti. Vale a pena perguntar porque não conseguimos fazer o mesmo no Rio de Janeiro.

Saturday, March 03, 2007

O mapa da violência e a violência globalizada


Os dados liberados dobre a violência no Brasil esta semana mostram o que todo mundo sabe, menos o governo do PT. Violência não está relacionada com a pobreza, está relacionada com a ausência de um Estado forte ou a conivência de um Estado fraco. É por isso que as áreas mais violentas do país estão nas periferias de zonas metropolitanas onde a polícia não entra e nas cidades da fronteira agrícola do país onde simplesmente não há polícia. Falta de Estado significa impunidade e em consequência expansão do crime. Essa balela de que pobreza causa crime é conversa de petista, e é uma ofensa aos milhões de pobres brasileiros que tentam viver honestamente.
Em uma outra reportagem publicada na Nouvel Observateur, Moisés Naim, ex-diretor do Banco Mundial e redator da Foreign Policy fala sobre o seu “Livro Negro da economia mundial”. Segundo Naim, o crime assim como a economia se globalizou. Estima-se que a economia paralela hoje represente 10% da economia mundial, contra 1% há dez anos. Só o tráfico de seres humanos responde por 7 a 10 bilhões de dólares em negócios ilegais. Em 4 séculos os navios negreiros conseguiram levar 12 milhões de escravos para as Américas. Hoje, em menos de 10 anos mais de 30 milhões de pessoas passaram pelo tráfico no Sudeste Asiático. A pirataria, de bolsas Chanel a softwares e remédios contra o câncer falsos, representa 1 trilhão de dólares. Há ainda o tráfio de drogas, de armas, de órgãos, de animais silvestres, de materiais nucleares.
A progressiva abertura da economia mundial, incluindo Rússia e Leste Europeu, China e países africanos criou também uma miríade de possibilidades para o crime organizado. O tráfico hoje liga a Colômbia à Espanha e à Ucrânia, Senegaleses vendem pirataria chinesa nas ruas de Paris. Traficantes nigerianos atuam desde o Rio de Janeiro até a Tailândia.
Há um tempo atrás um bando de imbecis na praias cariocas usavam apitos para avisar os amigos puxando fumo que a polícia estava chegando. São os mesmos imbecis que reclamam da violência todos os dias mas que a cada baseado põe uma arma na mão dos traficantes.
Como diz Moisés Naim o crime também obedece à lei da oferta e da procura. E se há traficantes e criminosos vendendo pirataria, drogas ou mulheres, quem está comprando podem ser nossos vizinhos ou amigos ou até nós mesmos. Que pensamos que não temos nada a ver com isso tudo.

David Hamilton - Hommage a Balthus


Conto fantástico - E se...


John Carrera estava com um mau pressentimento na cabeça enquanto seu F16 subia no elevador que o levaria até a pista de decolagem do USS Eisenhower, um super porta-aviões classe Nimitz, orgulho da Marinha americana.
O Eisenhower estava estacionado há mais de um ano nas águas do Golfo Pérsico, e fora as missões de reconhecimento operadas no espaço aéreo iraquiano, as coisas andavam entediantes por ali. Pelo menos até os últimos dias. Carrera sabia que havia alguma coisa a mais no ar. Rumores falavam que alguma coisa grande viria.
E durante a madrugada, no briefing da missão de hoje ele tinha tido a confirmação. A missão da esquadrilha seria escoltar um bombardeiro F117 Stealth até um certo ponto do espaço aéreo iraniano.
George W. Bush estava no último ano de seu segundo mandato. A queda de braço com os aiatolás já durava três anos e segundo as informações que Carrera tinha recebido aquela manhã, oficiais da inteligência tinham localizado finalmente o coração do programa nuclear iraniano. Mísseis de longo alcance, produção de ogivas, toda aquela merda.
Seu F16 esperou na fila até chegar a vez de ser catapultado no espaço com aquela familiar sensação de adrenalina pura que tomava conta do seu corpo toda vez que decolava.
Carrera tinha certeza de que o F117 levava uma bomba nuclear embora uma infor,ação dessas fosse confidencial demais para ser dividida com os pilotos. Isso vai feder ele pensava olhando a imagem do Cristo colada junto ao altímetro. George W. já tinha dito que ele iria fazer alguma coisa que nenhum de seus sucessores, republicano ou democrata teria coragem de fazer. Era isso. O cretino ia começar a Terceira Guerra Mundial.
Foi então que aconteceu. Os instrumentos pararam de funcionar. Seus comandos não respondiam mais. O avião tomou um rumo inesperado e por mais que John Carrera tentasse controlar o vôo era como tentar enxugar gelo. O céu daquela manhã estava limpo e aparentemente não havia nenhum motivo lógico para o mau funcionamento do aparelho. O puto do rádio também não funcionava pensou enquanto desesperadamente se comunicar com a torre do Eisenhower ou com o chefe da esquadrilha, tenente O’Gara. Carrera tinha perdido contato visual com os outros F16 e agora seu avião rodopiava pelo ar sem direção e perdendo altitude. Carrera viu o céu escurecendo à sua volta e olhando o solo que se aproximava percebeu que estava na verdade a uma velocidade vertiginosa. Colado ao cockpit ele não conseguia se mover e sentia o sangue subir e descer pelo seu corpo, fazendo-o perder os sentidos mais de uma vez.
A impressão que se tinha de dentro do avião era a de que fora pego por um gigantesco tornado, o que não fazia sentido já que meteorologia nenhuma tinha previsto aquilo.
Carrera viu outros objetos rodopiando nas nuvens negras ao seu redor, pareciam carros, outros aviões, e até navios. Navios?! Um imenso choque arrancou o teto da cabine e em um gesto de desespero, conseguindo se mover por uma vez, John Carrera puxou o comando do assento ejetável pensando que já estava de fato morto.
John nunca viu o que aconteceu entre a ejeção e a aterrissagem, que ele só percebeu por uma lancinante dor na perna esquerda. O céu estava negro e a poeira subia em nuvens com o vento que assobiava no meio das pedras.
John Carrera soltou-se do assento e rolou pelo chão gritando de dor enquanto maldizia o dia em que entrara na Academia da Força Aérea. Arrastou-se até a beira de um barranco rochoso e aí desmaiou.
Acordou horas depois. Muitas horas depois a julgar pelo sol que já lhe queimava a cara. Sua perna não estava quebrada, talvez uma luxação, ams em todo caso doía e muito. E ele estava sem rádio, sem armas e sem mantimentos em uma terra incógnita. Foi quando um garoto apareceu atrás da colina próxima e lhe dirigiu algumas palavras aos gritos em uma língua que Carrera assumiu ser árabe. O garoto pelo menos tinha cara de árabe. Carrera pediu ajuda em inglês. O garoto se aproximava e falava sem parar apontando para a colina. Onde estou?, perguntava John apontando o chão. O garoto finalmente chegou a um braço de distância e se calou olhando a perna do piloto. John repetiu a pergunta umas quatro vezes até o menino responder: Palestina! Mais de 1.200 milhas longe do lugar onde eu deveria estar...Como isso aconteceu....O moleque sumiu de novo atrás da colina voltando dali a dez minutos com dois adolescentes bem maiores do que ele.
Ei, americano, venha ver, venha ver eles diziam em um inglês tosco. Os dois agarraram John segurando-o embaixo dos braços enquanto subiam a colina de volta.
Foi aí que John Carrera viu algo que ele nunca mais esqueceria na vida. A uma certa distância dali, talvez umas 10 milhas, contra um céu agora claro, ele via uma gigantesca torre. Olhando melhor a bizarra construção, ele viu que na verdade ela tinha uma forma familiar, a forma de um braço erguido saindo da terra e com o dedo indicador apontando o céu. Que diabos era aqulio?
Venha, venha, é Allah, é Allah diziam os garotos. John subiu com eles em um velho Lada caindo aos pedaços e seguiram pela estrada enquanto o adolescente que parecia mais velho dirigia.
É Allah americano, agora você vai ver que nós tínhamos razão, nós vamos vencer. John, olhava na estrada centenas de pessoas caminhando ou montadas em mulas, motos ou qualquer outro meio de transporte à mão dirigindo-se para o mesmo lugar onde eles estavam indo. Chegaram a uma vila árabe poeirenta e pararam o carro.
Aproximando-se do gigantesco braço erguido, John tentava imaginar do que seria feito aquela gigantesca estrutura que tinha pelo menos o dobro do tamanho do Empire State Building. E ao chegar perto ele começou a notar as formas que apareciam na base da torre. Descendo do Lada John reconheceu estupefato, meio enterrado na areia o USS Eisenhower. Colado a ele o porta aviões francês Charles de Gaulle, que pelo que ele sabia estava no Mediterrâneo. Aquele gigantesco braço era formado por navios de guerra, porta-aviões, destróiers, fundidos um ou outro, metal com metal. E acima dos navios, aviões e tanques. John reconheceu os F16, Mirages e Migs uns colados aos outros. Mísseis Tomahawk, Scuds, e centenas de milhares de Kalashnikovs e outras armas soldadas por uma força sobrenatural na estrutura toda.
Em volta da torre, pessoas se ajoelhava e rezavam, ou corriam e cantavam. Ele viu outros soldados, israelenses, franceses e americanos à distância. Não teve vontade de pedir ajuda, sentia a cabeça girar como se tudo aquilo fosse um sonho absurdo. Entrou em uma casa onde havia uma antena parabólica e uma televisão ligada. A casa estava vazia e John procurou a CNN na TV. Um boletim especial informava que depois de uma inexplicável tempestade magnética sobre Jerusalém, navios, aviões e tanques em um raio de 2.000 milhas tinham sido arrastados até aquele ponto formando uma imensa estrutura única na forma de um braço apontando para o alto com 600 metros de altura.
Segundo a reportagem, no planeta inteiro surgiram demonstrações de caos e desespero, assim como imensas procissões religiosas. Mais de 200.000 pessoas estavam reunidas na praça de São Pedro no Vaticano orando. Em Jerusalém e em seus arredores, milhares de pessoas se dirigiam à estrutura que já estava sendo chamada de a mão de Deus. Especialistas discutiam as possíveis causas do fenômeno, entre ações de extra-terrestres, um puro e raro fenômeno eletro-magnético enquanto outros diziam ser prova irrefutável da existência de Deus. E agora, qual Deus? Pensou.
John Carrera agora ouvia gritos lá fora. Gritos de guerra. Sua perna piorava e a dor aumentava. Ele se levantou e agarrando as paredes tentou chegar ao batente da porta.
Um dos adolescentes que o levara até ali o viu de longe e o apontou para uns tipos barbudos que estavam perto. Merda pensou John. Ele via agora várias brigas na planície rochosa de onde se erguia a Mão. Os que estavam antes rezando ou cantando se engalfinhavam em brigas corpo a corpo. Sua perna doía muito e os barbudos agora corriam para a casa onde ele estava. Ah se eu tivesse minha pistola pensou. Ele olhou a Mão, ajoelhou e começou a rezar.

The Last King of Scotland


O filme baseado no romance de Giles Foden relata a convivência entre Nicholas Garrigan, um fictício médico escocês e Idi Amin Dada, ditador do Uganda entre 1971 e 1979. Tanto livro como filme misturam a ficção de Foden à realidade do Uganda sob a ditadura de Idi Amin. No filme, Garrigan conquista a confiança do ditador africano que se diz legítimo herdeiro do trono da Escócia e se torna seu médico pessoal. Magnetizado pelo poder e pelo carisma de Idi Amin, Nicholas prefere ignorar a brutalidade do regime e aproveitar seus favores.
Martin Meredith em seu livro The State of Africa mostra que na realidade, Idi Amin Dada era um ditador brutal e assassino, analfabeto e sem a menor noção de como administrar um país. Amin perseguiu, torturou e massacrou seus inimigos. Seus esquadrões da morte atiravam os corpos aos crocodilos do Nilo para livrarem-se deles. Diz-se que ele fazia rituais de sangue e magian negra quando frequentemente pedia que o deixassem a sós com os cadáveres de suas vítimas. Passava suas ordens e leis pelo rádio à população. Desconfiava de tudo e todos. Acabou com o tesouro em gastos militares e quando o dinheiro acabava ele simplesmente mandava o Banco Central imprimir mais notas para resolver o problema. Expulsou todos os asiáticos do país arruinando a economia local, outrora florescente com exportações de café, cacau, frutas e minérios.
Aos poucos, Nicholas Garrigan vai descobrindo que vendeu sua alma ao Diabo. E uma certa cena, que lembra Orfeu indo buscar Eurycide no Inferno, Nicholas desce as escadas de seu hospital em meio aos gritos torturados de refugiados da guerra para encontrar o corpo de sua amada, um das esposas de Amin, morta e desmembrada (e é verdade que uma das esposas de Amin foi mesmo encontrada desmembrada no porta-malas de um carro). Desse inferno é que Nicholas vai conseguir escapar da morte, em uma fuga inesperada e redentora.
The Last King of Scotland é uma excelente adaptação do romance de Foden. Forrest Whitaker tem uma performance excepcional na pele do ditador, digna do Oscar que recebeu, e o filme tem uma trilha sonora surpreendente. É mais uma face da tragédia africana a ser mostrada na telona.

Little Miss Sunshine



O filme de Jonathan Dayton e Valerie Faris é a tragicomédia da desorientada família de uma garotinha chamada Olive. A família é formada por um avô biruta e tarado (Alan Arkin hilário no papel que lhe deu o Oscar esse ano), um pai obcecado por sucesso que tenta vender um livro de auto-ajuda, uma mãe atarefada demais, um tio gay e depressivo e um irmão adolescente nerd e revoltado. Olive é selecionada para participar do concurso de Little Miss Sunshine na Califórnia e lá vai a trupe toda na Kombi da família enfrentar uma road-trip para fazê-la chegar lá.
Durante a penosa viagem, cada um da família se revolta com as derrotas que a vida lhes impõe. Olive, sem querer, acaba sendo a única peça capaz de segurar a turma toda junta e sua vitória “moral”no concurso de Miss acaba sendo uma vitória de todos. Uma história original e divertida de losers aprendendo a enfrentar a vida em uma sociedade que frequentemente idolatra o que não tem importância.