Saturday, March 03, 2007

Conto fantástico - E se...


John Carrera estava com um mau pressentimento na cabeça enquanto seu F16 subia no elevador que o levaria até a pista de decolagem do USS Eisenhower, um super porta-aviões classe Nimitz, orgulho da Marinha americana.
O Eisenhower estava estacionado há mais de um ano nas águas do Golfo Pérsico, e fora as missões de reconhecimento operadas no espaço aéreo iraquiano, as coisas andavam entediantes por ali. Pelo menos até os últimos dias. Carrera sabia que havia alguma coisa a mais no ar. Rumores falavam que alguma coisa grande viria.
E durante a madrugada, no briefing da missão de hoje ele tinha tido a confirmação. A missão da esquadrilha seria escoltar um bombardeiro F117 Stealth até um certo ponto do espaço aéreo iraniano.
George W. Bush estava no último ano de seu segundo mandato. A queda de braço com os aiatolás já durava três anos e segundo as informações que Carrera tinha recebido aquela manhã, oficiais da inteligência tinham localizado finalmente o coração do programa nuclear iraniano. Mísseis de longo alcance, produção de ogivas, toda aquela merda.
Seu F16 esperou na fila até chegar a vez de ser catapultado no espaço com aquela familiar sensação de adrenalina pura que tomava conta do seu corpo toda vez que decolava.
Carrera tinha certeza de que o F117 levava uma bomba nuclear embora uma infor,ação dessas fosse confidencial demais para ser dividida com os pilotos. Isso vai feder ele pensava olhando a imagem do Cristo colada junto ao altímetro. George W. já tinha dito que ele iria fazer alguma coisa que nenhum de seus sucessores, republicano ou democrata teria coragem de fazer. Era isso. O cretino ia começar a Terceira Guerra Mundial.
Foi então que aconteceu. Os instrumentos pararam de funcionar. Seus comandos não respondiam mais. O avião tomou um rumo inesperado e por mais que John Carrera tentasse controlar o vôo era como tentar enxugar gelo. O céu daquela manhã estava limpo e aparentemente não havia nenhum motivo lógico para o mau funcionamento do aparelho. O puto do rádio também não funcionava pensou enquanto desesperadamente se comunicar com a torre do Eisenhower ou com o chefe da esquadrilha, tenente O’Gara. Carrera tinha perdido contato visual com os outros F16 e agora seu avião rodopiava pelo ar sem direção e perdendo altitude. Carrera viu o céu escurecendo à sua volta e olhando o solo que se aproximava percebeu que estava na verdade a uma velocidade vertiginosa. Colado ao cockpit ele não conseguia se mover e sentia o sangue subir e descer pelo seu corpo, fazendo-o perder os sentidos mais de uma vez.
A impressão que se tinha de dentro do avião era a de que fora pego por um gigantesco tornado, o que não fazia sentido já que meteorologia nenhuma tinha previsto aquilo.
Carrera viu outros objetos rodopiando nas nuvens negras ao seu redor, pareciam carros, outros aviões, e até navios. Navios?! Um imenso choque arrancou o teto da cabine e em um gesto de desespero, conseguindo se mover por uma vez, John Carrera puxou o comando do assento ejetável pensando que já estava de fato morto.
John nunca viu o que aconteceu entre a ejeção e a aterrissagem, que ele só percebeu por uma lancinante dor na perna esquerda. O céu estava negro e a poeira subia em nuvens com o vento que assobiava no meio das pedras.
John Carrera soltou-se do assento e rolou pelo chão gritando de dor enquanto maldizia o dia em que entrara na Academia da Força Aérea. Arrastou-se até a beira de um barranco rochoso e aí desmaiou.
Acordou horas depois. Muitas horas depois a julgar pelo sol que já lhe queimava a cara. Sua perna não estava quebrada, talvez uma luxação, ams em todo caso doía e muito. E ele estava sem rádio, sem armas e sem mantimentos em uma terra incógnita. Foi quando um garoto apareceu atrás da colina próxima e lhe dirigiu algumas palavras aos gritos em uma língua que Carrera assumiu ser árabe. O garoto pelo menos tinha cara de árabe. Carrera pediu ajuda em inglês. O garoto se aproximava e falava sem parar apontando para a colina. Onde estou?, perguntava John apontando o chão. O garoto finalmente chegou a um braço de distância e se calou olhando a perna do piloto. John repetiu a pergunta umas quatro vezes até o menino responder: Palestina! Mais de 1.200 milhas longe do lugar onde eu deveria estar...Como isso aconteceu....O moleque sumiu de novo atrás da colina voltando dali a dez minutos com dois adolescentes bem maiores do que ele.
Ei, americano, venha ver, venha ver eles diziam em um inglês tosco. Os dois agarraram John segurando-o embaixo dos braços enquanto subiam a colina de volta.
Foi aí que John Carrera viu algo que ele nunca mais esqueceria na vida. A uma certa distância dali, talvez umas 10 milhas, contra um céu agora claro, ele via uma gigantesca torre. Olhando melhor a bizarra construção, ele viu que na verdade ela tinha uma forma familiar, a forma de um braço erguido saindo da terra e com o dedo indicador apontando o céu. Que diabos era aqulio?
Venha, venha, é Allah, é Allah diziam os garotos. John subiu com eles em um velho Lada caindo aos pedaços e seguiram pela estrada enquanto o adolescente que parecia mais velho dirigia.
É Allah americano, agora você vai ver que nós tínhamos razão, nós vamos vencer. John, olhava na estrada centenas de pessoas caminhando ou montadas em mulas, motos ou qualquer outro meio de transporte à mão dirigindo-se para o mesmo lugar onde eles estavam indo. Chegaram a uma vila árabe poeirenta e pararam o carro.
Aproximando-se do gigantesco braço erguido, John tentava imaginar do que seria feito aquela gigantesca estrutura que tinha pelo menos o dobro do tamanho do Empire State Building. E ao chegar perto ele começou a notar as formas que apareciam na base da torre. Descendo do Lada John reconheceu estupefato, meio enterrado na areia o USS Eisenhower. Colado a ele o porta aviões francês Charles de Gaulle, que pelo que ele sabia estava no Mediterrâneo. Aquele gigantesco braço era formado por navios de guerra, porta-aviões, destróiers, fundidos um ou outro, metal com metal. E acima dos navios, aviões e tanques. John reconheceu os F16, Mirages e Migs uns colados aos outros. Mísseis Tomahawk, Scuds, e centenas de milhares de Kalashnikovs e outras armas soldadas por uma força sobrenatural na estrutura toda.
Em volta da torre, pessoas se ajoelhava e rezavam, ou corriam e cantavam. Ele viu outros soldados, israelenses, franceses e americanos à distância. Não teve vontade de pedir ajuda, sentia a cabeça girar como se tudo aquilo fosse um sonho absurdo. Entrou em uma casa onde havia uma antena parabólica e uma televisão ligada. A casa estava vazia e John procurou a CNN na TV. Um boletim especial informava que depois de uma inexplicável tempestade magnética sobre Jerusalém, navios, aviões e tanques em um raio de 2.000 milhas tinham sido arrastados até aquele ponto formando uma imensa estrutura única na forma de um braço apontando para o alto com 600 metros de altura.
Segundo a reportagem, no planeta inteiro surgiram demonstrações de caos e desespero, assim como imensas procissões religiosas. Mais de 200.000 pessoas estavam reunidas na praça de São Pedro no Vaticano orando. Em Jerusalém e em seus arredores, milhares de pessoas se dirigiam à estrutura que já estava sendo chamada de a mão de Deus. Especialistas discutiam as possíveis causas do fenômeno, entre ações de extra-terrestres, um puro e raro fenômeno eletro-magnético enquanto outros diziam ser prova irrefutável da existência de Deus. E agora, qual Deus? Pensou.
John Carrera agora ouvia gritos lá fora. Gritos de guerra. Sua perna piorava e a dor aumentava. Ele se levantou e agarrando as paredes tentou chegar ao batente da porta.
Um dos adolescentes que o levara até ali o viu de longe e o apontou para uns tipos barbudos que estavam perto. Merda pensou John. Ele via agora várias brigas na planície rochosa de onde se erguia a Mão. Os que estavam antes rezando ou cantando se engalfinhavam em brigas corpo a corpo. Sua perna doía muito e os barbudos agora corriam para a casa onde ele estava. Ah se eu tivesse minha pistola pensou. Ele olhou a Mão, ajoelhou e começou a rezar.

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