Sunday, March 25, 2007

Europa


Fazem 50 anos que um punhado de nações, recém saídas de uma guerra fratricida assinaram o tratado que criava a Comunidade Econômica Européia, futura União Européia. Poderei contar aos meus netos que eu estava aqui quando as primeiras notas de euro saíram nos caixas eletrônicos.
Apesar do pessimismo geral que toma conta dos europeus, preocupados com a economia e a imigração, arrisco a dizer que uma marcha a ré seria hoje impensável.
Os europeus estão percebendo que o futuro deles está em uma União forte e estável. Umberto Eco em uma artigo seu compilado no livro A Passo de Caranguejo conta que mesmo entre cidadãos de culturas tão diferentes como italianos e ingleses, suecos e espanhóis existe hoje uma identidade comum. Todo país europeu viveu uma guerra perto de casa, passou por um governo autoritário, tiveram disputas religiosas. Toda essa história comum está hoje impregnada nesta identidade comum européia.
A recente invasão do Iraque mostrou o quão dividida a Europa ainda se encontra em relação a assuntos de interesse comum. Este ano, tanto Tony Blair como Jacques Chirac deixarão seus respectivos cargos de Primeiros Ministros e a vida política. Enquanto a reputação de Blair, um superstar da política manchou-se com as desculpas para invadir o Iraque e o irrestrito apoio aos EUA, o legado mais marcante de Jacques Chirac foi justamente o de ter antecipado o quanto essa invasão seria desastrosa.
Mas com o centro do mundo hoje deslocado para o Pacífico entre EUA e China, Umberto Eco diz que a Europa deve se unir em torno de uma política, de uma constituição e de uma defesa militar comunitária. Do contrário balcaniza-se, com cada país buscando apoio e fechando acordos independentemente da União.
A Europa poderá se expandir, mas não indefinidamente. O papa Bento XVI diz que a Europa é um “conceito”, mais do que uma demarcação geográfica, e está certo. A Turquia por exemplo não pode simplesmente querer entrar para a Europa, é preciso que a Turquia queira ser européia. Assim, uma União não se constrói simplesmente com pura vontade, mas com ideais comuns.
Seria possível por exemplo que a Europa fosse usada como modelo para uma futura integração mundial, e que no futuro estaríamos sob a égide de uma União Mundial, com um governo planetário? O filósofo Olavo de Carvalho em um artigo intitulado Estupidez Criminosa diz que esta perigosa idéia já está em andamento, em tratados, discursos e ações efetuadas por uma nova forma de “imperialismo” cujo objetivo seria destruir o poder e a soberania americana dissolvendo-a em um governo mundial a ser controlado pela ONU. Hugo Chávez por exemplo já disse querer fundir todos os países da América do Sul em uma espécie de União Bolivariana.
Eu acredito na Europa porque acredito que depois de toda sua história compartilhada, os europeus tenham encontrado ideais comuns pelos quais devem se guiar de agora em diante. Mas não acredito que os brasileiros tenham o mesmo ideal que Hugo Chavez e não acredito que o Brasil e a China possam ser governados pelos mesmos instrumentos. Daí eu compartilhar a opinião de Olavo de Carvalho de que a idéia de um governo mundial parece absurda. Precisaremos de alguns milênios a mais de globalização para que algo parecido possa se concretizar. Há que se tomar cuidado com quem sugere tais idéias hoje. São os que querem mandar.

1 comment:

clabrazil said...

Fernando,

Já que citou Olavo de Carvalho...
sabia que eu o entrevistei em seu apê em Laranjeiras, no Rio? Olha o link:
http://www.olavodecarvalho.org/textos/suigeneris.htm

Tenho que confessar que nao gosto do cara.
Mas bem... ele aparentemente também nao gostou de mim!
Beijos,
Cla