Thursday, August 23, 2007

Os novos senhores do crime


Na semana passada os jornais europeus noticiaram a execução criminosa de 6 jovens italianos na cidade de Duisberg, na Alemanha. Na opinião das polícias alemã e italiana e de jornalistas em geral trata-se de um acerto de contas da ‘Ndrangheta, a máfia calabresa.
Uma reportagem da Nouvel Observateur desta semana revela um inquietante retrato do poder de fogo destes novos reis do crime.
‘Ndrangueta vem do termo grego ndrangatos, homem de valor, corajoso. A imagem que se tinha da organização eram paesanos semi analfabetos armados de luparas nas montanhas da Calábria matando-se uns aos outros em vendettas e executando sequestros como fonte de renda. Mas essa realidade já acabou há muito tempo. As pesadas operações policiais que acabaram com o poder da Cosa Nostra siciliana nos anos 80 criou um vácuo no submundo do crime organizado. A ‘Ndrangheta soube aproveitar a ocasião e ainda oferecer algumas vantagens aos seus parceiros de negócios. Ao contrário da Cosa Nostra siciliana, a ‘Ndrangheta não tem um chefão, sua estrutura é horizontal e os vários clans se alternam no poder. As famílias, isoladas em vilarejos na Calábria comunicam-se em seu dialeto, e estão quase todas ligadas por laços de sangue, há muito poucos arrependidos e dedos-duros. Uma omerta impenetrável barra toda e qualquer tentativa de investigação. Além disso todos os mafiosos possuem negócios lícitos como restaurantes e fábricas.
Os colombianos das FARC e da AUC perceberam o valor dos calabreses, e confiaram-lhes um terço de todo o mercado de cocaína no mundo. Hoje, não há um grama de coca que entre na Europa sem a benção da’Ndrangheta. Fora a cocaína, as operações dos calabreses se estendem da Europa aos Estados Unidos e Australia onde além da droga estão envolvidos com jogo ilegal e tráfico de imigrantes. Estima-se que a ‘Ndrangheta movemente hoje 40 bilhões de dólares por ano. Famílias da Calábria também investiram pesadamente no mercado imobiliário na Alemanha Oriental logo após a queda do muro, assim como na Rússia e no Sul da França. O serviço secreto alemão diz que investiram até na Bolsa de Frankfurt, especialmente no setor de energia, onde teriam comprado 3% da empresa Gazprom.
A matança em Duisberg seria uma vendetta entre o clan dos Strangio e dos Vottari. O problema teria começado no carnaval de 91 quando alguém de uma família atirou uns ovos em alguém da outra família. O motivo já não importa mais. A vendetta só acaba quando o último homem portador do nome maldito morrer. Ou por um casamento.
A ‘Ndrangheta é hoje o retrato de um paradoxo. Se por um lado vemos clans medievais, quase folclóricos, combatendo por poder e por vingança, por outro existe uma máfia sofisticada e globalizada, cujo braço feroz pode te alcançar a toda parte.

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