Monday, March 02, 2009

A Retirada da Laguna


Li o relato histórico do Visconde de Taunay sobre A Retirada da Laguna assim que voltei da minha visita ao monumento dos heróis de Jardim.
Em 1864, a fronteira entre Brasil e Paraguay no Mato Grosso praticamente não existia. Enquanto o Brasil invocava o princípio de uti possidetis, que considerava território brasileiro todo aquele onde houvessem cidadãos brasileiros, os paraguaios evocavam o tratado de Santo Idelfonso assinado entre as coroas portuguesa e espanhola que estabelecia a divisa pelo rio Branco.
No fim de 64 os paraguaios afundaram a canhoneira Amambay no rio Paraguay e atacaram Corumbá, invadindo o território brasileiro ao mesmo tempo em que iniciavam a guerra contra a Argentina no sul.
Affonso Escragnolle de Taunay, o futuro Visconde e um dos personagens mais interessantes do segundo Império era então um mero secretário do Corpo de Engenheiros do Exército. Seu relato é desprovido de floreios dramáticos, mas os fatos por ele descritos não são por isso menos espantosos.
A coluna brasileira, percorreu em dois anos 2.112km a pé do Rio para São Paulo, Uberaba e chegando finalmente a Coxim no Mato Grosso.
Já grande parte dos seus cerca de 3.000 homens tinha morrido por doenças.
Coxim tinha sido saqueada e abandonada.
Atravessando o Pantanal a coluna chegou a Miranda, também saqueada, incendiada e abandonada.
Em Miranda, a 1º de janeiro de 1867 o Coronel Carlos de Morais Camisão assumiu o comando das tropas que marchou até Nioaque, e de Nioaque até a fazenda chamada Jardim às margens do rio Miranda.
Jardim era propriedade de Francisco José Lopes, uma das personagens mais interessantes da história. Lopes era um criador de gado que ali tomava terras em nome do Imperador D. Pedro II, e que nutria grande ódio pelos paraguaios que lhe tinha morto o irmão e seqüestrado filho e a cunhada, sua futura esposa.
Lopes propôs guiar a tropa brasileira por aquele sertão que ele conhecia tão bem e ainda fornecer seus bois para alimentar os soldados.
A tropa chegou a Bela Vista, às margens do Apa que então era território paraguaio e foi até a fazenda Laguna do ditador paraguaio Solano López.
De lá, cercada pelos paraguaios, sem víveres e com pouca munição decidiu bater em retirada.
Os paraguaios usavam sua cavalaria contra os brasileiros a pé, e táticas de guerrilha aprendidas com os índios. Tocavam fogo à macega seguindo a direção do vento para que os brasileiros morressem sufocados com a fumaça e se queimassem no fogo.
As chuvas traziam febres, frio e as dificuldades dos terrenos alagados do Pantanal.
Arrastando canhões, carros de boi e seguidos por uma trupe de mulheres, crianças e índios, os soldados sofriam com a fome, o cansaço, a fumaça, o fogo inimigo e por último com a terrível doença do cólera.
Camisão morreu de cólera no fim da retirada, já às margens do Miranda nas terras da fazenda Jardim, assim como Lopes e seu filho, onde hoje é a cidade de Jardim. A margem oposta hoje abriga a cidade de Guia Lopes da Laguna.
Dos 1.680 soldados que invadiram o Paraguai em abril de 1867, 700 voltaram em 11 de junho a Porto Canuto.
A história é como um Apocalipse Now brasileiro. A morte, a peste e a guerra estiveram ali presentes durante todo aquele caminho. Pode ter sido uma temeridade organizar uma invasão a pé e com tão parcos recursos. Mas não são dignos de serem chamados de heróis homens que foram ao inferno e voltaram?

Em breve neste mesmo batcanal: Guerra Maldita, de Francisco Doratioto.

1 comment:

Anonymous said...

com certeza. ass) maestroney.....Assistam meu video sobre a historia do trem do pantanal, q cita a coluna do exercito q foi do rio a coxim e qdo chegou lá estava tudo queimado e saqueado pelos paraguaios, o q propiciou a construção do trem da noroeste, para q nao custasse tanta dor ir d sp a ms. Procurem "HISTORIA DO TREM DO PANTANAL" em meus videos= www.youtube.com/user/NeyTheBoss2008