Friday, October 23, 2009

Gula


Quando Lula lançou com estardalhaço o Programa Fome Zero, o IBGE acabou com sua graça dizendo que a obesidade era um problema mais comum entre os brasileiros do que a fome.
De fato brasileiro come demais, fato constatado com espanto por qualquer turista que passe por aqui, exceto os americanos que têm com a junk food um problema muito mais grave do que o nosso. Aqui no Brasil, no meu ponto de vista, o problema é que comer passou de necessidade básica a opção de lazer entre os brasileiros. Durante a semana saímos da cama para o carro, para a cadeira, de volta ao carro, ao sofá e de volta à cama. E o que vamos fazer no fim de semana? Passear de bicicleta no parque? Remar na lagoa? Visitar algum sítio histórico? Ir ao museu? Não, vamos fazer um churrasquinho com bastante cerveja, uma macarronada, comer uma pizza, ir no boteco e pedir aquela porção de calabresa acebolada... E depois aquela torta de brigadeirão e um sundae de caramelo. O segundo problema é confundir quantidade com qualidade. E assim chegaremos logo logo onde estão os americanos hoje. E quanto mais obesos ficamos, mais se proliferam as dietas maravilhosas e aquelas câmaras de tortura conhecidas como academias de ginástica. Pensando bem a gula é o grande motor da economia nacional. Pense em tudo o que você gasta de comida no supermercado, em restaurantes e depois assinando a Boa Forma e pagando aquela aula de Pilates.
E muito embora na última década as academias tenham se espalhado pelos bairros, a obesidade, tanto aqui como nos EUA não diminuiu. A Time publicou uma reportagem investigando o que se chama de efeito compensatório. Para o guloso, cinco minutos a mais de esteira são suficientes para que ele alivie sua consciência descontando o esforço na lanchonete mais próxima. Ou seja, quanto mais exercícios fazemos mais nos sentimos liberados para o pecado.
Minha humilde sugestão é que passemos pois a caçar o almoço e a janta, como faziam nossos esbeltos ancestrais. Entraríamos todos em forma e nossa gula seria aí plenamente justificada.

1 comment:

Everardo said...

O IBGE e o Presidente certamente estavam com os olhos voltados para a maior parte do povo brasileiro, que não tem carro, não tem comida para se empanturrar e não leva essa vidinha fútil do "classe média", cujos padrões se assemelham muito ao que você fez referências. Esses, sim, pode estar na mira da obesidade.