Monday, September 29, 2008

Machado de Assis


No centenário de sua morte, há centenas de críticos e intelectuais exaltando a excelência da literatura de Machado de Assis.
Aos que leram Machado como eu por obrigação da escola ou do vestibular, redescobri-lo como disse Daniel Piza é redescobrir seu humor, seu estilo, sua filosofia. Sua maestria enfim.
Mas há outro aspecto em Machado de Assis que admiro tanto quanto suas criações; a clareza da linguagem.
Um tradutor americano de autores brasileiros disse que Machado de Assis era facílimo de se traduzir, porque afinal ele dizia as coisas de um jeito que nunca poderiam ter outro sentido ou serem ditas de outro jeito.
É o jeito que eu gostaria de escrever um dia. Claro e preciso. Com a pena da galhofa, e a tinta da melancolia como Brás Cubas.
Machado de Assis é minha fonte de inspiração em meus débeis esforços para preservar a língua portuguesa das hordas que ameaçam sua clareza:

A nossa classe dirigente que fala mas não diz nada por que só se expressam em politiquês, juridiquês e economês tentando afetar erudição e evitar respostas diretas.
- O senhor recebeu pagamentos dessa empreiteira porquê?
- Veja bem nobres colegas, as ilações e aleivosias da gestante me são alheias.

A juventude internetada que só se comunica por siglas e cacofonias:
- k tc?
- kd vc?
- kkkk!
- uhauhauhauah.

As secretárias e atendentes de telemarketing que só falam no gerúndio:
- estaremos enviando ao senhor e estaremos deduzindo o pagamento da sua conta e dentro de três ou duzentos e dezessete dias tudo estará sendo resolvido

E é claro a imensa multidão de brasileiros incapazes de ler e interpretar um texto, condenados a jamais entender ou apreciar um parágrafo sequer do nosso primeiro e maior imortal.

1 comment:

Lelec said...

Machado é a quintessência da língua portuguesa e da literatura universal.

Dei "Memórias Póstumas de Brás Cubas", em versão francesa, ao meu chefe aqui em Paris. Ele não conhecia o autor. Ele ficou absolutamente fascinado com a modernidade e com o estilo do mestre. Gol do Brasil!

Abraço,

Lelec