Saturday, September 20, 2008

A Mente Revolucionária


Há quem ame Olavo de Carvalho, e há quem o odeie. Eu, que até uns dois anos atrás nunca tinha ouvido falar no sujeito, comecei a ler seus artigos. E me interessei especialmente por esta tese, que ele mesmo considera seu grande trabalho, a estrutura da mente revolucionária. Por mais irascível ou intolerante que o considerem, as idéias de Olavo sobre o processo revolucionário na história me ajudaram a entender muita coisa do que acontece hoje na política brasileira e no mundo.
A idéia de revolução, na perspectiva olaviana, não é necessariamente a de um conflito armado definido no espaço e no tempo, mas antes de tudo é uma maneira invertida de se ver o mundo. Donald Hank, no Laigles Forum caracteriza essa inversão em três aspectos:

1. Inversão do tempo: pessoas normais vêem o passado como algo imutável, e o futuro como algo ainda a ser definido. Revolucionários têm um projeto de futuro na mente (seja o mundo igualitário dos socialistas ou o paraíso islâmico dos terroristas da Al Qaeda) e acham que o passado pode ser reescrito ou reinterpretado para acomodar seu projeto. Os soviéticos sempre mudaram seus textos e até fotografias pelo bem do socialismo. Do mesmo modo, alguns hoje enxergam a colonização ibérica na América Latina como parte de um processo civilizatório. A esquerda prefere interpretar esse capítulo da história como predação imperialista.

2. Inversão moral: revolucionários consideram que trabalham para um projeto de futuro utópico e perfeito, e portanto suas ações de hoje são perfeitamente justificadas por esse projeto. Nesse raciocínio, nada do que o revolucionário faça pode ser imoral. Isso explica o fato do Che defender que cada revolucionário se torne uma máquina fria de matar. Ou que Karl Marx tenha tido um filho bastardo com a empregada e o escondido da sociedade. Ou que Rose Marie Muraro tenha defendido o direito do PT roubar. É tudo pelo nosso bem.

3. Inversão de sujeito e objeto: Se o revolucionário mata alguém que se opõe a ele, a culpa é do opositor que não seguiu o caminho certo, ou seja, o da revolução. Do mesmo modo, quando somos assaltados hoje, a esquerda diz que a culpa é nossa, e não do assaltante, já que o crime teria origens sociais. O raciocínio é o mesmo quando a esquerda afirma que a culpa dos americanos serem alvos do terrorismo islâmico é deles mesmos, como se os islamistas fossem incapazes de fazer as próprias escolhas.

Existem muitos movimentos revolucionários em andamento no mundo hoje.
Há o autoritarismo russo-chinês, definitivamente estabelecido no Pacto de Shangai.
Há o islamismo de Mahmoud Ahmadinejad, Bin Laden, Hamas e Hezbollah, que está se infiltrando cada vez mais na Europa. Já há gente propondo tribunais especiais em países europeus para aplicação da Sharia, e esta semana foram divulgados vídeos onde imans em mesquitas européias conclamavam seus fiéis a terem filhos para tomarem conta do continente.
Existe ainda o socialismo/bolivarianismo na América Latina, que já tomou conta da mídia, da educação, da cultura e da política em nosso continente.
Existe um movimento globalista/ambientalista nos Estados Unidos e na Europa por um governo global. O ambientalismo, com a bandeira do aquecimento global, conseguiu a façanha de fazer a Royal Society por exemplo esquecer o próprio lema: Nullius Verba, ou Ninguém tem a Palavra Final, princípio básico da ciência. Contestar o aquecimento virou heresia nesta nova religião. E por tocar no assunto, um exemplo de inversão de moral: Al Gore consumir 20 vezes mais energia do que você ou eu.
Todos eles usam a mesma estrutura de pensamento descrita por Olavo de Carvalho. E de alguma forma todos esses movimentos acabam interagindo. Por exemplo: todas as armas encontradas com terroristas islâmicos são de fabricação russa ou chinesa. Da mesma forma, o globalismo e o ambientalismo encontram vários adeptos na esquerda latino americana. O nacionalismo americano é o pior inimigo do globalismo, daí que o anti-americanismo na esquerda latina e mundial seja tão bem vindo. Agora adivinhe porque Obama é tão popular no resto do mundo e nem por isso é o preferido nos EUA. Os antiamericanos mundiais adoram Barack Obama.
Essa é a mente revolucionária.
Por outro lado, o que chamamos por exemplo de Revolução Americana não foi um movimento revolucionário no sentido que Olavo de Carvalho dá ao termo. Os Founding Fathers americanos nunca quiseram impor uma utopia à nação recém formada, e sim criar um país onde cada indíviduo pudesse buscar seu sonho de felicidade. O famoso Pursuit of Happiness escrito por Thomas Jefferson. E essa é uma lição que deveríamos ter aprendido com eles.

4 comments:

Lelê Carabina said...

Engraçado que para falar em Olavo tem que fazer a advertência: "eu leio Olavo, mas não sou Olavete" rsrsrs Esta tese dele me esclareceu muita coisa também e pode funcionar até mesmo como prevenção... Muito bom o texto, você conseguiu ser mais didático que o Olavo. Abraço

Lelec said...

Olá Fernando,

Se há algo que é motivo de discordância entre nós dois é a maneira que cada um de nós enxerga Olavo de Carvalho.

Isso não significa que eu o odeie. Não, absolutamente. Apenas discordo radicalmente de muitas de suas idéias, mas não há em mim ódio algum contra ele.

Você diz que há quem o considere irascível. Ora, isso não é matéria de interpretação subjetiva do comportamento do Olavo. Isso é um dado objetivo, basta ver a maneira com que ele trata quem discorda dele: com agressividade e palavrões. Dizer que Olavo é irascível é tão objetivo quanto dizer que os cabelos da Luana Piovani são loiros.

Uma das características mais marcantes do Olavo é sua capacidade de adaptar fatos históricos segundo sua conveniência, para que caibam nas suas explicações ou “teses”. Este seu texto ilustra perfeitamente isso. Essa idéia de “mente revolucionária” só se aplica obviamente aos movimentos revolucionários de cunho marxista do século XX, e não a todas as revoluções da história. Assim, para que Olavo justifique a aplicabilidade da sua idéia, ele diz que a Revolução Americana não foi Revolução, assim como reduz a Revolução Francesa a uma carnificina anti-clerical, sendo que há toda uma historiografia que contradiz veementemente isso, há uma série de historiadores de renome que ririam se ouvissem essa explicação do Olavo.
Aliás, nem precisa ser historiador para ver os limites da tese olaviana. Segundo ela, todas as revoluções são nefastas. E ela obviamente não se aplica a numerosos movimentos revolucionários, como as já citadas revoluções Americanas e Francesa, além de outros, como a Revolução de Veludo e a Revolução Farroupilha, para ficar em um exemplo “nosso”. Ah, tá, Olavo vai dizer que nada disso foi “revolução...” Eis a pretensão do homem que quer assim reescrever a história, mudando as maneiras de se denominar eventos históricos que ele insiste em reduzir ao seu palavreado.

Mas tudo isso é o menos importante diante de algo que é realmente grave. Se ele mesmo considera os escritos sobre a “mente revolucionária” seu “grande trabalho”, então ele é mais picareta do que eu imaginava. Porque não há nisso originalidade alguma. O livro 1984, de Orwell, já escancarava tudo isso muito antes de Olavo começar a falar seus palavrões. É claro, Orwell escreve com muito mais propriedade e elegância que Olavo. A crítica à “inversão histórica” das ideologias marxistas é genial: Winston Smith trabalhava no “Ministério da Verdade”, onde mudava tudo que pudesse afrontar a verdade do Partido. Se a Lestásia passa de aliada a inimiga, lá vão os funcionários mudar os livros de História, para que figure em todos eles que a Lestásia sempre foi inimiga. E Orwell também critica a ideologia revolucionária marxista em “A revolução dos bichos”. E não foi só Orwell não: Karl Popper (veja seus escritos sobre historicidade), Richard Piper, Franz Oppenheimer, Bertrand Russel, Alain Besançon já revelaram todo o submundo da “mente revolucionária”, bem antes do “Olavão”. Se Olavo se apropria delas e se diz autor, isso só faz fortalecer a impressão que tenho dele: um charlatão de marca maior e (digo isso com todo apreço que tenho por você e por seu blog), um falsário cujos escritos e discursos não merecem ser levados a sério por um leitor tão inteligente como você.

Abraço,

Lelec

Alma said...

Lelec,
Se o Olavo é irascível ou mal educado não me interessa, não o conheço pessoalmente e não é da minha conta, mas eu certamente discordo da sua opinião sobre o trabalho dele.
Olavo repensou os conceitos de esquerda/direita como revolução/reação. A revolução de que ele fala não tem a ver com conflitos armados. Ele associou e definiu a esquerda com o termo revolução, como uma visão de mundo que inverte o tempo, a moralidade e as relações humanas, e demonstrou que sempre que isso ocorreu houveram tragédias monumentais.
Mas bem, antes que você me dê um passaporte para o Olavonistão é melhor a gente mudar de assunto...
Abraço
Fernando

Lelec said...

Tá bom, Fernando, não lhe dou um passaporte para o Olavonistão (você não merece isso, mon ami!), mas insisto no meu ponto. "1984", de Orwell, já tem isso tudo: inversão do tempo (a reescritura da História), dos valores morais, das relações humanas (Winston Smith violou o código vigente ao ter relações sexuais com sua parceira)...
Essa crítica da ideologia dos revolucionários marxista-comunistas (ou, como queira, "mente revolucionária") já foi feita bem antes do Olavo. E sem falar bobagens históricas, como dizer que a "revolução americana" não é revolução.

Abraço

Lelec