Monday, September 15, 2008

Moral e maioria


Churchill disse uma vez que democracia era o pior sistema de governo, à exceção de todos os outros.
Democracia é o sistema onde a vontade da maioria prevalece, e onde os direitos de minorias são respeitados. Pode ser aperfeiçoada?
No meu ponto de vista sim, já a vontade da maioria nem sempre é a decisão moralmente certa a ser tomada.
Política deveria ser separada de religião? Sem dúvida. Mas mesmo um estado laico precisa de parâmetros morais para tomar suas decisões.
Em nosso mundo ocidental, esses parâmetros são uma herança do cristianismo.
Quando se discute aborto e eutanásia hoje em dia, as idéias da Igreja são imediatamente descartada por valentes progressistas como ruínas ideológicas medievais.
Em nome de um suposto humanismo, queremos eliminar da sociedade fetos anencéfalos e doentes terminais. Logo depois serão fetos indesejados, e deficientes mentais. Tudo pelo bem deles.
Esses "progressistas" querem na verdade é viver em um mundo de juventude eterna e saudável, uma hitlerjugend moderna.
Pode ser que em um futuro próximo essa seja mesmo a vontade da maioria. Mas não deixa de ser imoral.
Então viraremos as costas à 2.000 anos de cristianismo, porque se Deus está morto, como disse Dostoiévski, tudo é permitido.
Deveríamos estudar mais história.
Mesmo em seus piores momentos, o cristianismo sempre trouxe mais benefícios do que malefícios a humanidade. Como nos lembra Olavo de Carvalho, sempre que foi tirado da equação por revolucionários humanistas, os piores crimes aconteceram. Foi assim no comunismo e no nazi-fascismo. Só para dar um exemplo, a Inquisição espanhola matou menos gente em 4 séculos do que a Revolução Francesa em um ano.
Não digo que a Igreja deva interferir em negócios de estado, mas digo que homens de estado deveriam levar em conta a herança cristã deste país em suas decisões. Mesmo contrariando a maioria.
Nosso Lula, em um absurdo gesto de grosseria e má educação recusou-se a beijar a mão do Papa em nome da laicidade do Estado. Mas não viu problema nenhum em beijar a mão de Jader Barbalho. A cada um sua moral.

8 comments:

Lelec said...

Olá Fernando,

É claro que eu não poderia deixar de comentar esse seu texto.

Há muitas coisas a discutir: o gesto do Lula (certo em relação ao Papa, errado em relação ao Jader), a interrupção da gravidez de anencéfalos (que NÃO é eugenia), o laicismo.

Mas vou me ater a apenas um ponto que você levantou: o artigo do “Olavão” em que ele diz que o “humanismo sem religião” foi responsável por mais mortes do que o cristianismo, dando o exemplo da Inquisição Espanhola versus a Revolução Francesa.

É um exemplo típico de como o Olavão constrói uma argumentação falaciosa para defender suas idéias.

A Inquisição matou menos gente do que a Revolução Francesa?

Sim, é fato. Mas será que estamos diante de dois movimentos eminentemente religiosos, que possam ser, por isso, comparáveis?

A Inquisição, sem medo de errar, foi um fenômeno religioso em sua essência: líderes religiosos que, motivados por causas preponderantemente religiosas, organizaram um movimento.

Podemos dizer o mesmo da Revolução Francesa? Não. Trata-se de uma revolução em que um grupo (a burguesia) tenta tomar o tomar e, para isso, tem que combater a Velha Ordem e seus sustentáculos políticos: o rei e a Igreja. Os revolucionários franceses não foram anti-clericais por razões religiosas, mas por motivos econômicos e políticos.

O “Olavão” faz as contas que lhe convêm. Partindo do mesmo princípio, teríamos que computar, por exemplo, os mortos da Revolução Gloriosa (revolução burguesa liderada por protestantes puritanos, como Oliver Cromwell), na Inglaterra; teríamos que dizer que sua principal motivação foi religiosa, e não político-econômica. Segundo a mesma linha, teríamos que dizer que a colonização da América Latina foi um movimento essencialmente religioso (que não foi, como bem sabemos). Será que o Olavão estaria disposto a incluir os 200 milhões de indígenas americanos mortos, só no século XVI? Será que ele incluiria os outros milhões mortos nas Cruzadas?

Se ele diz que “a Inquisição matou menos gente que a Revolução Francesa”, pode-se muito bem contra-argumentar dizendo que a Primavera de Praga matou menos gente do que a Inquisição. Responda: faz sentido raciocínio semelhante?

Abraço,

Lelec

Alma said...

Lelec
O Lula beijar a mão do Papa não comprometeria em nada a laicidade do Estado, seria uma simples demonstração de respeito a um chefe de Estado estrangeiro e ao representante máximo da fé de milhões de cidadãos brasileiros. Foi pura grosseria mesmo.
Sobre aborto, como eu disse, a anencefalia é um pretexto para que a discussão evolua até o aborto em geral. E como disse muito bem o Diogo Mainardi, é repugnante achar que certas crianças, especialmente as deficientes, mereciam mais o aborto do que outras.
E sobre o Olavo, eu recomendo vivamente que você leia melhor suas idéias sobre a mente revolucionária. Ao comparar a Inquisição com a Revolução francesa por exemplo, o que ele quis dizer foi que o pensamento revolucionário ignora toda forma de moral que conhecemos hoje, inclusive a religiosa, pois assim estão livres para venderem às massas o futuro hipotético que eles definiram. E o resultado é trágico como demonstra a história. Mas prometo um post para falar mais sobre isso.

Lelec said...

Olá Fernando,

Obrigado pela resposta.

Me diga uma coisa: quando um presidente, digamos, da França, vai ao Brasil, seria grosseria do Lula não beijar a mão dele?

Claro que não. O beijar a mão, no caso do Papa, é um sinal de submissão, não de respeito. Chefes de Estado se cumprimentam com apertos de mão. Beijar a mão, no caso do Papa, tem simbolismo religioso, que não cabe no representante de um Estado Laico (artigo 19 da Constituição).

"A anencefalia é um pretexto para que a discussão evolua até o aborto em geral." Não, não é. Estamos discutindo gestação de anencéfalos, não aborto. A discussão do primeiro não pode ser interditada pelo segundo, são coisas diferentes. No caso dos anencéfalos, há risco de morte para a mãe, no aborto não. Gravidez de anencéfalo acarreta riscos sérios para a mãe. Há mulheres que morrem por causa disso. A interrupção da gravidez de anencéfalos é uma medida para poupar a vida da mãe, SE ela assim o desejar. É justo uma mulher ser OBRIGADA a continuar a gestação de um feto cuja chance de sobrevida é de 0% e cuja continuação implica em risco de morte?

"O pensamento revolucionário ignora toda forma de moral que conhecemos hoje". Claro que também não é verdade. Muitas "mentes revolucionárias" não cuspiram na moral. Veja a revolução¨(independência) americana e seu compromisso com democracia e direitos humanos. Então os revolucionários da Revolução de Veludo (que depôs o Comunismo na Rep. Tcheca) agiam contra a Moral? E há muitas mentes "não-revolucionárias" que agem contra a moral. É por causa de "non sequitur" como esses que não levo a sério o "Olavão". Ele é hiperbólico, exagera e generaliza em tudo, não tem a ponderação que se exige de um filósofo.

Interessante você citar o texto do Mainardi em que ele se diz abertamente a favor do aborto. Não esperava que você o citasse.

Eu tenho pensado e lido muito sobre o aborto. Não tenho opinião definitiva e, por isso, não me vejo preparado para debater a questão. Se fosse para votar hoje, votaria contra o aborto (minha opinião de base). Mas a questão dos anencéfalos é diametralmente oposta. São duas situações completamente diferentes.

Abraço do seu leitor mais cri-cri!

Lelec

Alma said...

Põe cri-cri nisso...
Beijar a mão no Papa não iria mudar o texto da constituição não é mesmo? Só ia ser um gesto educado e de respeito à tradição de um país essencialmente católico.
A lei brasileira hoje permite o aborto em caso de risco de vida da mãe. Então qual o motivo da discussão? Você acha que não, mas o lobby abortista quer mesmo usar isso como pretexto para discutir o aborto em geral.
E leia de novo o texto do Mainardi. Especialmente onde ele diz "jamais, jamais!".
Quanto ao Olavo, o assunto é mais complexo, por isso prometo escrever mais longamente sobre ele.
Abraço
Fernando

Sandra Leite said...

vcs dois me matam de rir

Lelec said...

Ô Fernando...

O Diogo é sim a favor do aborto e ele afirma isso ao dizer que, segundo ele, toda mulher deveria ter o direito de decidir.

O Diogo é realmente brilhante: ele conseguiu se sair muito bem, agradando a todos, dizendo que é favor do aborto, mas que ele, pessoalmente, jamais o faria.

Dê uma olhada no blog do Reinaldo, no dia da publicação da coluna do Mainardi. Ele conta como os petralhas que o aborrecem ficaram tirando sarro dele porque o amigo dele (o Mainardi) se disse a favor do aborto (como se os dois tivessem que concordar em tudo).

Abraço,

Lelec, o cri-cri.

PS: So espero que um Ima árabe não visite o Brasil. Se não, para ser "educado e respeitoso" com a comunidade islâmica brasileira (sim, ela existe), o Lula teria que fazer uma condolência ao líder...

Lelec said...

Em tempo: a lei brasileira prevê que um juiz deve julgar a procedência do chamado "parto de risco". Como a Justiça brasileira é lenta, o julgamento sempre vem depois do tempo adequado.

Isso não é matéria pro juiz decidir, mas a mãe, junto ao médico.

Abraço,

Lelec

Anonymous said...

Alma, raramente um texto muda minha opinião sobre alguma coisa.
Confesso que você me fez refletir...
Sinal dos tempos. Ou você está ficando melhor ainda ou eu estou envelhecendo...
abraços
The Big-Ben