Saturday, October 28, 2006

Business


Aqui estou de volta às minhas madrugadas solitárias.
Fui a uma feira de negócios, uma das maiores feiras de alimentos na Europa. Estas feiras são como desfiles de alta costura, servem além dos negócios para divulgarem as tendências mundiais no ramo. E a mega tendência é comer saudável. Entre as novidades uma espécio de margarina feita a partir de azeite de oliva, espetinhos de frutas para crianças, pacotes de legumes orgânicos em quantidade já balanceada para a mãe que não confia em potinhos e quer cozinhar a papinha do próprio bebê... E embalagens mais bonitas para quem compra com os olhos.
Negócios de algumas centenas de milhares e às vezes de alguns milhões de euros são fechados ali. A pressão é grande, minha receita para aguentar é Jack Daniels à noite e omeprazol pela manhã.
Há algo no entanto que me faz apreciar o ambiente. Pela experiência que a História nos traz, vemos que dificilmente povos que entretêm relações comerciais saudáveis entram em guerras uns com os outros. Estar ali ouvindo cinquenta línguas ao mesmo tempo dá uma certa esperança. Dezenas de nacionalidades diferentes estão ali tentando entrar em algum tipo de acordo, se entender, se conhecer melhor. Todo vendedor sabe que você consegue vender mais quando conhece quem está comprando. Meu chefe holandês me perguntou o que um holandês faz de diferente de um brasileiro nos negócios. Eu disse que o brasileiro é por natureza incapaz de dizer não. Se o holandês pechicha um preço, ou pergunta se aquele container será embarcado mesmo naquela data, o brasileiro mesmo sabendo que está mentindo diz que fará todo o possível, que vamos dar um jeito, ou que vamos conversar, ou que se Deus quiser tudo dará certo. Obviamente não dá certo e o holandês fica indignado.
O que eu disse não se aplica só aos negócios, o grande trauma dos brasileiros que vivem na Holanda é saber fazer a diferença do que é a mentira cordial e do que é falta de educação. Um holandês que pede para trocar o presente de aniversário que você acabou de dar acha que está sendo sincero, o brasileiro acha que ele é um grosso.
O comércio desde a aura da humanidade tem feito povos muito diferentes se entenderem uns com os outros. E eu acredito ainda que o livre comércio seja a ferramente mais eficaz na luta contra a pobreza. O fim dos subsídios agrícolas na Europa, Japão e nos Estados Unidos fariam mais pelo terceiro mundo do que toda a ajuda financeira enviada por esses mesmos países desde o fim da segunda guerra mundial.
Estive com gente de todas as nacionalidades e todas as personalidades. Vi um príncipe árabe comendo picanha brasileira, vi uma fazendeira rica se passando por manicure, vi ricos generosos e duros arrogantes. Mas vi que na hora do happy hour, quando brasileiros se abraçam com argentinos, americanos conversam com iranianos, europeus com africanos, o que todos percebem é que por trás de uma gravata também bate um coração. O que todos querem é se fazer entender.

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