Friday, October 20, 2006

Vermelhos e Azuis


Fui editar meu perfil no orkut, algo que eu tinha feito muito “nas coxas” e só depois de muitos meses é que fui lá olhar de novo.
Há um item a ser preenchechido que pergunta sua orientação política ou algo parecido. E dá as opções direita/conservador, centrista, esquerda/liberal.
É engraçado como quinze anos depois da queda do muro de Berlim ainda pensamos em esquerda e direita nestes termos.
Eu estudei agronomia nos anos 90 em Piracicaba (a melhor cidade do Brasil), na gloriosa Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Na faculdade, os estudantes se dividiam entre azuis e vermelhos. Pela cor vocês imaginam, mas a disputa ia muito além da ideologia capitalismo/socialismo. Os azuis defendiam a agricultura como um negócio, defendiam o uso de defensivos agrícolas, a mecanização e a modernização da agricultura, a venda de commodities pelo mercado de futuros. Os azuis davam trote nos bixos, moravam em repúblicas, andavam de calça jeans, botina e canivete.
Os vermelhos defendiam a agricultura orgânica (para eles não existe praga, existe inseto com fome), o MST e a fabricação de produtos artesanais em pequenas propriedades (queriam transformar o Brasil em um grande produtor de geléia e compota caseira). Vermelho morava na Casa do Estudante da USP, bancados pelo Estado, e eu que ia a pé do centro da cidade à Escola passava ali vendo os carrões no estacionamento deles. Os vermelhos consideravam o trote uma humilhação (devo dizer que os meus melhores amigos são os que conheci no trote). A vestimenta de vermelho eram sandálias havaianas e bolsa de tricô ou couro a tiracolo.
Bem, posso afirmar que o Brasil não se tornou uma potência agroindustrial pelas idéias dos “vermelhos”. Já deu para notar de que lado eu estava, mesmo não sendo nenhum fazendeiro rico? É claro que estes são estereótipos estúpidos, mas que dão uma idéia do clima de guerra na minha faculdade nos tempos de eleição para o Centro Acadêmico.
Quando vejo o Brasil hoje parece que estou vendo o país inteiro dividido entre azuis e vermelhos. Mas o que significam hoje esquerda e direita, liberal e conservador?
Para mim não há nada mais conservador do que ser de esquerda hoje. Defender a estatização de empresas privadas como a Bolívia fez, defender a política assistencialista do Bolsa Miséria, defender a censura à imprensa como na Venezuela ou em Cuba... O comunismo morreu e só esqueceram de enterrar na Coréia do Norte e na América Latina. Incrivelmente ainda há gente aqui que pretende fazer a revolução que a Rússia fez em 1917, e que deu errado. Mas ao mesmo tempo é esquerdista um governo que deixa os bancos tão felizes como o PT deixa? Será esta a esquerda liberal?
Me considero de direita porque me oponho à toda a ideologia socialista ou comunista ou marxista, pelos simples fato de que elas pretendem suprimir o indivíduo em prol do coletivo, o que é uma aberração. Pensar livremente é o dom que nos faz humanos, e eu não abro mão disso. Mas ao mesmo tempo me considero liberal, muito mais liberal do que qualquer esquerdista. E pelo menos não mando ao paredón quem discorda de mim.

3 comments:

Lúcia Laborda said...

Fernando, que bom que hoje temos esse direito a liberdade de pensamento e expressão. Assim, cada um defende aquilo que acredita.
Bom fim de semana pra você!
Bjs.

Lúcia Laborda said...

Ah Fernando, esqueci de agradecer sua visitinha. Obrigada, viu? Apareça! O espaço é nosso!
Bjs.

Flávio said...

Fernando, direita e esquerda, realmente, estão muito confusas aqui no Brasil. E não só elas... ;) Abraços, bom fds