Thimothy Garton Ash escreveu na New York Review of Books um impecável texto sobre o Islam na Europa, comentando os livros "Murder in Amsterdam" de Ian Buruma e "The Caged Virgin" de Ayaan Hirsi Ali. O livro de Buruma é sobre o assassinato do cineasta Theo van Gogh ocorrido em novembro de 2004. Van Gogh foi morto a tiros e punhaladas por Mohammed Bouyeri, um filho de imigrantes marroquinos de 26 anos.
O livro de Hirsi Ali, deputada holandesa de origem somali, é sobre a situação das mulheres nas comunidades islâmicas, livro que a levou a co-produzir com Theo van Gogh o filme Submissão. Este foi o filme que motivou Bouyeri a assassinar van Gogh, e o motivo de Hirsi Ali estar igualmente ameaçada.
Vocês já me viram falar neste blog tanto de Hirsi Ali como de Theo van Gogh, e sabem que os dois contam com minha inteira admiração e solidariedade.
O texto de Garton fala de um sentimento crescente de vitimização entre os muçulmanos no mundo. A situação no Iraque, Palestina, Afeganistão e o preconceito que sofrem no Ocidente só reenforçam este sentimento, e desperta a ira nos imigrantes que vivem nos guetos europeus.
Segundo Buruma, quando confrontados entre o Islam e o liberalismo de uma sociedade como a holandesa, a desorientação não é só cultural, passa a ser psíquica. Uma mulher imigrante ou um homem da primeira geração de imigrantes tendem a sofrer de depressão. Um homem de segunda geração de imigrantes tem dez vezes mais chances de desenvolver esquizofrenia do que um homem holandês.
Mohammed Bouyeri, o assassino de Theo van Gogh passou a noite de núpcias em seu apartamento com a noiva assistindo vídeos da Al Qaeda degolando infiéis.
O bilhete cravado com um punhal no corpo de Theo van Gogh dizia no final :
I know for sure that you, Oh America, will go down
I know for sure that you, Oh Europe, will go down
I know for sure that you, Oh Netherlands, will go down
I know for sure that you, Oh Hirsi Ali, will go down
I know for sure that you, Oh unbelieving fundamentalist, will go down
Ontem, um grupo de 5 jovens descendentes de marroquinos foi expulso de um cinema em Rotterdam. O motivo foi o de terem levantado e aplaudido na cena em que os aviões batem nas torres gêmeas do World Trade Center no filme de Oliver Stone. Há algo de podre no reino da Holanda. Muçulmanos existem vários, muitos, com diferentes crenças, diferentes interpretações do Al Coran, diferentes etnias. Os americanos estão aprendendo isso no Iraque da maneira mais dura. Libertos do terror de Saddam Hussein, xiitas e sunitas se enfrentam agora em uma guerra fratricida, que é não consequência da invasão americana e sim das diferenças internas ignoradas pelos americanos. Mas nunca é demais repetir que as primeiras vítimas do fundamentalismo islâmico são os próprios muçulmanos. Cabe aos europeus e aos ocidentais encontrarem uma forma de dialogar com o islam que aceita seus valores.
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Depois de eu ter escrito este post, uma amiga (a Clarisse que escreveu aí embaixo depois de passar umas semanas no Qatar) me mandou um excelente artigo escrito por Khalid Al Maaly no Berliner Zeitung sobre a "dupla personalidade" dos intelectuais islâmicos. Essa é a frese mais emblemática do texto: "The Arab intellectual behaves like a despotic father. No internal family matter may be exposed to the outside world; regardless of what the reality may be, a façade of unbroken unity must be maintained." Pois é, se nem nos intelectuais podemos confiar...Europe will go down.
Friday, October 20, 2006
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