Saturday, October 14, 2006

Tristeza não tem fim


Como se levantar da cama todo dia sabendo que você pode ser atropelado nos minutos seguintes? Como pensar que por uma série de erros estúpidos seu avião tem uma chance em milhões de bater em outro em pleno céu amazônico? Como por seu filho em um ônibus sem saber se um cretino virá se explodir ali perto?
Viver é muito perigoso como diz o jagunço Riobaldo em meu Grande Sertão Veredas...
Eu me lembro do filme The Village, de M. Night Shyamalan onde os personagens se isolam do mundo para fugir ao caos, e mesmo assim não escapam ao inevitável.
Lembrei desse filme ao assistir o crime ocorrido na comunidade Amish na Pennsylvania. Os Amish resolveram se isolar do mundo exterior (habitado pelos que eles chamam de “os ingleses”) e de repente o mundo exterior os atinge com um crime brutal como a morte das crianças na escola.
Infelizmente não temos bola de cristal nem nada que nos afaste do sofrimento. Li esta semana uma entrevista de Boris Cyrulnik, neuropsiquiatra francês. Seu pai foi morto na Legião Estrangeira, sua mãe, judia, presa e deportada para a Alemanha nazista. Boris passa por orfanatos e trabalhos no campo até reencontrar a tia em Paris. Aos onze anos ele nunca pôs os pés na escola. Quinze anos mais tarde ele será psiquiatra. De carne e alma, seu livro mais recente divulga seus estudos sobre a anatomia do cérebro e suas relações e combinações com o que chamamos o espírito humano.
Falando sobre felicidade, Boris Cyrulnik em sua entrevista diz que na verdade não há como viver sem sofrimento. Nas nossas vidas formamos bases de segurança com família, religião, lembranças e experiências. Todos os dias saímos dessa base para experiências novas, para submetermo-nos a novos riscos. A felicidade vem seja desta busca, seja na volta à nossa base de segurança.
Uma criança mimada, um fanático religioso ou alguém que se isola do mundo para se sentir sempre em segurança estará condenado à infelicidade ao reencontrar o mundo real. A felicidade existirá nas nossas vidas quando achamos caminhos para enfrentar e ultrapassar o sofrimento, não ao tentar nos isolar dele.

1 comment:

Flávio said...

Não conhecia o pensamento do Boris, mas sempre concordei com as 4 Grandes Verdades do Budismo, quanto à relação entre os nossos desejos e os nossos sofrimentos. :)