Tuesday, February 05, 2008

Charlie Wilson's War


Olavo de Carvalho disse uma vez, falando da KGB, que analistas se preocupavam muito em encontrar causas histórico-sociais anônimas para qualquer tipo de conflito esquecendo-se muitas vezes das ações concretas de grupos e indivíduos de carne e osso.
Charlie Wilson com certeza é um desses indivíduos. On the good side.
No filme de Mike Nichols (o mesmo de Closer), o deputado americano é interpretado por Tom Hanks, que lhe dá um ar mais do que simpatico. Conhecido pelos colegas como Good Time Charlie, o deputado era um daqueles politicos texanos apreciador de whiskey e mulheres, e sem muito o que fazer, já que as únicas coisas que seus eleitores ricos desejavam dele eram poucos impostos e o direito ao porte de arma. Até que uma guerra lhe caiu nas mãos (alguma semelhança com George W. é mera coincidência).
Em 1980 tropas soviéticas já estavam no Afeganistão destruindo aldeias inteiras com seus superhelicópteros MI-24. Milhares de refugiados atravessaram a fronteira paquistanesa para fugir dos soviéticos. Charlie Wilson, Joanne Herring (Julia Roberts), uma texana milionária com contatos no Paquistão e Gust Avrakotos (Philip Seymour Hoffman ótimo), um espião desajustado da CIA acabam se juntando para ajudar e financiar a resistência afegã . Jimmy Carter já tinha autorizado operações secretas da CIA no Afeganistão, mas foi Charlie Wilson quem conseguiu desbloquear um enorme orçamento para armar os mujahedeen afegãos contra os tanques e helicópteros russos. Wilson teria convencido seus colegas no Congresso a apoiaream a causa dos afegãos dizendo ''The U.S. had nothing whatsoever to do with these people's decision to fight ... But we'll be damned by history if we let them fight with stones."
O filme traz diálogos impagáveis entre Tom Hanks, Julia Roberts e Philip Seymour Hoffman. Quando Gust Avrakotos informa Charlie Wilson de que ele era o espião encarregado do Afeganistão, Wilson diz ''Você não é exatamente um James Bond'' ao que Gust responde ''E você não é Thomas Jefferson, so we call it even...''. É quase uma comédia não fosse o trágico pano de fundo da história.
Pelo filme temos a impressão de que os americanos tratam esses assuntos com uma leviandade quase inconsequente. Ou como se tudo pudesse ser resolvido com decisões fáceis e práticas. O fato é que a cada helicóptero russo caindo lá estamos nós a torcer pelos mujahedeen, pintados como heróicos resistentes (não é a primeira vez, Rambo III de 1988 é dedicado To The Elegant People of Afeghanistan). A retirada soviética de 1989 certamente apressou o colapso soviético, e em última instância o fim da Guerra Fria. Mas, como o próprio Charlie Wilson reconheceu, We've been there and we have fucked it up.
Após o fim da invasão, o Afeganistão era um país destruído com metade da população abaixo dos 14 anos de idade. Os EUA foram capazer de doar milhões de dólares para a compra de armas mas não para a reconstrução do país. Os mujahadeen, lutando entre si pelo poder começaram uma guerra civil quer terminou com a ascensão do Taliban e da Al Qaeda ao poder. E depois veio 11/09 e lá estão os americanos no Afeganistão de novo.
Charlie Wilson's War traz implícita uma lição que deveria ter sido melhor observada pelos americanos pós-Carter. O maior problema dos Estados Unidos não é entrar em uma briga, e sim sair dela. A cada vez que os americanos se retiraram de um conflito, seja no Afeganistão, no Líbano ou no Iraque (Bush I), as consequências foram piores do que o conflito em si.
Eles deveriam ter cuidado com o discurso democrata de forçar uma retirada do Iraque. O que está ruim com eles vai ficar bem pior sem eles.

3 comments:

Ricardo Rayol said...

Tirando a citação OC, é uma lição de política internacional muito interessante.

Frodo Balseiro said...

Fernando
Use e abuse do Link!
Abs
frodo

Lelec said...

Também aprecio certas opiniões do Olavo de Carvalho, assim como do Reinaldo Azevedo, sobretudo as análises políticas. (Contudo, quando eles se põem a falar sobre religião, aí é melhor ir fazer outra coisa.)

Bem, creio que no caso do Afeganistão não se pode falar que houve uma presença norte-americana nos anos 80, tal como ocorre hoje. Aconteceu o fornecimento de armas às milícias, mas não uma ocupação, como no Iraque atual. Assim, penso que não se pode relacionar a imediata instabilidade política do país no pós-89 à "saída" dos norte-americanos, pois eles nem sequer haviam "entrado" como Estado.

Isso posto, concordo que há muitos elementos para que se pense que a situação do Iraque piorará muito após a saída dos EUA.

Abraço,
Lelec