Hoje almocei um hamburguer. Normalmente os holandeses não almoçam. O almoço holandês é um pão com queijo e no máximo uma sopinha daquelas em pó que se dissolve na água quente. Eu, como estou no trabalho e não há um restaurante num raio de 10km tenho que me sujeitar aos hábitos do país. Normalmente levo um sanduíche de casa, mas hoje não deu.
Fui até a máquina automática que tem hambúrgueres congelados e pus 1 euro e cinquenta centavos. O hamburger cai no buraco, você pega e põe no microondas por 1 minuto e meio. O pão fica meio mole, o catchup muito quente e aquela carne de dentro adquire uma textura e cor indefiníveis, longe de qualquer semelhança com o que se esperava de um pedaço de carne moída. Esse foi meu almoço, engolido de pé e às pressas.
Minha janta eu que fiz. Fiz batatas no forno com manjericão, cebolinha, azeite, pimenta do reino e sal. Fritei pedacinhos de lombo de cordeiro novo desossados no azeite, e fiz um molho de échalottes, vinho, mel, limão siciliano e pasta de azeitona preta. Cozinhei vagens na água e sal. Pus a carne, as batatas, a vagen e o molho por cima no prato. Joguei por cima pignollis, um pouco de queijo parmesão ralado e pimenta verde espanhola picada. Jantei com um vinho tinto de Bordeaux e ouvindo Billie Holiday cantar. E me senti como se estivesse jantando no Palácio dos príncipes de Monaco.
Uma grande vantagem de se morar aqui é o acesso fácil aos melhores ingredientes do mundo, o que faz possível que um analfabeto culinário como eu possa ter pretensões de chef por breves instantes.
Há um tempo atrás descobri um movimento chamado Slow Food (veja www.slowfood.com), um movimento destinado a proteger e preservar os prazeres da mesa.Aderi imediatamente. É um contra senso que a modernidade nos obrigue a comer pior do que comíamos há cem anos. Culinária é uma arte, parte da cultura de cada povo, de cada região. Deve ser estudada e experimentada a fundo como se estudam monumentos históricos.
Nos dias de hoje querem nos transformar em máquinas produtivas de alto rendimento, nos fazendo esquecer que o objetivo de se produzir mais era justamente ter mais tempo para aproveitar a vida. Recuso-me. Toda vez que eu puder, comerei como um rei. Viva a slow food.
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