Cheguei à conclusão de que sou como uma cebola. Minha alma tem várias cascas, várias camadas...Quem não me conhece só vê a de fora, não sabe nada de mim, já que não falo nada. Os que gosto mais já sabem um pouco mais, já falo um pouco. Eu falo com quem eu acho que me entende. O problema é que a maioria das pessoas se preocupa mais em falar do que em ouvir. Eu falo com quem me ouve. Com quem entende o que digo e me responde de volta. Quanto mais me entendem mais eu deixo me descobrirem, me “descascarem”.
Aos que acredito que não são merecedores não digo nada. Seria isso arrogância minha? Por isso decidi escrever. Prefiro a escrita à fala porque é muito mais clara. Tenho certeza de que quem me lê me entenderá, e melhor, não tem como me cortar a fala. Assim, democraticamente elejo todos os que me lerem como merecedores da minha confiança.
Mas mesmo se ninguém me lesse eu continuaria escrevendo, porque a finalidade deste blog não é me deixar conhecer por quem nào me conhece.
Vivo (ou vivemos) hoje nadando para fora de um redemoinho de mediocridade. Pegamos o carro, vamos ao trabalho, voltamos para casa, comemos, assitimos televisão e dormimos. Trabalhamos sob a pressão da eficiência a todo custo. Vivemos a vida dos outros nas séries da TV e assistimos à propaganda que nos faz desejar coisas que antes nem sabíamos que existiam.
Não quero. Escrevo para me lembrar das coisas de que gosto na vida. Quero escrever sobre os livros que leio, sobre arte, sobre música, sobre cinema, sobre pratos que comi, lugares que conheci.
Quero escrever sobre o mundo, defender os valores que amo, o pensamento, a liberdade, a democracia, o respeito à vida, à humanidade.
Quero escrever todo dia para que nunca me esqueço de tudo o que me faz continuar vivendo. Não quero me tornar um sociopata, um couch potato, another brick in the wall, estupidificado pelo excesso de comida e de televisão.
Quero entender o mundo, quero domingos de tango e de sexo tântrico, culinária javanesa e pinturas mexicanas, não de programas de auditório. Quero amigos à mesa, vinhos portugueses, charutos cubanos, música espanhola. Não quero ler a Caras. Quero fazer amigos na Islândia, subir o Kilimanjaro, escutar Diana Krall cantar. Não quero hambúrguer do Mac Donalds.
Quero ver estrelas cadentes dando um beijo, nadar nu à meia noite em uma praia. Não quero testes de colesterol.
Preciso escrever para não me esquecer disto. Porque, como dizia Raul, além das cercas embandeiradas que separam os quintais, no cume calmo do meu olho que vê, assenta a sombra sonora de um disco voador.
Sunday, February 26, 2006
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