Sunday, February 26, 2006
Munich
Assisti ontem ao filme “Munich”, de Steven Spielberg. O filme conta o massacre dos atletas israelenses feitos reféns durante a Olimpíada de 72 por terroristas palestinos do Setembro Negro, mas enfoca mesmo a caçada humana empreendida pelo Mossad que sucedeu ao episódio.
Um grupo de agentes liderado por um certo Avner Kauffman é encarregado de eliminar uma lista de nomes envolvidos de certo modo com o sequestro de Munique.
O filme é fantástico, mas não é uma reconstituição fiel aos fatos. Esta seria impossível de ser feita já que quem sabe tudo o que aconteceu não pode falar. Spielberg baseou-se num livro “Vingança” de George Jonas. Ex-agentes do Mossad e membros dos serviços de segurança de Israel criticaram duramente Spielberg e seu filme, primeiro por considerarem que o filme questiona o direito de Israel se defender, e segundo porque não concordam com os fatos nele apresentados.
Mesmo em se tratando de uma obra ficcional, baseada apenas nos fatos acontecidos, tudo isso é irrelevanto perto da verdadeira questão que o filme propõe: até que ponto podemos justificar a vingança de um ato de barbárie com outro ato de barbárie?
É nesse dilema que vivem judeus e palestinos desde sempre na disputa por uma pátria. Jean daniel cita na Nouvel Observateur uma frase de Golda Meir, que não é dita no filme, mas que resume o sentimento dos judeus a essa questão. Ela diz “eu detesto os palestinos porque eles matam nossas crianças, mas eu os detesto ainda mais porque eles nos obrigam a matar as deles”.
No filme, os agentes encarregados da lista da morte que começam a missão com a sensação de cumprir um dever por seu povo e sua pátria terminam questionando se com esse método não estariam eles mesmo perdendo sua alma. E numa emblemática cena final, Avner faz amor com sua mulher pensando em morte, na morte dos reféns.
O fato é que palestinos e judeus comportam-se como tribos num mundo de multiculturalismo e globalização onde a cada dia tribos são menos significantes. Não há e nunca haverá paz no final dessa vendetta eterna em que se meteram, onde cada ato bárbaro precisa ser respondido com outro pior, onde a cada líder assassinado surge um substituto, com mais raiva e mais intolerância.
Tem que haver outra maneira.
Era uma vez um outro país, onde duas tribos, uma opressora, outra oprimida, viviam separadas por cercas, muros e barreiras, com medo e ódio mútuos.
Um dia a tribo opressora foi forçada a derrubar as barreiras. E nesse país havia um homem. Um homem que conseguiu com um discurso de tolerância e reconciliação evitar que o país caísse no abismo da guerra civil. Esse país era a África do Sul, e esse homem era Nelson Mandela.
Um exemplo foi dado. Embora as feridas custem a cicatrizar, tempo e tolerância são os melhores remédios. Vingança olho por olho só tem a morte no final.
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