Friday, February 01, 2008

Troféu moto-serra


No ano passado, meus amigos, todos agrônomos, fizeram uma votação pela internet para ver quem ganharia o troféu moto-serra do ano. Blairo Maggi, rei da soja e governador do Mato Grosso ganhou disparado.
Nossa votação de brincadeira acaba de ser confirmada pelos dados do INPE sobre desmatamento, o estado governado por Maggi encabeça a lista dos que mais desmatam no Brasil. Ele contestou e diz que os dados do INPE precisam ser revisados. Mesmo assim, esses dados e as reportagens de Miriam Leitão (O Globo), Rodrigo Vargas, Fábio Zanini e Maria Clara Cabral (Folha de S.Paulo) revelam outras coisas interessantes:
- quando Lula anunciou em setembro passado que a taxa de desmatamento tinha diminuído, o governo já sabia que ela tinha aumentado outra vez ;
- os partidos da base governista , PT, PR e PMDB controlam 81% das cidades com os maiores índices de desmatamento ;
- Dos 28 chefes estaduais do IBAMA, 22 são do PT, além do presidente do órgão;
- Uma medida provisória de 2001 estabelece uma reserva mínima legal de 80% da área de propriedades situadas na região amazônica, uma lei que obviamente não é obedecida, nem mesmo por propriedades agrícolas que recebem financiamento do governo através do Banco do Brasil. Ou seja, o governo federal anda financiando o desmatamento ;
- São na média, 900 caminhões por dia, 365 dias por ano, carregados de madeira ilegal que vão para o sudeste. De lá, a madeira é vendida no Brasil e no exterior.
Ninguém desmata a Amazônia por diversão, desmata-se por dinheiro, e muito dinheiro. Quem disse que dinheiro não dá em árvores? Um madeireiro não vê uma floresta, vê uma pilha de grana ali dando sopa, é só entrar e pegar.
É claro que depois de desmatada e queimada, a terra troca de donos e acaba virando pasto. Em uma zona com baixíssima infra estrutura, a pecuária extensiva acaba sendo a atividade mais fácil de ser implementada. Qual a outra alternativa que a população ali tem de obter renda?
O boi vai entrando na Amazônia, e isso dá origem a um outro mito, o de que o Brasil estaria destruindo a floresta para exportar mais carne. É mentira. O Brasil tem 11% de terras disponíveis para a agricultura em outros lugares, fora da Amazônia, de reservas indígenas e parques nacionais. Nenhum outro país tem essa vantagem, diga-se de passagem. Fora que o Brasil ainda tem muito a ganhar em produtividade nas áreas já plantadas por simples aplicação de técnicas agronômicas e zootécnicas.
O boi na Amazônia é consequência do desmatamento, e não causa.
A lei existe para deter o desmatamento, o que não existe é controle, competência, vontade política para fazer prevalecer o estado de direito naquela no-man's-land que é a fronteira agrícola. O troféu moto-serra não é de Blairo Maggi só, é para ser dividido entre todo o governo, incluindo Lula e Marina Silva.
São 900 caminhões por dia que passam despercebidos à fiscalização ? Não é um diploma de incompetência ? O governo não sabe onde se está desmatando ? Mentira. Até eu posso ver onde estão desmatando pelo Google Earth...Procure lá Alta Floresta ou São Félix do Xingu, dá para ver cada clareira na selva...
Uma clareira dessas não se faz em alguns dias, os madeireiros passam pelo menos dois anos retirando toras dali. Tempo mais que suficiente para que as clareiras sejam detectadas por satélites e que os criminosos sejam presos em flagrante.
Se o governo está sem idéias, deveria escutar o que a oposição tem a dizer sobre o assunto. César Maia sugere além do uso de satélites, a criação de uma secretaria vinculada ao Ministério da Defesa e o uso das nossas Forças Armadas na proteção da floresta. Porque não? Estariam eles muito ocupados nos quartéis ?E é claro, apreensão e punição para todas as empresas que transportam, comercializam ou usam madeira ilegal. Não sabem quem são? Sugestão, comecem procurando nas grandes empresas construtoras de São Paulo.
Por pura estupidez, estamos deixando que destruam a maior floresta tropical do planeta e teremos que responder por isso às gerações futuras.

3 comments:

Lelec said...

Não sei se você viu, mas um colunista da Folha de SP publicou nessa semana um artigo em que defende que a Amazônia seja gerida por uma entidade internacional, com dinheiro e poder para garantir sua preservação.

O argumento foi contundente: diz que é uma balela pensar que a Amazônia é do Brasil. Não é, pois as leis brasileiras não chegam lá e se trata de um espaço onde a ausência do Estado é óbvia. A Amazônia, hoje, não pertence ao Brasil: pertence a uma corja de corruptos e salafrários.

Ele tem razão. Começo a concordar que um organismo responsável tome conta da Amazônia. Caso contrário, ela desaparecerá. Simples assim.

O que acha?

deboraHLee said...

Fernando,

Como morei na Amazônia, sei muito bem que lá o comércio de madeira é a coisa mais tranqüila e menos fiscalizada que possa existir. Exemplo bobo: chega num marceneiro em Belém e pede para ver com que madeiras amazônicas ele trabalha. Estão todas lá, expostas, sem cerimônia, sobretudo, aquelas que os gringos tanto gostam...

E, mesmo sendo vegetariana (apesar de não ser uma consumidora voraz de soja: mantive meu bom paladar, amém!), não sou hipócrita. Jamais iria contra o argumento/evidência de que as plantações de soja estão ampliando em muito o espaço que era utilizado para o pasto, no pós-desmatamento. Ou seja, os caras ganham duas vezes: primeiro, com a grana da madeira; depois, com a grana do gado e/ou da soja. É a farea do boi mesmo!

bises.

Alma said...

Bem, o pessoal lá usa o boi e a soja como fonte de renda simplesmente porque não é oferecida nenhuma outra opção para gerar renda ali sem destruir a floresta.
Pode até ser que algum organismo independente pudesse resolver o problema, mas seria uma agressão à nossa soberania. O diabo é que o Brasil nem tentou...Não é tão difícil assim, falta é vontade. Precisamos de um lado melhorar a vigilância e fiscalização e do outro estudar alternativas para aproveitar a floresta sem destruí-la.