Sunday, February 26, 2006

Amo Jenny


Eu adoro cinema. Como já disse o cinema é minha droga, meu vício. Duas a três horas de viagem garantida sem efeitos colaterais. E já vi muitos filmes que gostei, dífícil escolher o melhor.
Mas se me perguntassem eu diria que meu filme preferido é Forrest Gump.
Já li muitas críticas idiotas a respeito de Forrest Gump, do tipo que diz que o filme é uma apologia à idiotice.
Para mim não, principalmente porque meu personagem favorito no filme não é Forrest, e sim Jenny.
Forrest tem uma visão simples da vida, é incapaz de perceber muito à sua volta. Ele atravessa um dos períodos mais conturbados da história americana assistindo de perto a seus episódios mais marcantes como a Guerra do Vietnã, Watergate, os protestos de ativistas civis em Washington...Encontra presidentes, John Lennon, joga no time de estrelas do futebol americano, é dos primeiros americanos a visitar a China comunista. Forrest passa incólume por tudo, sem perceber nada e ainda fica rico sem querer.
Jenny não. Num mundo louco e violento ela viaja, se perde, erra, experimenta, encontra-se e perde-se de novo. Jenny é demasiado humana.
Ninguém, a não ser um idiota, atravessa uma vida recheada de eventos tão perturbadores sem se alterar, sem nada perceber. Forrest sempre consegue estar em paz. Jenny nunca, só depois de apanhar bastante da vida.
E esse é o ponto onde eu queria chegar com esta crônica. O mundo em que vivemos não nos deixa em paz. Ainda mas este mundo onde a informação nos chega com a velocidade da luz de todas as partes do mundo. A felicidade nos é impossível. Como ser feliz com o tsunami, Katrina, terremotos, massacres, guerras e epidemias? Como ser feliz depois de Rwanda, Vukovar, Carandiru, Aids? Como ser feliz assistindo fanáticos dilapidando mulheres, queimando infiéis, destruindo liberdade? Para mim é impossível. Só os idiotas e sociopatas poderão ser felizes. Fechem os vidros blindados, ergam os muros, ligue a televisão, tranquem as fronteiras, deixem esse barulho todo do lado de fora. Os que não nascem idiotas arranjam meios para se fazerem de. (Agora me lembrei de The Village, de M. Night Shyamalan).
Nunca serei feliz porque não consigo ignorar essa angústia que me causa o mundo. Porque como disse Terencio “sou humano, e nada do que é humano me é estranho”. Num mundo em dor, a dor dos outros também é a minha. Terei sempre que me contentar com migalhas de felicidade, feitas de momentos onde se esquece o resto e se vive o ali e o agora. Um beijo, um sorriso, um prato bom, um copo, uma música. Migalhas, nada mais nos será dado.

1 comment:

Anonymous said...

Caramba!Chorei!!!
Muito Bom..Nunca tinha parado pra ver a Jenny com esses olhos!